quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Santa Eusébia de Marselha, monja - 30 de setembro


Sarcófago de Sta. Eusébia na Abadia de São Vitor
Martirológio Romano: Em Marselha, na Provence, França, Santa Eusébia, virgem, que serviu Deus fielmente da juventude à velhice. 

     No século V, a Igreja de Marselha se expandiu, conforme História de Marselha, pg. 5: “... comunidades religiosas que nos dão a conhecer inscrições funerárias, a de Eusébia, por exemplo, cuja história é pouco conhecida. Há desenvolvimentos legendários posteriores (séc. VII ou IX) que falam de uma Eusébia que viveu no Mosteiro de Saint-Cyr, do qual foi abadessa por 40 anos”.
     Na Abadia de São Vitor de Marselha encontramos um sarcófago de Santa Eusébia.
     A Abadia de São Vitor, segundo a tradição, foi fundada no século V por São João Cassiano, nas proximidades dos túmulos dos mártires de Marselha, entre os quais São Vitor de Marselha († em 303 ou 304), que lhe deu seu nome.
     Após um longo período junto aos monges anacoretas do Egito, Cassiano chegou a Marselha em 416, trazido provavelmente pelo Bispo de Aix, Lázaro, que ele havia encontrado na Palestina no Concilio de Diospolis.
     A Abadia por ele fundada foi um dos primeiros mosteiros masculinos; ao mesmo tempo, João Cassiano fundou o Mosteiro de São Salvador, feminino. Ambos serviram de modelo para o desenvolvimento do período monástico ocidental. No mosteiro de Marselha estudaram vários teólogos relativamente brilhantes, dentre eles se destacam Vicente de Lérins e Fausto de Riez.
     Cassiano permaneceu em Marselha até sua morte em 433 ou 435. Ele teve discípulos e escreveu importantes obras que serviam de regra de vida e de base para reflexão àqueles que ele atraia para a vida monástica. São as Instruções cenobitas ou as Conferências dos padres. Suas obras foram recomendadas por São Bento a seus discípulos.
     Como não temos maiores informações sobre Santa Eusébia, podemos conjecturar que ela tenha sido discípula dos monges da Abadia de São Vitor, viveu no mosteiro feminino fundado por João Cassiano, e aproveitou enormemente das obras do fundador, pois sua virtude a manteve fiel até o fim da vida, conforme menciona o Martiriológio Romano: “serviu Deus fielmente da juventude à velhice”. Santa Eusébia faleceu no ano 497.
     A Abadia de São Vitor ganhou uma importância considerável no primeiro milênio por sua influência em toda a Provence. A era de ouro do mosteiro foi 950 – 1150. Em meados do século XII até o século XIII enfrentou uma crise. Um de seus abades, Guilherme de Grimoard, foi eleito papa em 1362 sob o nome de Urbano V.
     Nos séculos XV e XVI, a Abadia de Saint-Victor entrou em um processo de decadência que levou a seu abandono.
     Em 1966, a Sra. Suzy Fouchet criou uma associação que tem por objetivo promover a renovação de Saint-Victor e organizar duas ou três vezes por ano atividades artísticas, culturais ou arqueológicas. 
Abadia de São Vitor


domingo, 25 de setembro de 2016

Beata Beatriz de Castela, Rainha, mercedária - 25 de setembro


Túmulo da Beata no Mosteiro Sancti Spiritu, Toro, Espanha
 

     Da. Beatriz de Portugal era filha do rei D. Fernando I de Portugal e de sua esposa, a rainha Da. Leonor Teles. Ela nasceu em Coimbra em fevereiro de 1373 e faleceu em Toro, Espanha, após junho de 1412.
     No início de 1383 a infanta Da. Beatriz era a única descendente do rei D. Fernando, já então muito doente, após a morte prematura dos seus irmãos mais novos D. Pedro, em 1380, e D. Afonso, em 1382. Como herdeira do trono, o seu casamento aparentemente iria decidir quem havia de ser o sucessor de D. Fernando.
     D. Fernando arranjou e cancelou o casamento de Beatriz por diversas vezes, até que finalmente, tentando evitar que um príncipe castelhano, D. Fernando, filho segundo do rei de Castela, lhe sucedesse no trono por força do Tratado de Elvas, pensou encontrar a solução, por mais estranho que nos pareça, no casamento da sua única filha e herdeira com o próprio rei João I de Castela. Viúvo desde o ano anterior de uma princesa aragonesa, João de Castela aceitou, crendo que lhe estava aberta a via para anexar o reino de Portugal ao de Castela e Leão. O respectivo tratado de matrimônio e sucessão ao trono de Portugal foi negociado em março de 1383 em Salvaterra de Magos, e a cerimônia final do casamento teve lugar a 17 de maio de 1383 na cidade fronteiriça de Badajoz. Da. Beatriz tinha então apenas 10 anos e cerca de 3 meses de idade.
     Posteriormente João I de Castela persuadiu Da. Leonor Teles a renunciar à regência e a ceder-lha, a si e à sua esposa (uma criança então de cerca de 11 anos), “e foi feita a escritura em que renunciou a todo o direito do regimento que havia de haver no reino, e o pôs em ele e em sua filha”, diz-nos Fernão Lopes. (Crônica de el rei D. João I, cap. LXV)
     Segundo alguns historiógrafos muito posteriores, Da. Beatriz teria dado à luz um bebê, Miguel, que morreu em 1385. Tal tese foi defendida em Portugal por Salvador Dias Arnaut. Mas nos cronistas da época, por exemplo, em Fernão Lopes e Pero Lopez de Ayala, nenhuma referência é feita ao nascimento desse quimérico Infante que teria falecido em muito tenra idade. Aliás, Lopez de Ayala, que conviveu com João I de Castela e Da. Beatriz, é peremptório: além de Henrique III e do “Infante Dom Fernando, filho do Rei Dom João... el Rei Dom João não houve outros filhos legítimos nem em outra maneira em nenhum tempo, salvo uma infanta de que morreu a Rainha Dona Leonor, sua mulher, depois de parida” (Crônica do Rei Dom Henrique III, ano terceiro, capítulo XXV).
     Tendo enviuvado em 1390, Da. Beatriz veio a residir em Toro. Aí seria sepultada no convento de São Francisco. A Beata Beatriz muito fez pela Ordem dos Mercedários e a honrou com sua vida de grandes virtudes.
     O seu falecimento ocorreu posteriormente a meados de 1412, altura em que temos a certeza que ainda era viva, pois conhece-se uma carta sua a Fernando I de Aragão em que lhe pede ajuda para o restauro daquele convento.
     A Ordem a festeja no dia 25 de setembro.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Beata Bernardina Maria Jablonska, Fundadora - 23 de setembro

