terça-feira, 29 de maio de 2018

Santa Dinfna, Virgem e mártir – 30 de maio

Martirológio Romano: Em Geel, no Brabante, Austrásia, no território da moderna Bélgica, Santa Dinfna, virgem e mártir.  

     A Irlanda, aconchegada nas águas azuis do Atlântico, foi evangelizada por São Patrício e há séculos é conhecida como a Ilha dos Santos. Uma relação dos santos irlandeses preencheria um calendário da Santa Igreja. Mas, infelizmente, estes santos são desconhecidos pela maior parte dos católicos. Um exemplo de santo esquecido ou desconhecido é Santa Dinfna.
     A "Vita Sancta Dimpnae" foi escrita entre 1238 e 1247 por um cônego da Colegiada de Santo Alberto de Cambrai, França, de nome Petrus Van Kamerijk, sendo Bispo de Cambrai Guy I. O autor mesmo menciona que se baseou na tradição oral popular. Portanto, não há dados comprobatórios da narração feita por ele.
     Há na Irlanda uma igreja, Chilldamhnait ou Kildowner, situada na parte sul da ilha, cujo nome significa Igreja de Dinfna. Segundo antiga tradição, Dinfna veio do antigo reino de Oriel e fundou a igreja no século VII. Nessa igreja ela atendia os doentes. Dinfna morreu em Geel, Bélgica. A igreja foi restaurada no século XVII, mas a igreja original está atualmente em ruínas.      
     De acordo com a "Vida", Santa Dinfna nasceu no século VII, em Clogher, no Condado de Tyrone, Irlanda, quando o país havia sido evangelizado. Porém, o seu pai, um pequeno rei de Oriel, ainda era pagão. Sua mãe, de família nobre, era cristã e notável por sua beleza e piedade.
     Como sua mãe, Dinfna era um exemplo de beleza e de virtude, a "joia" de seu lar, favorecida desde o nascimento com graças especiais. Desde muito pequena Dinfna foi entregue aos cuidados de uma piedosa cristã, que a preparou para o Batismo.  O Padre Gereberno administrou-lhe o Sacramento e aparentemente fazia parte da família, pois foi ele quem deu as primeiras noções de escrita, bem como das verdades da religião, à pequena Dinfna.
     Bem cedo Dinfna, como muitas outras nobres irlandesas antes e depois dela, escolheu Nosso Senhor Jesus Cristo como seu Divino Esposo e consagrou sua virgindade a Ele e a sua Santa Mãe pelo voto de castidade.
     Uma grande prova veio turbar a vida da adolescente: sua querida mãe falece. Ela ofereceu a Deus sua grande dor. Seu pai também ficou inconsolável com a perda da esposa e durante muito tempo ficou prostrado pelo luto.
     Seus conselheiros persuadiram-no a buscar um segundo matrimônio. Em vão os mensageiros procuraram uma pessoa com a beleza física e moral de sua primeira esposa. Os conselheiros diziam que não havia ninguém mais amável e encantadora do que sua filha, Dinfna. Dando ouvidos à sugestão deles, o rei concebeu o pecaminoso desejo de casar-se com a própria filha. Com palavras persuasivas ele manifestou seus propósitos a ela.
     Dinfna, horrorizada com os planos de seu pai, pediu a ele um tempo para pensar na proposta. Imediatamente procurou o Padre Gereberno, que a aconselhou a fugir; e uma vez que o perigo era iminente, ele disse que ela não demorasse em concretizar o seu plano.
     Com toda pressa ela partiu rumo ao continente; acompanhou-a o Padre Gereberno, já bem idoso, e um casal de servidores de sua confiança. Após uma travessia favorável, eles chegaram à costa próxima da atual cidade de Antuérpia. Depois de fazerem uma breve parada para descansar, eles retomaram a jornada e chegaram a um pequeno vilarejo próximo de um oratório a São Martinho, local conhecido hoje como Geel. Eles foram recebidos com simpatia pelos moradores e ali se fixaram.
     Entrementes, o rei, furioso com a fuga de Dinfna, enviou seus servidores em perseguição aos foragidos. Após buscas exaustivas, conseguiram descobrir que eles haviam seguido para a Bélgica e o local de refúgio foi localizado. A princípio o pai de Dinfna tentou persuadi-la a voltar com ele. O Padre Gereberno, porém, reprovou com firmeza suas intenções pecaminosas, o que levou o rei a mandar matá-lo. Seus subordinados imediatamente o degolaram. Um novo glorioso mártir reuniu-se aos heróis do Reino de Cristo.
     As tentativas do pai de Dinfna para induzi-la a voltar com ele foram infrutíferas. Com coragem ela enfrentou todos os maus tratos. Diante de sua resistência, enfurecido o pai desembainhou sua adaga golpeando-a no pescoço. Recomendando sua alma a Deus, a virgem caiu aos pés de seu insano e delirante pai.
     A coroa do martírio foi dada a Dinfna entre os anos 620 e 640. Os corpos dos dois mártires ficaram por algum tempo insepultos. Os habitantes de Geel removeram os santos despojos e, conforme o costume da época naquela região, colocaram numa caverna. Mas, após alguns anos, os aldeões, recordando-se da morte santa que eles tiveram, decidiram dar a seus corpos um sepultamento mais adequado. Quando os trabalhadores removeram a terra que obstruía a entrada da caverna, grande foi o assombro deles diante de duas belas tumbas, brancas como a neve, entalhadas na pedra como pela mão de anjos. Ao abrirem o túmulo de Santa Dinfna viram uma placa de cor vermelha que repousava sobre seu peito, a qual continha a inscrição: "Dinfna".
     Os santos despojos foram transladados e colocados numa pequena igreja. Mais tarde, foi necessário erigir uma magnífica Igreja de Santa Dinfna, no local onde os corpos foram sepultados pela primeira vez.
     A fama de Santa Dinfna, segundo a tradição, teve início graças ao milagre ocorrido quando um doente mental foi tocado com a placa acima referida, por ocasião da transladação das suas relíquias. Ela tornou-se então protetora das vítimas de doenças nervosas e mentais, e os milagres e as curas aumentaram continuamente. Mais e mais pessoas eram trazidas ao seu túmulo por parentes e amigos, muitos vindos em peregrinação de locais distantes. Novenas eram rezadas e os doentes eram tocados com a relíquia da Santa.
Aspecto de Geel, Bélgica
     No começo, os doentes ficavam alojados em um pequeno anexo construído ao lado da igreja. Gradualmente tornou-se costume os moradores de Geel receberem os doentes nos seus lares. No século XIII, uma instituição chamada "Enfermaria de Santa Isabel" era conduzida pelas Irmãs de Santo Agostinho. Mais tarde tornou-se um hospital dedicado ao cuidado dos doentes. Muitos dos pacientes eram colocados nas casas das famílias de Geel após passarem algum tempo na "Enfermaria", e ali levavam uma vida relativamente normal.
     Ainda em nossos dias os moradores de Geel recebem pacientes em seu círculo familiar, ajudando-os a se prepararem para retornar ao convívio com a família. Em centenas de gerações os moradores de Geel acumularam uma sensível habilidade para lidar com essa função, e o seu notável espírito de caridade cristã para com esses membros aflitos da sociedade dá ao nosso mundo moderno, tão ávido em colocar sua confiança na ciência e tão esquecido dos princípios da verdadeira caridade católica, uma lição de como restaurar certos tipos de doentes.
     Santa Dinfna é invocada como padroeira dos portadores de doenças nervosas e mentais (epilepsia, sonambulismo, depressão, neuroses, estresse), dos psicólogos e dos endemoninhados. Os seus símbolos são: a espada que a decapitou e o demônio acorrentado a seus pés, que simboliza a sua intercessão para livrar os possessos. A iconografia da Santa é sobretudo de origem belga e flamenga, embora sua nacionalidade seja irlandesa.
     A história da cidade entrou tanto no imaginário coletivo, que em 1879 o pai de Van Gogh pensou em mandar para lá seu filho na esperança de poder livra-lo da “loucura”.
 
