Após o anúncio do Anjo, Maria sai às
pressas, diz São Lucas, para visitar sua prima Isabel e prestar-lhe serviço. A
cidadezinha onde residia a futura mãe de São João Batista, situada na pequena
aldeia de Ain-Karin, requeria uma viagem de cerca de cem quilômetros através de
região montanhosa, e não estava isenta de fadigas e perigos. Provavelmente
Maria juntara-se a uma caravana de peregrinos que viajavam a Jerusalém, por
meio de Samaria, e atingia Ain- Karim, na Judéia, onde vivia a família de
Zacarias.
A Virgem Santíssima caminhava alegremente,
não apenas pelo desejo de auxiliar a parente, mas também porque sabia que
levava consigo o Filho de Deus, o Salvador do Mundo. Trazendo Jesus em seu
seio, ela ia levar a graça à família do sumo sacerdote Zacarias, realizando
assim, desde então, por vontade de Deus, a sua missão de Medianeira de todas as
graças.
A presença do Verbo que se fez carne em
Maria é causa de graça para Isabel que, inspirada, pressente os grandes
mistérios operados na jovem prima: a sua dignidade da Mãe de Deus, a sua fé na
palavra de Deus e a santificação do precursor, que se alegra no seio da mãe. No
primeiro instante em que Maria Santíssima saudou a prima, Santa Isabel, cheia
do Espírito Santo, respondeu-lhe: “Bendita és tu entre todas as mulheres e
bendito é o fruto do teu ventre!”, e, ao sentir o filho exultando em
seu seio, continuou: “De onde me vem a honra de receber a visita
da Mãe do Meu Senhor?”
É fácil imaginar que sentimentos permeiam
a alma de Maria Santíssima na meditação do mistério que lhe fora anunciado pelo
Anjo. São sentimentos de gratidão humilde para a grandeza e a bondade de Deus,
e Maria não sabendo mais conter a alegria de que estava possuída desde a
Anunciação, respondeu-lhe com as belíssimas palavras do “Magnificat”: “Minha
alma glorifica o Senhor e meu espírito exulta de alegria em Deus meu Salvador”,
profetizando em seguida que todas as gerações a chamariam de Bem-aventurada.
Era a expressão “do amor jubiloso que
canta e louva o Amado" (São Bernardino de Siena).
A Virgem Maria ficou com Isabel até o
nascimento de João Batista, provavelmente à espera de mais oito dias para o
rito da imposição do nome.
Ainda nos dias de hoje conservam-se as
ruínas da habitação de Zacarias na aldeia de Ain-Karin, e pode-se beber da água
pura e cristalina da sua fonte, onde, segundo a tradição, a Virgem Santíssima
saciou várias vezes a sua sede. Naquelas paragens existe também a cova em que
São João Batista, ainda criança, foi escondido para escapar aos furores de
Herodes, que ordenava a matança dos inocentes.
Ao aceitar este cálculo do tempo gasto junto
a sua prima Isabel, a Festa da Visitação, de origem franciscana (os Frades
Menores já a celebravam em 1263), era celebrada em 2 de julho, ou seja, no final
da visita de Maria. Teria sido mais lógico colocar sua memória depois do dia 25
de março, de Festa da Anunciação, mas se queria evitar que caísse durante o
período da Quaresma.
A
festa foi mais tarde estendida a toda a Igreja latina pelo Papa Urbano VI para
propiciar a intercessão de Maria para alcançar a paz e a unidade dos cristãos
divididos pelo Grande Cisma do Ocidente. O sínodo de Basileia, na sessão de 10
de julho de 1441, confirmou a Festividade da Visitação, inicialmente não aceita
pelos Estados que apoiavam o antipapa.
Desde 1412, Nossa Senhora da Visitação é
festejada especialmente pelos italianos da Sicília como a Padroeira da cidade
da Enna.
Os portugueses sempre a celebraram com
muita pompa, porque o rei D. Manuel I, o Venturoso, que governou entre 1495 e
1521, escolheu Nossa Senhora da Visitação como a Padroeira da Santa Casa de
Misericórdia de Lisboa, e de todas as outras do reino.
Foi assim que este culto chegou ao Brasil
Colônia, primeiro na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, depois se
disseminou por todo território brasileiro. Esta festa, celebrada na cidade de
São Sebastião do Rio de Janeiro durante mais de três séculos, era assistida
pelos governadores, pelos vice-reis e, após a vinda da família real para o
Brasil, por D. João VI e toda corte. Depois da independência esta tradição
religiosa foi conservada e os dois imperadores sempre tomaram parte na famosa
procissão de Santa Isabel. Após a procissão os fieis iam levar conforto aos
enfermos e suas doações às instituições.
O
calendário litúrgico atual, não levando em conta a cronologia sugerida no
episódio evangélico, abandonou a tradicional data de 2 de julho (anteriormente
a Visitação também era comemorada em outras datas) para fixar sua memória no
último dia de maio, como a coroação do mês que a devoção popular consagra ao
culto particular da Virgem.
“Na
Encarnação - comentava São Francisco de Sales - Maria se humilha confessando
ser a escrava do Senhor... Mas para Maria não bastou se humilhar diante de
Deus, porque ela sabia que a caridade e a humildade não são perfeitas se não
passam de Deus para o próximo. Não é possível amar a Deus a quem não vemos, se
não amamos os homens que vemos. Isto se cumpre na Visitação”.
Recitação do Magnificat
São Luis Maria
Grignion de Montfort, em seu Tratado da
verdadeira devoção a Santíssima Virgem, diz que o Magnificat “é a única
oração e a única obra composta por Maria, ou melhor, que Jesus fez por meio
dEla, pois Ele fala pela boca de sua Mãe Santíssima. É o melhor sacrifício de
louvor que Deus já recebeu na lei da graça. É, de um lado, o mais humilde e o
mais reconhecido; e doutro, o mais sublime e mais elevado de todos os cânticos.
Há neste cântico mistérios tão grandes e tão ocultos, que os próprios anjos
ignoram”. (par. VI, pág. 240) E aconselha
que se reze com frequência esta oração.
Magnificat
(Lucas 1, 46-56)
A minha alma glorifica ao Senhor;
e meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador.
Porque pôs os olhos na humildade da sua escrava;
portanto, de hoje em diante, todas as gerações me chamarão
bem-aventurada.
Porque realizou em mim maravilhas Aquele que é poderoso e cujo nome é
Santo.
E cuja misericórdia se estende de geração em geração sobre os que o
temem.
Manifestou o poder do seu braço;
dissipou aqueles que se orgulhavam nos pensamentos do seu coração.
Depôs do trono os poderosos e elevou os humildes.
Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos.
Tomou cuidado de Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia,
conforme tinha dito a nossos pais, a Abraão e à sua posteridade para
sempre.
Glória ao Pai, e ao Filho, e ao Espírito Santo.
Assim como era no princípio, agora e sempre,
por todos os séculos dos séculos Amém.
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