    
     A Irmã Bernardina Maria Jablonska nasceu no dia 5 de agosto de 1878, na pequena aldeia de Pizuny em Narol, na Diocese de hoje de Zamoœæ Lubaczów. A beleza de sua paisagem nativa teve uma grande influência em sua mente sensível e ajudou a formar uma personalidade gentil e propensa à graça de Deus.

     Viva, inteligente, cheia de alegria, cresceu cercada pelo amor dos pais, permanecendo por um longo tempo única filha. Seus pais eram pequenos proprietários respeitados e estimados pelos seus vizinhos. Como a escola ficava distante de sua casa, os pais confiaram-na a professores particulares.
     Aos 15 anos, sua infância feliz foi subitamente interrompida pela morte de sua mãe. A menina mudou completamente, ela se sentiu sozinha e perdida, evitava a companhia de seus parentes, se apartava buscando a solidão.
     A mãe, profundamente religiosa, teve uma grande influência sobre a filha, transmitindo-lhe de um modo especial a veneração do Santíssimo Sacramento e a afeição filial à Mãe de Deus.
     Morta a mãe terrena, com todo o ardor do seu coração jovem agarrou-se à Mãe celeste. Uma capela pequena na borda da floresta, com uma imagem da Imaculada, onde a menina sempre levava buquês de flores silvestres, tornou-se o local favorito de suas meditações. Lá, ela confiou a Maria os problemas de sua jovem vida. Além disso, ela dedicava muito tempo à adoração do Santíssimo Sacramento na igreja de Lipsk, onde ela tinha sido batizada.
     Ela lia muito, especialmente a vida dos santos. Mais e mais ela se aproximava de Deus, cuja chamada ela sentia no fundo de sua alma, e facilmente O encontrado na beleza da natureza, na solidão, em seu coração. Ela desejava uma vida dedicada totalmente a Deus no silêncio do convento, então ela começou a praticar várias mortificações aprendidas nos livros.
     O momento decisivo foi seu encontro com o Irmão Alberto no festival Horyniec, em 13 de junho de 1896. Ela decidiu entrar na sua Congregação fundada há pouco, pensando que era uma ordem monástica. O pai se opôs a decisão da filha, portanto, Bernardina, uma vez adulta, secretamente deixou a casa e foi para Brusno, onde ficava a ermida das Irmãs Albertinas. Quando o Irmão Alberto perguntou sobre a razão para sua decisão, ela disse pertencer a Jesus Cristo e por amá-Lo tanto.
     Ela precisava dar uma demonstração desse amor, tão jovem foi enviada para o primeiro teste no hospital para os sem-teto em Cracóvia. Ela encontrou-se em um ambiente completamente desconhecido para ela. Até então os pobres eram para ela um velho vagabundo a quem ela oferecia uma refeição quente e uma boa palavra em troca de suas histórias de um mundo distante. Ela não sabia nada da miséria física e moral da cidade grande. Ela queria silêncio e oração e ela encontrou-se de repente em uma casa cheia de gemidos de doentes, gritos dos doentes mentais, insultos vulgares de pessoas marginalizadas que insistentemente pediam ajuda. Ela estava tão perturbada que imediatamente quis desistir de tudo.
     Frei Alberto olhava, explicava e, acima de tudo, ensinava pelo exemplo que essas pessoas não apenas precisavam serem servidas, mas acima de tudo serem amadas como Cristo sofredor e desprezado. Isto era muito difícil, mas o amor fascinante previa o cume da santidade. Só o Senhor sabe o quanto ela teve de sofrer, as suas batalhas internas, como muitos sacrifícios ela tivera que enfrentar. O momento crítico chegou no Sábado Santo, em 1899, quando ela pensou que já não podia sequer levantar-se por um momento.
     Então Frei Alberto escreveu para ela o ato heroico de confiança em Deus, que Bernardina assinou depois de rezar por um longo tempo.
     Dou a Jesus Cristo a minha alma, a minha mente e tudo o que possuo. Ofereço a minha pessoa com todas as dificuldades interiores, os tormentos e os sofrimentos espirituais, todas as humilhações e desprezos, a todas as dores do corpo e as doenças. Em troca não desejo nada nem agora nem depois de minha morte, porque faço tudo isto por amor de Jesus Cristo”.
     A partir desse momento, pararam as dúvidas e soube manter a sua palavra e o Senhor magnanimamente levou-a através do misticismo às alturas da contemplação.
     Frei Alberto, apreciando seus grandes dons, em 1902 a nomeou, com apenas 24 anos, a primeira superiora geral da Congregação das Irmãs Albertinas. Ela desempenhou esta função até sua morte, aclamada sempre nos capítulos gerais. Foi uma verdadeira mãe para as Irmãs e para os pobres.
     Depois de uma longa vida cheia de sofrimento morreu em 23 de setembro de 1940 e foi enterrada no cemitério de Rakowicki em Cracóvia.