Igreja de Sta. Dinfna em Geel, Bélgica
Etimologia: Dymphna, na língua irlandesa, significa “cor amarelada, fulvo, louro”.

Fontes:

No dia 15 de maio de 2013 este blog postou um resumo desta Santa.

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Serva de Deus Maria Angélica Mastroti de Papasidero - 26 de maio

    
    Maria Angélica viveu em odor de santidade. Nasceu em Papasidero, Itália, em 4 de fevereiro de 1851, filha de Nicola Mastroti e Caetana Orofino, e foi batizada com o nome Maria Angélica Concetta Filomena Mastroti. As poucas descrições que temos disponíveis, retratam-na de baixa estatura, vestida de preto, com uma tez morena e uma constituição frágil. Desde cedo aprendeu a ler e escrever.
     Aos seis anos, atingida por uma tuberculose, foi acometida de atrozes sofrimentos que ela aceitou com serenidade como um "presente" de Deus, a quem incansavelmente dedicava uma devoção profunda, apesar da sua tenra idade. Foi sua mãe, durante as vigílias noturnas ao lado da cama da criança, que percebeu como sua filha pronunciava palavras incompreensíveis e tinha visões inexplicáveis.
     Em 1870, depois de treze anos de sofrimento, o primeiro "milagre": uma bela dama apareceu a Maria Angélica, exausta pela doença, predizendo sua recuperação.
     Os seus sofrimentos, entretanto, não cessaram: um cálculo na vesícula lhe causou um sofrimento indescritível até 1873, quando uma segunda assistência sobrenatural a libertou do mal, mas o seu desejo de expiação a fez mortificar seu corpo fazendo uso de cilícios, camas de espinhos e longos jejuns. Era habitual recusar comida para alimentar-se somente da Hóstia Consagrada.
     Sua vida ascética resultou em êxtases frequentes durante os quais conversava com Nossa Senhora e com o Filho que a Virgem tinha nos braços. O envolvimento espiritual também teve consequências físicas. Com efeito, uma ferida se abriu espontaneamente no seu lado, de onde o sangue jorrava muitas vezes, e jamais foi curada.
     Em 1890, ela se mudou para Castelluccio Superiore com sua mãe, para acompanhar seu sobrinho Nicolau que ia entrar para o sacerdócio; ela se sentia particularmente responsável por ele, que havia perdido seus pais em menino. Naquela cidade fatos prodigiosos continuaram a ocorrer, de modo que sua fama se espalhou por todos os povoados vizinhos.
     Tudo isto é contado no livro Os Teus Olhos, do Arcebispo Dom Francisco Sirufo, que num escrito simples e fluido narra a vida extraordinária dessa mulher envolta - como ele próprio afirma na apresentação – em um misterioso silêncio inexplicável por parte das autoridades eclesiásticas da época. Após a sua morte - continua o monsenhor -, depois de um primeiro sucesso e de uma certa fama de santidade, a partir de 1900 parece ter caído no esquecimento: quase uma damnatio memoriae, confirmada de Bispo a Bispo.
    Maria Angélica morreu em 26 de maio de 1896 devido a uma paralisia cerebral causada por apoplexia fulminante, no momento em que se encontrava absorvida em oração. No quinto dia após a morte, seu corpo foi levado para a casa da família Orofino e aqui foi testemunhado um outro milagre: o corpo estava flexível e perfumado, como relatado pelo médico Pedro Gioia, encarregado pela família para sangrar o cadáver. O mesmo, alguns dias depois, fez uma pequena incisão em uma veia de Maria Angélica, de onde ele pode ver sangue saindo misturado com bolhas gasosas (o mesmo fenômeno acontecera muitos anos antes no cadáver do Beato Domenico Lentini).
     Há muitos episódios extraordinários relacionados com a vida de Maria Angélica: os milagres, as graças, das quais se beneficiaram tantas pessoas que constantemente mantiveram viva as recordações e a memória através de histórias transmitidas por mais de um século.
     Não há um pronunciamento oficial de beatificação da Serva de Deus, mas a cidade de Castelluccio venera Maria Angélica como beata, e no dia 26 de maio dedica a ela uma exposição e uma Missa, com visita ao cemitério onde se encontra o seu túmulo. Também participam deste evento os peregrinos de Papasidero, local de nascimento da Beata.
     Para torna-la conhecida e difundir sua vida, em 2009 foi instituída em Castelluccio Superiore a Associação Histórica e Cultural Amigos de Maria Angélica Mastroti, com sede na sua casa, também usada como museu. Visitando-o você pode aprofundar a história simples e extraordinária de uma mulher que fez da fé sua única e preciosa razão de viver.


Santuário de Na. Sra. de Constantinopla em Papasidero, Italia


Fontes:
www.santiebeati.it/
www.terradibasilicata.it/meteo-2/report/2707-maria-angelica-mastroti-uno-straordinario-esempio-di-fede

Em 26 de maio de 2015 este blog postou um resumo sobre esta Serva de Deus.

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Nossa Senhora Auxiliadora - 24 de maio


    
Na. Sra. Auxiliadora,  Igreja de 
Na. Sra. Auxiliadora em S. Paulo
     A festa de Nossa Senhora Auxiliadora foi instituída por Pio VII pelo Decreto de 16 de setembro de 1816. Essa instituição é a última e das mais afetuosas confirmações da profecia da própria Mãe de Deus: “E todas as gerações chamar-me-ão bem-aventurada”.
     O fim da Igreja, instituindo esta festa, foi principalmente: 1) comemorar um acontecimento dos mais notáveis da história do catolicismo, em que Maria de um modo patente mostrou o seu poder; 2) aumentar nos fiéis a confiança em Maria Santíssima.
     O acontecimento foi o seguinte: Napoleão, que só respeitava leis e tradições quando lhe convinha, detestava o Papa Pio VII por se ter ele negado a declarar inválido o matrimonio de Jeronimo Bonaparte, legitimamente casado com uma protestante, filha de uns negociantes da América do Norte.
     Sem se dar ao trabalho de procurar um pretexto plausível, mandou o general Miollis ocupar Roma em seu nome, declarando: “Sendo eu imperador de Roma, exijo a restituição do Estado eclesiástico, doação de Carlos Magno. Declaro findo o Império dos Papas”. Pio VII protestou contra esta arbitrariedade inaudita, e na noite de 10 para 11 de junho de 1809, aparecia fixada na porta da basílica de São Pedro a bula de excomunhão contra o usurpador do trono de França.
     Nessa mesma noite, às 2 horas da madrugada, o general Radet forçou o palácio do Quirinal, onde encontrou o Sumo Pontífice, com todos os seus ornatos pontificais, sentado num dos imensos salões do palácio abandonado, tendo a seus pés o Cardeal Pacca.
     O general Radet, sentindo-se criminoso, apesar de lá ter ido para prender o Santo Padre, disse com voz trêmula: “Cabe-me a execução de uma ordem desagradabilíssima: tendo, porém, prestado juramento de fidelidade e obediência ao meu imperador, devo cumpri-la: em nome do imperador declaro-vos que deveis renunciar ao governo civil de Roma e aos Estados eclesiásticos e se a isso vos negardes, levar-vos-ei ao general Miollis”.
     Pio VII respondeu com voz firme e tranquila: “Julgais ser do vosso dever executar as ordens do imperador, a quem juraste fidelidade e obediência. Deveis compreender de que modo somos obrigados a respeitar os direitos da Santa Sé, nós, que a eles nos ligamos por tantos juramentos. Não podemos renunciar ao que não nos pertence; o poder temporal pertence à Igreja Católica e nós somos apenas seu administrador. O imperador pode nos esquartejar, mas do que ele nos pede nada lhe daremos”.
     Radet conduziu o Sumo Pontífice e o Cardeal Pacca a uma carruagem. O calvário do Augusto Ancião, havia pouco começado com a invasão de Roma, estava ainda no seu início. Todas as pessoas que rodeavam o Sumo Pontífice, e mereciam a sua confiança, tinham sido afastadas, para que o isolamento aumentasse ainda as suas angústias. O Breviário lhe foi proibido.
     O Velho Representante de Cristo na terra não foi conduzido ao general Miollis, mas à sua prisão rodante tomou a estrada de França. Assim que a notícia da passagem do Sumo Pontífice se espalhava, as populações acorriam a se lançar aos pés de Sua Santidade, e Pio VII, pela janela de sua carruagem, abençoava os fiéis.
     A alimentação, porém, dos prisioneiros, como os denominaram os maçons de França, era tão minguada, que Sua Santidade, debilitado, caiu gravemente enfermo.
     Foi durante suas tribulações, estando Pio VII moribundo em Savone, e os inimigos da Igreja a falar no último dos Papas, que o voto de se coroar solenemente a Nossa Senhora foi feito por Pio VII.
     Em 1812 foi o Papa transportado a Paris, onde sofreu os maiores vexames. Inesperadamente, porém, as coisas mudaram. Napoleão perdeu a batalha de Leipzig, e pouco tempo depois teve de assinar a sua abdicação no mesmo castelo em que matinha preso o Sumo Pontífice.
Retorno de Pio VII a Roma, 24 de maio de 1814 
    Pio VII voltou imediatamente a Savone, onde, em presença de SS. MM. a rainha da Etrúria e o rei da Sardenha, e de um número enorme de Cardeais, corou a imagem da Mãe de Misericórdia fazendo logo em seguida a sua solene entrada em Roma, entusiasticamente aclamado pela multidão.
     Enquanto o Papa voltava ao pleno gozo de seus direitos, Napoleão esperava em Santa Helena a hora de prestar contas Àquele que não se apressa em toma-las.
     Pio VII atribuiu a vitória da Igreja sobre as forças da Revolução à poderosa intercessão de Maria Santíssima. E aos católicos, hoje tão perseguidos em tantos países, é prudente lembrar que se ainda há perseguidores vulgares como Napoleão, a Mãe de Deus também continua a ser a mesma dispensadora de graças.