     Em seu testamento, ela escreveu para as Irmãs: "Façam o bem a todos". Seu culto começou a se espalhar desde o início, aqueles que a conheceram recorriam a ela também depois de sua morte, com a profunda convicção de que ela poderia fazer muito com a sua intercessão junto a Nosso Senhor. As graças recebidas ampliaram o círculo de seus admiradores.
     Em 23 de maio de 1984, a Congregação das Irmãs Albertinas apresentou a Cúria Arquidiocesana de Cracóvia, nas mãos do Cardeal Franciszek Macharski, um pedido para iniciar o processo de informação sobre a Irmã Bernardina Jablonska.
     Ao mesmo tempo, seus restos mortais foram transferidos do cemitério para a Igreja de Ecce Homo de Cracóvia, que também abriga as relíquias do Irmão Alberto. Em 25 de abril de 1986, a documentação foi enviado a Roma e já no dia 3 de maio de 1986 o processo de canonização foi aberto formalmente na Congregação para as Causas dos Santos, em Roma. A segunda etapa do processo foi o anúncio do decreto sobre o heroísmo de vida e das virtudes da Serva de Deus Irmã Bernardina, em 17 de dezembro de 1996.
     No dia 6 de junho de 1997, João Paulo II a proclamou Beata em Zakopane durante sua viagem apostólica à Polônia.
A espiritualidade e a santidade de Irmã Bernardina
     Irmã Bernardina tinha herdado de seus pais duas qualidades de caráter muito importantes que desenvolveu ao longo de toda a vida e alcançou uma dimensão rara.
     De sua mãe herdou uma bondade delicada e do pai uma vontade forte e determinada. Quando Deus predestina alguém para uma missão extraordinária geralmente concede a capacidade inata que predispõe maravilhosamente para a tarefa. A vida dos santos é expressa em duas direções: a vida interior e a atividade exterior, as proporções são mantidas.
     Na base da vida interior da Irmã Bernardina, bem como de suas atividades, encontramos amor e sofrimento. Nosso Senhor a provava, mas ela manteve suas promessas. Em troca deste imenso sacrifício Ele lhe deu a capacidade de amar com amor misericordioso toda miséria humana na medida do Seu Coração Divino.
     Ela rezava intensamente, especialmente à noite, porque durante o dia estava envolvida nas atividades da Congregação e com os pobres. Ela passava muitas horas diante do SSmo. Sacramento da Eucaristia, que era o objeto de seu amor constante de quem obtinha a sua força.
     Ela estimulava as Irmãs a fazer visitas frequentes à capela dizendo que "o Prisioneiro Divino não pode ficar sozinho". Em seus diários ela escreveu assim: "Jesus - Hóstia Santíssima: Que felicidade para mim! Oh! Se eu pudesse ficar aos Seus pés séculos inteiros. Gostaria de ficar com o Senhor aqui, neste vale de lágrimas, até o dia do julgamento – permanecer aos pés do altar, amá-Lo, não deixá-Lo sozinho, e compensá-Lo e viver a sua vida. Lamento que Ele vai ficar aqui sozinho quando eu não mais estarei aqui".
     Nosso Senhor tinha dado a ela uma alma muito sensível às belezas da natureza, nas quais ela facilmente se encontrava Seus traços, por isso ela gostava tanto de ficar na ermida de Zakopane. Ali derramava no papel suas meditações revelando os segredos de sua alma. Ela escreveu, entre outras coisas: "Me impressionou muitíssimo a beleza de Deus que chamava a minha alma para mundos desconhecidos... Deus e Deus, somente Deus, para sempre! Amo a oração; as noites silenciosas sob o céu aberto são a minha felicidade. Amo a natureza que eleva a minha mente e o meu coração a Deus. Te adoro, Senhor, nas rajadas do vento, nas névoas brumosas da manhã e no crepúsculo que avança. Te adorarei até o fim de nossos dias, que também são teus. Oh, como é belo o nosso Senhor em um dia ensolarado, como é belo no azul do céu, como é maravilhoso no turbilhão de vento, como é poderoso no murmúrio do riacho, quão grande é Deus em suas obras!
A fundadora e a vocação da Congregação
     Foram tempos difíceis, a Congregação foi empobrecida por causa das guerras, havia muitas pessoas desabrigadas, muitos deficientes e órfãos. O Irmão Alberto havia falecido deixando a obra sem estabilidade jurídica, sem constituições escritas, sem a aprovação formal das autoridades da Igreja. Após sua morte, em 1916, a difícil tarefa passou para a Irmã Bernardina, que começou a trabalhar com empenho para alcançar estes objetivos.
     As constituições que ela escreveu de joelhos refletem fielmente o ideal de Frei Alberto. Elas foram aprovadas pelas autoridades da Igreja sem alterar a seção sobre a pobreza. Isso aconteceu em 1926, 10 anos após a morte do Irmão Alberto e após um longo período de oração e diversas atividades intensas de Irmã Bernardina, que fielmente guardava este legado precioso.
     A estabilidade jurídica do Instituto obtida pela Irmã Bernardina, as Constituições e seu desenvolvimento dinâmico, tudo isso levou a considerá-la como fundadora da Congregação das Irmãs Albertinas.