Plinio Corrêa de Oliveira - Legionário, 21 de maio de 1939, N. 349, pag. 5

terça-feira, 22 de maio de 2018

Santa Júlia, virgem e mártir - 22 de maio

     
     Durante a tomada de Cartago [na atual Tunísia], uma menina cristã de nome Júlia foi escravizada e vendida a um mercador pagão, que a levou consigo à Palestina. Embora estivesse cercada por idólatras, a menina manteve-se fiel aos princípios nos quais havia sido criada, preservando assim sua fé em Nosso Senhor Jesus Cristo. Ela cumpria com afinco tudo o que lhe era exigido e mantinha-se fiel a seu senhor, cumprindo a recomendação do Apóstolo: Vós, servos, obedecei a vossos senhores segundo a carne... Servindo de boa vontade como ao Senhor, e não como aos homens (Efésios 6:5,7).
     Embora Júlia fosse mansa e obediente, não havia como persuadi-la a fazer algo contra os Mandamentos. Por diversas vezes o mercador tentou convencê-la a abandonar a fé cristã e viver à maneira dos pagãos. Mas Júlia preferia morrer a negar Jesus Cristo. O mercador enraivecia-se e tentou matá-la; porém, percebendo o quanto ela era fiel e obediente, finalmente deixou-a em paz. Ele espantava-se com sua mansidão, sua paciência, sua natureza laboriosa. Ao tornar-se adulta, o mercador confiou-lhe importantes questões comerciais. Após os longos e duros dias de trabalho, Júlia dedicava-se às orações e às leituras espirituais.
     Júlia teria cerda de 20 anos quando seu amo a levou com ele em uma jornada de negócios. No meio do caminho, seu barco fez uma parada na ilha mediterrânea de Córsega. Lá ainda havia muitos idólatras. Perto da orla, ao avistar um grupo de pessoas que estavam oferecendo sacrifícios a deuses pagãos, o mercador desejou juntar-se a eles. Ele saiu do barco, juntamente com todos os que estavam a bordo – todos, menos Júlia. Ela ficou para trás, no barco, lamentando profundamente por aquelas as almas perdidas no paganismo.
     Durante a ausência do mercador, alguns habitantes da ilha entraram no barco. Ao avistarem Júlia e descobrirem que era cristã, correram a avisar o sacerdote pagão, o qual disse ao mercador: "Por que nem todos os seus servos vieram honrar os deuses?"
     "Todos estão aqui", disse o mercador.
     "Então por que me disseram que há em seu barco uma mulher que se recusa a curvar-se perante os deuses?"
     "Minha serva Júlia?", perguntou o mercador. "Não há como convencê-la a afastar-se das ilusões da religião cristã. Eu mesmo tentei de várias formas; tentei com doçura, tentei com ameaças, e a teria matado há muito tempo não fosse o fato de ela ser tão fiel a mim, tão laboriosa".
     "Ela tem de curvar-se aos deuses", disse o sacerdote. "Se tu quiseres, comprarei ela de ti e a forçarei a honrar nossos deuses".
     "Pois eu lhe digo que ela preferiria morrer a abandonar sua fé, além de que me recuso a vendê-la. Todas os seus bens nem mesmo começariam a compensar os serviços dela".
     Furioso, o pagão decidiu que traria a criada cristã a todo custo e a forçaria a oferecer sacrifícios aos deuses. Ele embriagou o mercador e, enquanto ele dormia, mandou buscar Júlia,
     "Faça um sacrifício aos deuses", ordenou-lhe, "e eu comprarei tua liberdade de teu senhor".
     "Minha liberdade reside no trabalho a Cristo e em servir-Lhe de consciência limpa", respondeu a mulher. "Não posso juntar-me à tua fraude".
     O sacerdote pagão ordenou que lhe batessem. Ela aguentou tudo calada, dizendo em seguida: "Por minha causa Cristo sofreu murros e cusparadas. Estou pronta para sofrer por Ele".
     Após longas e cruéis torturas, Júlia foi pregada em uma cruz.
     Ao acordar, o mercador descobriu o que tinha acontecido e entristeceu-se profundamente, mas nada mais podia ser feito.
     Quando a santa alma de Júlia partiu para o Senhor, várias pessoas que ali estavam viram uma pomba branca como a neve sair de sua boca; outros viram anjos que circundavam a virgem e mártir. Aterrorizados, eles saíram correndo, deixando o corpo pendurado na cruz.
     Naquela mesma noite, tudo o que havia acontecido foi revelado em sonhos a alguns monges. No dia 22 de maio de 450, boiando no mar, ainda pregado na cruz, o seu corpo foi encontrado por aqueles monges do convento da ilha vizinha de Górgona. Eles o transportaram para a ilha, tiram-no da cruz, ungiram-no e o colocaram num sepulcro. Mais tarde, uma igreja foi construída exatamente no local onde a santa havia sido martirizada. Daquele dia em diante muitos cristãos têm honrado a memória de Santa Júlia, glorificada por Deus Nosso Senhor com milagres.
     No ano 762, a rainha Ansa, esposa do rei lombardo Desiderio, mandou transladar as relíquias de Santa Júlia para Bréscia, propagando ainda mais sua veneração entre os fiéis. Um ano depois, o Papa Paulo I consagrou a Santa Júlia uma igreja naquela cidade. A sua festa litúrgica ocorre no dia 22 de maio. É a padroeira da Córsega.

Fontes:
Vidas de Santos, compilado por A. N. Bakhmetova, Moscou, 1872.
São Nicolau Velimirovich, Os Prólogos de Ochrid, 29 de julho.

domingo, 20 de maio de 2018

Santa Aurea de Óstia, mártir – 20 de maio

     
     Santa Áurea é comemorada no Martirológio Jeronimiano em 20 de maio; no Martirológio Romano ela é recordada em 24 de agosto com um breve relato da passio.
     Esta Santa é patrona e protetora de Óstia, cidade da Itália. Na Antiguidade Óstia era o principal porto de Roma e uma cidade romana de relevância, cujos restos arqueológicos continuam a ser de grande valor patrimonial da Antiguidade.
     As fontes dos mártires de Óstia Tiberina são a tradução latina de um antigo manuscrito grego conservado no Vaticano e publicado por Simão de Magistris em 1795, e outra versão original latina, anterior à primeira, que contém ligeiras variações em confronto com a tradução do grego, e que pode ser encontrada na Acta Sanctorum, Augustus IV, p. 757 ff.
     A Acta martyrum ad Ostia Tiberina narra o martírio de alguns cristãos naquela cidade portuária. O redator, anônimo, reuniu em um só texto os nomes de alguns mártires, entre eles importantes expoentes do clero de Óstia, que na realidade sofreram o martírio em épocas diferentes, por exemplo, Censorino, um dos protagonistas, sofreu o martírio dezenas de anos antes de Áurea; enquanto Taurino, Herculano e Hipólito foram martirizados anos depois dela.
     Os eventos têm lugar na cidade de Óstia em uma comunidade cristã que girava em torno de uma jovem nobre romana que se chama Chryse (Crisa) em grego, e Áurea em latim (“dourada” em ambos os casos). Era imperador Cláudio, o Gótico (268-270).
     O relato inicia falando de Censorino um “comandante militar com autoridade de juiz (prefeito)”, que era cristão em segredo. Ele visitava os cristãos encarcerados e lhes levava comida. Descoberto, foi levado diante de Cláudio que o obrigou a sacrificar aos deuses. Como ele se negasse, foi mandado para a prisão militar de Óstia.
     Nesta cidade vivia Áurea, que já havia sofrido algo da perseguição: quando se descobriu que ela era cristã, seus bens haviam sido confiscados, fora exilada de Roma e vivia em Óstia em uma pequena propriedade que lhe deixaram, em comunidade com outras virgens e outros cristãos.
     Áurea visitava Censorino na prisão, levava-lhe comida, cuidava de suas feridas. Alguns companheiros cristãos a acompanhavam e fizeram grandes milagres diante dos guardas da prisão. As notícias chegaram ao imperador Cláudio que pensou que estavam fazendo magia negra e tomou medidas contra aquela comunidade cristã, especialmente contra “a sacrílega Áurea, que ofuscou sua linhagem dedicando-se a práticas mágicas”.
     Em resumo, podemos sintetizar a tradição hagiográfica concernente a Áurea, como segue: No tempo de Cláudio, ela foi aprisionada e interrogada pelo próprio imperador, e depois de ser torturada, foi exilada em Óstia e confinada em sua propriedade. Mas, foi novamente aprisionada e torturada, sendo por fim lançada no mar com uma pedra no pescoço. O seu corpo, levado para a praia pelas ondas, foi sepultado por Nonno em 29 de agosto de um ano não preciso.
     As relíquias da Santa têm um percurso claro o que autentica a existência histórica da mesma. Depois de permanecer enterrada fora da cidade de Óstia, seus restos foram transladados posteriormente para Roma, para as catacumbas de São Saturnino na Via Salaria; finalmente, em 1735, foram levados definitivamente para Albano, para a igreja das Irmãs Oblatas de Jesus e Maria, onde são expostos à veneração pública em uma urna com a inscrição: “Ossos de Santa Áurea, virgem e mártir, padroeira de Óstia”.
Basílica de Sta. Áurea, Óstia
     Em 1981, um fragmento de mármore encontrado próximo à igreja de Santa Áurea contém uma importante inscrição funerária. Uma cópia deste fragmento permanece na capela da igreja, enquanto o original é custodiado no castelo de Óstia. A inscrição diz: Chryse hic dormit – Aqui jaz Crisa (como vimos, Crisa é a versão grega do nome da Santa). Outra inscrição, datada do século V, diz: “S.Aur” – Santa Áurea.
     Em 1693, o cardeal Alderano Cybo fez uma comemoração à mártir, com o seguinte texto: “No ano de Jesus Cristo, 229, sob Urbano I e o imperador Alexandre Severo, Áurea, virgem romana de nobre família, pela fé de Cristo foi torturada barbaramente: encarcerada por 7 dias sem comida nem bebida, impávida se apresentou diante do juiz desprezando as ameaças. Flagelada, torturada, golpeada, com as costelas fraturadas, foi lançada ao mar com uma pedra ao pescoço, merecendo a coroa do martírio glorioso que o Senhor lhe preparou eternamente.
     O Cardeal Alderano Cybo, bispo de Óstia, em 24 de agosto de 1693, renovou a lembrança perdida que narra onde padeceu morte para que não morra a fama de sua santidade.
     Existia em Óstia uma igreja dedicada à Áurea na qual os papas Sérgio I (m. 701), Leão II (m. 8l6) e Leão IV (m. 855) fizeram sucessivas restaurações; nela foi sepultada Santa Mônica (m. 387), mãe de Santo Agostinho.
     A antiga igreja de Santa Áurea, ampliada no final de 1400, quando Baccio Pontelli construiu um castelo e a incluiu no cinturão de defesa, é hoje a catedral da diocese suburbicária de Óstia.
Interior da Basílica
http://www.preguntasantoral.es/2013/05/santa-aurea-de-ostia/