Soror Josefa Menéndez e as Mensagens do Coração de Jesus

    
     Nasceu em Madrid, em 4 de fevereiro de 1890. Ainda muito jovem entrou para a Sociedade do Sagrado Coração, na França, onde muito cedo foi objeto das revelações do Divino Mestre. Teve uma vida breve, faleceu em 1923, aos 33 anos de idade. E em 30 de novembro de 1948, foi iniciado seu processo de beatificação. 
      Dez anos antes de se instaurar o processo, o Cardeal Eugenio Pacelli, futuro Papa Pio XII, deu a conhecer ao mundo um livro escrito pela Irmã Josefa, intitulado “Apelo ao Amor”, que relatava as experiências místicas da religiosa durante sua breve vida.
     Nas revelações, encontramos em palavras pungentes a manifestação do amor infinito e aparentemente incompreensível de Deus que se entregou por nós. 
Belíssimas Colocações de Nosso Senhor Jesus Cristo…
     “Ah! Se as almas soubessem como as espero cheio de misericórdia! Sou o Amor dos amores! E não posso descansar senão perdoando!”
     “Enquanto tiver o homem um sopro de vida, poderá ainda recorrer à misericórdia e implorar perdão. Vosso Deus não consentirá que vossa alma seja presa do inferno”.
     “Estou sempre esperando com amor que as almas venham a Mim! Não desanimem! Venham! Atirem-se nos meus braços! Não tenham medo! Sou seu Pai!”. 
     Além das mensagens do Sagrado Coração, Josefa Menéndez teve também revelações sobre o Inferno, que Deus permitiu para nosso conhecimento e reflexão. É tão terrível a experiência desta alma privilegiada, mas ela sofreu para a salvação das almas, segundo vontade do Divino Redentor. 
Soror Josefa Menéndez e o juízo particular da alma religiosa
     A meditação desse dia, dia 22 de setembro de 1922, era sobre o Juízo Particular da alma religiosa.
     Minha alma não podia afastar esse pensamento, apesar da opressão que sentia. 
     De repente senti-me atada e acabrunhada com tal peso, que num instante percebi com mais claridade do que nunca o que é a santidade de Deus e como lhe aborrece o pecado.
     Vi como num relâmpago toda a minha vida diante de mim, desde a minha primeira confissão até o dia de hoje.
     Tudo estava presente: os meus pecados, as graças que recebi no dia de minha entrada em religião, minha tomada de hábito, meus votos, as leituras, os exercícios, os conselhos, as palavras, todos os socorros da vida religiosa, da vida de uma freira, os conselhos que me foram dados, as palavras que eu ouvi, todos os socorros para amar verdadeiramente a Igreja, a Nossa Senhora e a Deus, tudo esteve presente diante de mim em um só momento.
     Não há expressão que possa dizer a confusão terrível que a alma sente nessa hora: “agora é inútil, estou perdida para sempre”.
     Instantaneamente achei-me no Inferno, mas sem ter sido arrastada como das outras vezes. A alma lá se precipita por si mesma, como se desejasse desaparecer da vista de Deus para poder odiá-lo e amaldiçoá-lo.
     A minha alma deixou-se cair num abismo cujo fundo não se pode ver, pois é imenso. Imediatamente ouvi outras almas se regozijarem vendo-me nos meus tormentos.
     Ouvir aqueles horríveis gritos já é um martírio, mas creio que nada é comparável em dor à sede de maldição que se apodera da alma; e quanto mais maldiz, mais aumenta a sede.
     Nunca tinha experimentado aquilo; outrora a minha alma ficava cheia de dor diante daquelas horríveis blasfêmias, embora não pudesse produzir nenhum ato de amor. Mas hoje dava-se o contrário. Vi o Inferno como sempre: longos corredores, cavidades, fogo; ouvi as mesmas almas a gritar e a blasfemar.
     Pois como já escrevi, embora não se vejam as formas corporais, mantêm-se os tormentos como se os corpos estivessem presentes e as almas se reconhecessem. Gritavam: Olá, aqui estás como nós; éramos livres de fazer ou não fazer aqueles votos. Agora, agora... E maldiziam os seus próprios votos.
     Fui empurrada para aquele lixo inflamado e esmagada como que entre duas tábuas ardentes, e era como se pontas de ferro em brasa se me enfiassem no corpo.
     Senti como se quisesse, sem conseguir, arrancar minha língua, tormento que me reduzia a extremos de dor.
     Os olhos pareciam sair-me das órbitas. Creio que por causa do fogo que tanto os queimava.
     Não havia uma só unha que não sofresse horrivelmente. Não se pode nem mover o dedo para buscar alívio.
     Não se pode nem mover um dedo para buscar alívio, nem mudar de posição, o corpo fica como que achatado e dobrado pelo meio.
     Os ouvidos ficam acabrunhados com os tais gritos de confusão que não cessam um instante. Um cheiro nauseabundo e repugnante asfixia e invade tudo. É como se carne em putrefação estivesse queimando com piche e enxofre, mistura que não se pode comparar a coisa alguma no mundo dos vivos.
     Tudo senti como das outras vezes. E embora fossem horríveis esses tormentos, nada seriam se a alma não sofresse.  Mas sofre de maneira que não se pode descrever. Não posso explicar o que foi esse sofrimento, muito diferente dos que experimentei das outras vezes, pois se o tormento de uma alma no mundo é terrível, nada é em comparação com o de uma alma religiosa.
     Essa necessidade de odiar é uma sede que consome. Nem uma recordação que lhe possa dar o mais pequeno alívio.
     Um dos maiores tormentos, acrescenta Josefa, é a vergonha que a envolve. Parece que todas as almas danadas que a cercam lhe gritam sem cessar: "Que nós nos tenhamos perdido, nós que não tínhamos os mesmos socorros que tu, que há de extraordinário? Mas tu, que te faltava? Tu comias à mesa dos eleitos.
     Tudo o que estou escrevendo, conclui ela, não é senão uma sombra ao lado do que a alma sofre, pois não há palavras que possam exprimir tormento semelhante.
 