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Beata Blandina Merten, Ursulina - 18 de maio


«Deus não requer obras extraordinárias; só deseja amor», Beata Blandina Merten.

     Nona de dez irmãos, nasceu em Düppenweiler de Saarland (Alemanha), a 10 de julho de 1883. Foi batizada dois dias após o nascimento com o nome de Maria Madalena. Seus pais, João Merten e Catarina Winter, eram humildes agricultores, mas muito estimados por suas virtudes cristãs.
       Na família predominava a educação religiosa. Eram práticas habituais o Terço, a Missa e os Sacramentos. Aos 12 anos, Maria Madalena, segundo o costume da época, fez a Primeira Comunhão e recebeu o Crisma pouco depois. A partir deste momento a devoção à Eucaristia influiria beneficamente em toda a sua vida.
       Terminou seus estudos brilhantemente com alta classificação no Instituto de Magistério de Marienau em Vallendar, obtendo o diploma de professora. Lecionou em Morscheid, Hunsrück de 1902 a 1908. Tornou-se verdadeiramente um modelo de mestra católica pela bondade e saber, pela prudência e dedicação.
     As crianças, particularmente as mais pobres, eram as visadas pela sua bondade. Seu trabalho junto a elas era completo: roupa, alimento, ensino, tudo realizado com uma delicadeza proverbial e generosidade. Além do saber acadêmico, sua visão iluminada pela Fé auxiliava-a na orientação de suas alunas no caminho do amor ao Nosso Redentor e a sua Mãe Ssma.
       Entretanto, o "vem e segue-Me" do Divino Mestre ecoou em boa hora na sua alma bem-disposta. E assim, aos 25 anos, no dia 2 de abril de 1908, junto com sua irmã Elise, deu entrada no Instituto das Ursulinas de Calvarienberg, em Ahrweiler. Tomou o nome de Irmã Blandina do Sagrado Coração, e emitiu os primeiros votos a 3 de novembro de 1910.
     Seu diretor espiritual, o padre jesuíta Merk, autorizou que aos seus votos de pobreza, castidade e obediência ela acrescentasse o de “ser vítima”. É preciso valentia e fortaleza, muito amor para enfrentar a dor de viseira erguida, e Irmã Blandina possuía estas graças. Ela própria, na altura da profissão perpétua, a 4 de novembro de 1913, escreveu o seguinte: "Nesse dia consagrei-me ao Divino Redentor e tenho por certo que Ele aprovou o sacrifício".
       De novo lançada nas tarefas do ensino, continuou dando provas de muita competência e de singulares virtudes. Como autêntico modelo de mestra católica e credora da estima geral, sobressaíram na Irmã Blandina Merten as seguintes qualidades e virtudes: grande espírito de fé e de oração, vivo amor à Eucaristia e à Santíssima Virgem, singular dedicação ao trabalho e aos alunos.
      A sua piedade e modéstia, a sua delicadeza e pureza  granjearam-lhe o apelido de "anjo" entre os seus semelhantes desde tenra idade. O cumprimento fiel dos seus deveres profissionais, como professora, estava unido à incessante aspiração à santidade pessoal.
       De fato, tão relevante espiritualidade há de atribuir-se antes de mais ao espírito de oração, à contemplação das verdades divinas, à devoção a Cristo Sacramentado e ao seu Divino Coração.
      O caminho terrestre da Irmã Blandina não seria longo. Foi destinada à escola de Saarbrücken, e ali apareceram os primeiros sintomas de uma doença pulmonar incurável na época. Em 1910, por indicação médica, foi transferida para Tréveris, onde ainda pôde prosseguir lecionando. Mas no outono de 1916, a saúde agravou-se, teve de ser trasladada para o hospital das Irmãs doentes, em Merienhaus.
      A última fase da vida passou-a em permanente colóquio de amor com Deus, a quem toda se ofereceu. Como a enfermaria ficava próxima da capela, com grande dose de conformidade, paciência e paz interior, ela dizia: “Jesus e eu somos vizinhos!” Nem a solidão nem as dores lhe puderam roubar o sorriso e a paz interior. “A dor - dizia ela – é a melhor escola do amor”.
     Pode dizer-se que a Irmã Blandina não fez coisas extraordinárias, mas sim que executou extraordinariamente os seus deveres quotidianos.  Aos 35 anos de idade e 11 de vida religiosa, faleceu placidamente com o nome de Jesus nos lábios, no dia 18 de maio de 1918, há exatamente 100 anos! Foi beatificada em 1º de novembro de 1987. 
O convento das Ursulinas
AAS 76 (1984) 185-8; 80 (1988) 961-4 – Cf. Pe. José Leite, S.J. Santos de cada dia.
http://es.catholic.net/op/articulos/36098/blandina-merten-beata.html#