     Para entenderemos os tormentos do Inferno, basta esta afirmação de Santo Afonso de Ligório: “O fogo da terra – e ele entende não o fogo de uma vela, que é em si mesmo o elemento fogo como tal, mesmo no que ele tem de mais ígneo, de mais combustível – é como um fogo de pintura em comparação com o fogo do Inferno".  
Reflexão: Quando vemos as horríveis blasfêmias, os pecados que são cometidos impunimente nos dias de hoje – sacrilégios, aborto, eutanásia, etc. – quem de nós ousaria aproximar-se de Nossa Senhora, dizendo: "Minha Mãe, eu aprovei, ou fiquei indiferente a que pessoas próximas fizesse isto". A reação de Nossa Senhora, a repulsa dEla seria tal, que nós não ousaria olhá-la. Ora, por mais que Ela seja santa, Deus é infinito, e se a repulsa dEla é incomensurável, a de Deus é infinita.
     O mundo hoje é tão indiferente diante das ações a que nos referimos no parágrafo anterior, para não dizer complacente... Mas, segundo a Doutrina Católica, Deus odeia essas ações, Ele não é indiferente a elas. O olhar do homem indiferente pousa no pecado e não censura, mas o olhar de Deus pousa naquilo e execra e destina às chamas eternas do Inferno aquele que pecou, caso ele não se arrependa.
     Na economia comum da graça, salvo os casos excepcionais, à medida que os homens vão pecando, insistindo no caminho do pecado, a possibilidade da misericórdia vai minguando. E quando há uma torrente de pecados cometidos numa cidade, num país, no mundo, o normal é que haja uma torrente de almas que caem no Inferno. Não queremos dizer com isso que cada pecador vai para o Inferno, mas queremos dizer que o número de pecadores que vão para o Inferno aumenta enormemente por causa do número de pecados.
     Lembremo-nos que Nossa Senhora em Fátima insistia sempre com as três crianças – Jacinta, Francisco e Lúcia – para que rezassem pelos pecadores. E a pequena Jacinta fazia muitos sacrifícios, extraordinários para sua idade, pelos pecadores. Mas é preciso que eles se convertam... Senão as orações destas almas santas serão inúteis!
     É bom lembra que, assim como Deus atormenta no Inferno os precitos, Ele acaricia no Céu e inebria de carícias os seus eleitos; Ele fala aos seus eleitos e lhes diz coisas, e mostra de Si coisas que os deixariam ébrios de alegria, se no Céu pudesse haver ebriedade. É o afago contínuo, é a palavra de bem-aventurança, de afeto, a carícia incessante, sempre igual e sempre diversa, e que nunca termina. Ele disse de Si mesmo: "Eu serei eu mesmo a vossa recompensa demasiadamente grande".

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Santa Susana de Eleuterópolis, Monja e mártir - 20 de setembro


     A vida e o martírio de Santa Susana, que é mencionada em uma passio em língua grega, relatada na “Bibliotheca Hagiografica Graeca”, são colocados no século IV.
     Nativa da Palestina, Susana era a filha de um sacerdote pagão chamado Artêmis, a mãe Marta era judia; órfã de ambos, ela foi educada e convertida por um certo Padre Silvano e depois batizada. Mais tarde, ela doou todos os seus bens aos pobres e sob disfarce masculino, entrou em um mosteiro para levar uma vida ascética com o nome fictício de João.
     Em 'Vidas' de santas, especialmente naquele período histórico em que ainda não havia um monaquismo feminino, podemos encontrar santas que com este estratagema muitas vezes viveram até sua morte em mosteiros sem que ninguém percebesse, porque a vida em comum dos primeiros monges era reduzida, todos tinham uma cela ou uma ermida, e somente se reuniam para as cerimônias comuns.
     Este método foi usado por muitas santas, pela austeridade de vida que tinham escolhido. Damos os nomes de algumas, além de Santa Susana: Santa Marina/Marino do Líbano, Santa Anastásia, Santa Atanais, mulher de Andrônico, Santa Apolinária, Santa Eufrásia, Santa Eugênia, Santa Teodora de Alexandria, etc.
     Susana (João) continuou assim por um longo tempo levando uma vida de perfeita asceta, até que foi acusada por uma mulher de ter tido relações sexuais com ela quando, para provar a mentira, ela teve que revelar seu sexo verdadeiro.
     Susana então deixou o mosteiro, foi para Eleuterópolis (Grécia), onde se tornou diaconisa. A história relata que sendo então época de perseguição de cristãos (sec. IV?), Susana foi presa, devido ao seu zelo em proclamar Jesus Cristo, e levada ao governador Alexandre; sofreu vários tormentos, sendo depois aprisionada, onde morreu.
     Nos Sinassarios bizantinos ela é celebrada no dia 19 de setembro; Cesar Baronio, que compilou o primeiro Martirológio Romano no século XVI, a colocou no dia 20 de setembro.
 
Etimologia: Susana = do hebraico, lírio, a mulher pura
Nota: A gravura não representa Santa Susana, mas pode ter sido assim o seu martírio.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Há 170 anos, Aparições de La Salette - 19 de setembro