Em 17 de maio de 2012 este blog postou um pequeno resumo sobre esta Beata.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Beata Antônia Mesina, Mártir da Pureza - 17 de maio

Martirológio Romano: Na aldeia de Orgosolo, na região da Sardenha, na Itália, Beata Antônia Mesina, virgem e mártir, que aos dezesseis anos, entregue às obras em favor da Igreja, defendeu sua castidade até a morte ( 1935).
     Em 1902, num pequeno povoado italiano, Maria Goretti foi atrozmente assassinada ao oferecer resistência a uma tentativa de violação. Tinha apenas onze anos. Em 1935, na Sardenha, uma história semelhante abateu-se sobre Antônia Mesina, uma jovem de dezesseis anos. Ambas deram a vida para defender a sua pureza. Em que medida estas mártires são um exemplo de fé?
     Em 1947, ao beatificar a jovem mártir da pureza Maria Goretti (1890-1902), o Papa Pio XII quis indicá-la às jovens como exemplo de defesa extrema e heroica da pureza, e a proclamou Santa em 1950, durante o Ano Santo. O reconhecimento oficial da Igreja desta forma de martírio – que se pode considerar, segundo a linguagem de hoje, como um estupro com um fim trágico devido à resistência da vítima – traz uma nova luz ao martírio: o conceito de defesa da pureza como dom de Deus e o rebelar-se consciente até a morte. São Domingos Sávio dizia: “Antes morrer do que pecar”.
     Antônia, filha de Agostinho Mesina e de Graça Rubanu, nasceu a 21 de junho de 1919, em Orgosolo, na província de Nuoro, Sardenha. Foi batizada na paróquia de São Pedro, originária do século XIV, no dia 30 do mesmo mês e, como era uso então, foi crismada a 10 de novembro de 1920, quando tinha menos de dois anos de idade, pelo bispo D. Lucas Canepa. Aos sete anos fez a Primeira Comunhão. Era a segunda filha de 10 irmãos, seis dos quais morreram muito pequenos.
     A família, de condição modesta, era sustentada pelo pai que era guarda campestre, o que já era alguma coisa na carente economia de Orgosolo, região das colinas da Barbagia (alt. 620m), ao norte dos montes do Gennargentu, com as suas características casinhas, e cujas principais fontes de renda dos habitantes eram o pastoreio e a exploração dos bosques circunstantes.
     Como toda família numerosa, Antônia tinha que ajudar a mãe nas atividades domésticas e cuidava dos irmãos menores com atenção maternal.
     Antônia Mesina se formou na escola da Juventude Feminina da Ação Católica e de 1929 a 1931 fez parte dela como ‘benjamina’ (aspirante), e de 1934 a 1935, como sócia efetiva (militante ativa). Era de uma piedade simples e fervorosa, generosa na dedicação à sua família, respeitosa e caridosa com todos. Tinha grande devoção pela Eucaristia, pelo Sagrado Coração de Jesus e pela Virgem Ssma. Rezava com frequência o Rosário e comungava sempre que podia.
     De caráter reservado, porém decidido, típico da personalidade das mulheres da sua região, evitava tudo que pudesse ofuscar o seu bom nome e a sua modéstia. Participava com espontaneidade dos eventos de Orgosolo: uma foto a retrata usando o belíssimo traje usado pelas senhoras da Sardenha nas tradicionais festas da Assunção (15 agosto) e de S. Ananias (primeiro domingo de junho).
     Com entusiasmo fazia parte da famosa Cruzada pela Pureza, da qual também participara a Beata Pierina Morosini, uma iniciativa da Juventude Feminina da Ação Católica. Ao tomar conhecimento da heroicidade do martírio de Santa Maria Goretti, ficou impactada e muitas vezes disse aos seus parentes que se ela se encontrasse na mesma situação que aquela menina, preferiria agir como ela. Seu irmão Júlio declararia posteriormente que sua irmã tinha um livro dedicado a Santa Maria Goretti e a conhecia muito bem. Um dia, contando a sua mãe um abuso ocorrido com uma jovem esposa de Lollove, Novara, declarou decidida: “Se isso acontecesse comigo, antes me esmagariam como a uma formiga do que eu cedesse!
     No dia 17 de maio de 1935, após ter assistido a Santa Missa na paróquia de São Pedro e ter recebido a Santa Comunhão, a pedido de sua mãe foi ao bosque dos arredores para recolher lenha, segundo o costume, para atender às necessidades da família. Acompanhava-a uma amiga, Ana Castangia.
     Encontrava-se na localidade “Obadduthai” quando um jovem da sua região, Inácio João Catgiu, a abordou convidando-a a cometer pecado, mas ela resiste energicamente à sua paixão insana. Ana Castangia voltou-se e viu Antônia assaltada pelo jovem, cego diante da recusa, que a agride e ela gritando pedindo ajuda, mas ela, muito jovem, nada pode fazer para ajudar a amiga.