Vida e morte dos videntes de La Salette
Há 170 anos, nas pastagens da montanha!
     No sábado, 19 de setembro de 1846, bem cedo, duas crianças sobem as ladeiras do Monte Planeau. O sol resplandecia sobre as pastagens... De repente, um clarão se mexe, se agita, gira sobre si mesmo. Às duas crianças faltam palavras para externar a impressão de vida que irradia desse globo de fogo. Uma Mulher ali aparece, assentada, a cabeça entre as mãos, os cotovelos sobre os joelhos, numa atitude de profunda beleza.
     Inicia-se assim a Aparição de Nossa Senhora em La Salette (vide neste blog o relato da Aparição e a Mensagem, post de 19 de setembro de 2014).
     Hoje nos deteremos nas vidas dos videntes e seu calvário após terem sido arautos das admoestações de Nossa Senhor.
Narradores da visão
      Nos anos subsequentes à aparição, as duas crianças, Melanie Calvat e Maximino Giraud, repetiram incansavelmente a mensagem pública de Nossa Senhora aos peregrinos que iam a La Salette. Tinham as reações típicas da idade, mas se transformavam na hora de contar a milagrosa aparição.
     Não faltaram incrédulos ou mal-intencionados que tentaram pegá-los em contradição. Nas respostas dos videntes transparecia de tal maneira o sobrenatural, que todos ficavam num misto de desconcerto e admiração.
     Um caso arquetípico deu-se com o Padre Dupanloup, líder liberal francês que posteriormente, como bispo de Orleans, foi um dos chefes da oposição à proclamação do dogma da infalibilidade papal durante o Concílio Vaticano I. O Pe. Dupanloup passou alguns dias com Maximino, tentando que o menino lhe revelasse o segredo. Até colocou sobre a mesa uma pilha de moedas de ouro — coisa que deslumbrou a Maximino, pois, sendo de família miserável, jamais vira algo assim — e lhas ofereceu em troca da violação do compromisso com Nossa Senhora. O pretexto foi tirar da indigência a ele e à sua família. A reação de Maximino foi de uma tal integridade, que o Pe. Dupanloup saiu confundido: "Eu senti que a dignidade da criança era maior que a minha”. (3)
O Calvário de Maximino
     Maximino entrou no seminário diocesano, onde primou por sua seriedade e piedade.
     O bispo de Grenoble, Mons. Ginoulhiac, acérrimo opositor da aparição, impôs-lhe como condição para ser ordenado não mais falar do caso e silenciar o segredo que Nossa Senhora lhe pedira para divulgar.
     Maximino respondeu em carta: “Se Sua Excia. Mons. Ginoulhiac tem a intenção de me paralisar antecipadamente, de não me deixar nem agir, nem falar nem escrever, quando a minha missão de apóstolo de La Salette me tornará obrigatório fazê-lo, pense antes de me dar sua opinião. Uma tal intenção no meu superior seria um sinal positivo de eu não ter vocação. Deus não iria me dar uma vocação sacerdotal diametralmente oposta à vocação que me vem de Maria: a de difundir em todo lugar e sempre, segundo as circunstâncias, suas advertências a seu povo. Eu não teria então outra coisa a fazer senão ingressar na nova milícia religiosa que combate voluntariamente e sem empecilhos, mas também por sua conta e risco, sem engajar em nada a responsabilidade dos pastores”. (4)
     Maximino teve que deixar o seminário. Procurou estudar e trabalhar em Paris e em Le Havre. Mas aonde ia, seguia-o um amontoado de maledicências e hostilidades de origem anticatólica ou eclesiástica liberal. Espalhou-se ser ele inculto, estúpido, instável, bêbado e dissoluto. Mons. Ginoulhiac escreveu ao anticatólico Ministro de Culto, afirmando que se tratava de um “mentiroso” que tinha sido necessário expulsar do seminário. (5) O vigário de Saint Germain l'Auxerrois — famosa igreja de Paris — escreveu um libreto acusando-o de viver em concubinato com sua mãe adotiva! (6)
     Um fato banal serviu de pretexto para a maledicência opor São João Maria Vianney a Maximino e La Salette. O próprio Cura d'Ars dissipou as murmurações em carta ao bispo de Grenoble: “Tenho uma grande confiança em Nossa Senhora de La Salette; faço vir água da fonte; abençoo e distribuo grande quantidade de medalhas e imagens representando esse fato; distribuo pedacinhos da pedra sobre a qual a Santa Virgem teria sentado, levo um pedaço continuamente comigo e até o fiz pôr num relicário. Falo muito frequentemente do fato na Igreja. Parece-me, Monsenhor, que há poucos sacerdotes em vossa diocese que tenham feito tanto quanto eu por La Salette”. (7)
     Maximino transmitiu mensagens pessoais para personagens-chaves do tempo: ao Conde de Chambord, pretendente legitimista à coroa da França, para dissuadi-lo de reinar; ao arcebispo de Paris, Mons. Darboy, a quem predisse que morreria fuzilado, como de fato o foi pelos revolucionários da comuna de Paris; a Napoleão III, advertindo-o de sua próxima queda caso abandonasse o Papa, como acabou acontecendo.
     Maximino alistou-se nos zuavos pontifícios, mas a vida de caserna não correspondia a seu ideal. Em seus últimos anos de vida foi acolhido por uma família de Paris, até que esta perdeu a casa na revolução da comuna de 1870. Ele acabou dormindo ao relento e contraiu a doença que lhe provocou a morte.
     Na mais extrema indigência, Maximino pediu a Mons. Ginoulhiac um lugar onde morrer dignamente. O prelado recusou o pedido. O bispo, “turiferário do regime", (8) tinha sido recompensado pelo governo com a Sé primacial de Lyon. Aliás, o Bem-aventurado Pio IX nunca concedeu a esse prelado a honra do cardinalato, que é concedida ex-oficio a todos os arcebispos de Lyon.
     Na miséria, Maximino entregou sua alma a Deus em sua cidade natal de Corps, em 1º de março de 1875, aos 39 anos de idade. Deixou o exemplo de uma vida moral íntegra e de uma indomável determinação em fazer a vontade de Nossa Senhora acima da vontade dos homens. Seu coração foi depositado na basílica de La Salette, e seu corpo no pequeno cemitério de Corps.
O Calvário de Melanie
     Melanie ingressou nas Irmãs da Providência em Corenc, diocese de Grenoble. Não quis fazer-se religiosa contemplativa, pois queria ter toda a liberdade para divulgar o segredo de La Salette. A comunidade ficou edificada com suas virtudes e dons sobrenaturais. Melanie recebera os estigmas quando tinha quatro anos, e o Menino Jesus — a quem ela chamava “meu irmãozinho” — aparecia-lhe regularmente para aconselhá-la. As religiosas decidiram aceitar a sua profissão solene.
     Mons. Ginoulhiac, porém, exigia-lhe que silenciasse para sempre a mensagem de La Salette e não divulgasse o segredo quando chegasse a data determinada pela Virgem Santíssima — 1858. Como Melanie não aceitasse essa imposição, no dia de profissão o bispo a enviou para a abadia da Grande Chartreuse. Na volta, a vidente percebeu que suas companheiras tinham feito os votos, e que ela ficara de fora. Mons. Ginoulhiac aconselhou-a a ingressar no Carmelo de Darlington, na Inglaterra. Era um exílio, mas Melanie aceitou em espírito de obediência.
     Em Darlington, as carmelitas ficaram admiradas com os dons sobrenaturais incomuns de Melanie, bem como pelo assédio que sofria por parte do demônio. Ela fez os votos com as ressalvas indispensáveis para garantir a divulgação do segredo.
     Melanie não sabia, mas Mons. Ginoulhiac ordenara ao diretor espiritual dela, sob pena de interdito, entregar a ele as cartas contendo matéria de consciência. Quando se aproximava a data de 1858, ela sentiu-se numa espécie de cárcere e enviou cartas às autoridades, até jogando-as por cima do muro da clausura. O fato foi muito explorado por seus inimigos, mas o bispo de Exham lhe outorgou as devidas licenças e o Papa Pio IX confirmou a exclaustração.
     Voltou à França, mas nunca teve sossego, estando sempre submetida a pressões para não revelar a mensagem. Em 1858, como ordenara Nossa Senhora, ela enviou o segredo por inteiro ao Papa Pio IX. Além do mais, providenciou sua publicação em Marselha em 1860; e em Lecce (Itália), com imprimatur de Mons. Zola, em 1879. Ameaçada de excomunhão por bispos adversários de La Salette, Mélanie instalou-se no sul da Itália, onde alguns bispos a protegeram.
     As incessantes mudanças de diocese, a que foi forçada, deram pretexto para maiores difamações. Dizia-se que ela era orgulhosa, egocêntrica, histérica, girovaga, mistificadora, amasiada com padres, que fora surpreendida num prostíbulo, masoquista e antissemita!
     Na Itália, Melanie foi co-fundadora das religiosas do Divino Zelo, que tem entre suas finalidades rezar pela vinda dos Apóstolos dos Últimos Tempos. O fundador — Santo Aníbal de França — foi seu diretor espiritual nos últimos anos de vida. Também na Itália, o Beato Giacomo Cusmano implorou o auxílio dela para fundar a Ordem dos Servos e Servas dos Pobres.
     Melanie faleceu em Altamura, província de Bari (Itália) –– sozinha num quarto, como tinha predito –– na noite de 14 para 15 de dezembro de 1904, com 72 anos de idade. Os vizinhos ouviram aquela noite um cântico de anjos que saía de seu apartamento. Santo Aníbal de França pronunciou ardoroso elogio fúnebre da vidente e de sua santidade nas catedrais de Altamura e Messina. Um ano depois, durante a trasladação de seus restos mortais, verificou-se que o corpo estava incorrupto. Numa segunda trasladação, já não estava mais. Seu corpo venera-se em monumento fúnebre na capela do orfanato das religiosas do Divino Zelo, em Altamura.
Sto. Aníbal de França e Melanie
     Santo Aníbal de França preparou seu processo de beatificação, mas não pôde introduzi-lo pois foi chamado ao Céu. São Pedro Julião Eymard, fundador dos Sacramentinos, morreu estreitando contra o peito uma imagem da aparição. O Papa São Pio X perguntou ao bispo que presidiu os funerais de Melanie: “E nossa santa?”. (9)
     Contraditados, antipatizados, difamados e perseguidos por alguns, mas apreciados, defendidos e protegidos por pessoas virtuosas e mesmo santas, Melanie e Maximino entraram na iconografia católica aos pés de Nossa Senhora, nas inúmeras imagens de La Salette que se veneram em toda a Terra.
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Notas:
3. Jean Stern, La Salette — Documents authentiques, vol. 2, Cerf, Paris, pp. 284 ss.
4. René Laurentin — Michel Corteville, Découverte du secret de La Salette, Fayard, Paris, 2002, p. 75.
5. Stern, op. cit., vol. 3, pp. 227-228.
6. Laurentin-Corteville, op. cit, p. 106.
7. Stern, op. cit, vol. 3, p. 161.
8. Laurentin-Corteville, op. cit., p. 27.
9. Laurentin-Corteville, op. cit., p. 139.
Fonte: (excertos) de artigo de Luís Dufaur publicado em