     O agressor a sujeitou, mas Antônia era forte e conseguiu escapar; ele a perseguiu e alcançou, com violência golpeou-a na face com uma grande pedra. Com o rosto ensanguentado e a vista obnubilada, Antônia caiu de joelhos, deixando ali uma primeira poça de sangue. Catgiu agarrou-a pelos cabelos e arrastou-a por 9 metros, e ali tentou violá-la. A jovem não se rendeu e lutou bravamente contra seu agressor, enquanto continuava gritando pedindo por ajuda. Sua resistência tornou a violação impossível e com mais fúria o assassino a agrediu, desta vez com golpes de pedra até que desse conta que a havia matado. Neste local ficou mais uma poça de sangue. Catgiu escondeu o cadáver entre os arbustos e se foi.
     Quando o corpo foi encontrado estava em condições horríveis: Antônia fora ferida com 74 golpes de pedra, e seu rosto estava irreconhecível. A autopsia revelou que a violação não se consumara e o próprio assassino confessou que a havia matado porque não havia querido manter relações com ele. O Dr. Rafael Calamida, que a havia examinado, declarou: “Antônia Mesina venceu, mas lhe custou a vida!”. O juiz Emanuel Pili também disse: “Martirizada, porém pura!
     Assim, com apenas 16 anos, morreu Antônia Mesina defendendo a sua pureza, impregnando aquela nobre e antiga terra com o seu sangue inocente, tornando-se uma flor a ser admirada pelo povo de Orgosolo, que participou em massa, no dia 19 de maio de 1935, dos solenes funerais.
     Sua fama de santidade logo se espalhou; sua morte foi considerada como um martírio semelhante ao de Santa Maria Goretti.
     Em 5 de outubro de 1935, Armida Barelli foi contar ao Papa Pio XI a história da "primeira flor da Juventude Feminina de A.C.I. colhida, o primeiro lírio cortado pelo martírio, a jovem de 16 anos, Antônia Mesina de Orgosolo, educada na escola de Maria Goretti". Milhares de cartas pediam a beatificação de Antônia, por isso a Congregação para as Causas dos Santos deu o nihil obstat para o início do processo em 22 de setembro de 1978. O papa João Paulo II beatificou esta filha da Sardenha no dia 4 de outubro de 1987.
     A mãe da Beata afirmou no processo canônico: "Não me lembro de repreendê-la: ela não me dava motivo nem ao pai. Ela parecia um anjo pelo modéstia e obediência. Ela também amava muito o silêncio e a privacidade, e tinha um profundo espírito de sacrifício". Quando, em 1935, a Sra. Graça deu à luz gêmeos, ela confiou-os a Antônia. A jovem era muitas vezes forçada a passar noites sem dormir, ou a dormir no chão no quarto da mãe, não porque não tivesse cama, mas para estar pronta para dar a ela, muito doente, e aos irmãos pequenos, a ajuda de que precisavam.
     A Sra. Graça Mesina declarou ainda: "Eu notei nela uma mudança para melhor quando ela passou a frequentar da Ação Católica. Para poder ir receber a Comunhão, confiava seus irmãozinhos a alguma vizinha". Quando isto não era possível, ela fazia orações mais longas em casa, entre uma ocupação e outra. Júlio, depondo no processo, relatou: "Várias vezes encontrei-a em seu quarto de joelhos e com o rosário na mão".
     Na cerimônia de beatificação estavam presentes muitos parentes de Antônia. Um caso curioso foi o de seu primo Graciano Mesina: condenado a prisão perpétua, ele declarou que estava orgulhoso de sua prima, e que teria gostado de assistir à cerimônia de sua beatificação.
     No lugar do martírio da Beata foi erguida uma cruz com estas palavras: "Antônia Mesina, pura e forte". Parece que a mártir previu seu fim violento. Seu irmão Júlio testemunhou no julgamento que poucos dias antes de sua morte, quando ele passava pelo mesmo local com ela e duas jovens de Orgosolo, "ela nos disse para ajoelharmo-nos diante da cruz chamada de "o juramento" que ficava logo abaixo da Igreja de Santo Ananias, e nos convidou a rezar porque um dia, mais acima, eles erguerão outra, que será a minha".
     Entre as testemunhas diretas dos eventos ligados ao martírio de Antônia Mesina, deve ser mencionado o Procurador Geral da República em Gênova, Francisco Coco. O juiz, assassinado em 8 de junho de 1976 pelas Brigadas Vermelhas em Gênova, com o agente de escolta João Saponara e o motorista Antíoco Deiana, em maio de 1935 era juiz investigador do tribunal de Nuoro e assistiu à autópsia de Antônia Mesina. Ele deixou um testemunho comovente do fato. Os pais de Antônia não expressavam propósitos de vingança ou ódio em relação ao assassino, mas o Tribunal de Assisse de Sassari, convocado em Nuoro, reconheceu-o como normal e responsável pelo grave crime cometido em 17/5/1935, condenando-o à morte. Catgiu foi fuzilado em 5 de agosto do mesmo ano na localidade de Prato Sardo (Nuoro) depois de ter recebido todos os sacramentos.

Fontes:
http://biscobreak.altervista.org/2013/05/beata-antonia-mesina/

Um relato sobre esta Beata foi postado neste blog em 16 de maio de 2011