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Exaltação da Santa Cruz e Santa Helena – 14 de setembro

Relicário contendo fração do Lenho Santo
     Esta festa é também chamada da “Cruz gloriosa”. E os orientais denominavam-na “da preciosa Cruz portadora da Vida”.
     É uma das mais antigas solenidades litúrgicas da Igreja Católica, já era celebrada em Jerusalém no tempo de Constantino (337). Começou a celebrar-se o aniversário da invenção ou encontro da Santa Cruz (cf. Santa Helena) e a dedicação da Basílica do Santo Sepulcro na primeira metade do século IV, no dia 14 de setembro.
     Por muitos séculos a festa da descoberta da Santa Cruz foi celebrada em Jerusalém e em muitos locais do mundo inteiro no dia 3 de maio, data em que, segundo a tradição, fora encontrada. A reforma litúrgica pós-conciliar suprimiu a data de 3 de maio no calendário universal, substituindo-a pelo dia 14 de setembro.
     O trono a que Jesus quer ser elevado, para triunfar da soberba e da sensualidade, é a Cruz, selo de infâmia para Ele, mas sede de misericórdia para nós. Nesse trono O sentaram um dia os judeus por malícia, e nele se senta cada dia a fé cristã, que no Crucifixo adora o seu Deus e Redentor.
     Num túmulo do cemitério de Ciríaca, encontrou Pio IX uma cruz antiga de ouro, na qual estava gravada esta inscrição:
     Crux est vita mihi (a cruz é vida para mim),
     Mors inimice tibi (e morte para ti, ó inimigo).
     Esta preciosa inscrição conserva-se hoje na Biblioteca Vaticana.
     Formosa e densa de sentido é também a seguinte inscrição beneditina, expoente de grande fé e devoção:
     Crux sancta sit mihi lux (a Santa Cruz seja para mim luz),
     Nunquam daemon sit mihi dux (e o demônio nunca seja o meu guia).
     Com grande concisão expressaram os antigos a eficácia da Cruz de Cristo, sinal triunfal da nossa Redenção, no anagrama grego que significa: A Cruz é luz e é vida.
 
Fonte: (excertos) Santos de cada dia, Pe. José Leite, S.J. 3ª edição 
Santa Helena, Viúva, mãe do Imperador Constantino († 330) 
    
     Helena nasceu em meados do século III, provavelmente em Bitínia, região da Ásia Menor. Os autores britânicos afirmam que ela nasceu na Inglaterra, naquele tempo uma província romana, e que Constâncio Cloro, tribuno e mais tarde governador da ilha, enamorou-se dela e a tomou por esposa. Por volta do ano 274 tiveram um filho a quem deram o nome de Constantino.
     Constâncio Cloro chegou a ser marechal de campo e o imperador Maximiano nomeou-o co-regente e, portanto, seu sucessor no Império, mas com a condição de que repudiasse sua mulher e esposasse sua enteada Teodora.
     Tanto Helena quanto Constâncio Cloro eram pagãos. Levado pela ambição, Constâncio se separou dela e levou para Roma seu pequeno filho, Constantino. Helena chorou sua desgraça por 14 anos. Em 306, com a morte de Constâncio, Constantino foi nomeado imperador, iniciando para ela uma nova vida. Constantino mandou vir sua mãe para viver na corte, conferindo-lhe o nome de Augusta e o título de imperatriz.
     Helena recebeu o Batismo, provavelmente no ano 307, e foi uma cristã exemplar e testemunha da grande jornada em que Constantino colocou pela primeira vez a cruz nos estandartes de suas legiões para vencer em batalha o seu rival Maxêncio, no mês de outubro do ano 312.
     No início do ano 313 o imperador publicou o Édito de Milão, pelo qual permitia o Cristianismo no Império. Seguindo o exemplo de sua mãe, converteu-se, sendo batizado pelo Papa São Silvestre. Depois de trezentos anos de perseguição, a Igreja de Cristo assentava-se triunfante sobre a terra. A piedosa imperatriz dedicou-se inteiramente a socorrer os pobres e aliviar as misérias de seus semelhantes.
     Quando já anciã - tinha então setenta e sete anos - visitou os santos lugares. Subiu ao topo do Gólgota, onde havia sido erguido um templo à Vênus. Este templo fora construído por ordem do imperador Adriano, que odiava os cristãos, e certamente quis com isso evitar que aquele local fosse venerado pelos discípulos de Nosso Senhor.
     Conhecendo o costume judaico de enterrar no lugar da execução de um malfeitor os instrumentos que serviram para sua morte, Santa Helena mandou derrubar o templo e procurar a cruz onde padecera o Redentor.
     Depois de muitas e profundas escavações, três cruzes foram encontradas. Como não se podia distinguir qual era a cruz de Jesus, levaram-nas a uma mulher agonizante. Ao tocá-la com a primeira cruz, a enferma piorou, ao tocá-la com a segunda, continuou tão doente quanto antes, porém ao tocá-la com a terceira cruz, a enferma recuperou instantaneamente a saúde.
     Santa Helena e o Bispo de Jerusalém, São Macário, e milhares de devotos levaram a Cruz em piedosa procissão pelas ruas de Jerusalém. E pelo caminho se encontraram com uma mulher viúva que levava seu filho morto para ser enterrado. Ao aproximarem a Santa Cruz do morto este ressuscitou.
     Santa Helena fez com que se dividisse a Cruz em três partes. Um dos pedaços foi entregue ao Bispo São Macário, para que o entronizasse na Igreja de Jerusalém; o segundo foi enviado para a Igreja de Constantinopla e o terceiro para Roma. A basílica que abrigou a relíquia chamou-se Santa Cruz de Jerusalém. Mandou também construir três edifícios: um junto ao Monte Calvário, outro na cova de Belém e um terceiro no Monte das Oliveiras.
     Santa Helena estava com oitenta anos quando regressou de sua viagem. Faleceu pouco depois, provavelmente em Tréveris, por volta do ano 328 ou 330. O Martirológio Romano comemora sua festa em 18 de agosto. Uma capela dedicada a ela, em Roma, conserva algumas de suas relíquias.
 
Reflexão: Compreendamos o que representa para uma mulher ao mesmo tempo ser mãe do primeiro imperador cristão e ser aquela que tira das entranhas da terra a verdadeira Cruz, e todos os benefícios que foram espalhados pela terra pela posse da verdadeira Cruz, pela adoração da verdadeira Cruz, pela presença das relíquias da verdadeira Cruz por toda parte. Todos esses benefícios têm Santa Helena na sua origem, aí se compreende o vulto dessa mulher, se compreende a estatura dessa alma, se compreende também o que é uma grande missão. E se compreende algo a respeito do feitio feminino quando ele é verdadeiramente católico. (Plinio Corrêa de Oliveira) 
Helena significa: “tocha resplandecente”.