Mary
Ward nasceu em 23 de janeiro de 1585; faleceu em 30 de janeiro de 1645. Era filha
mais velha de Marmaduke Ward e Úrsula Wright, e ligado por sangue com a maioria
das grandes famílias católicas de Yorkshire.
A família de Mary pertencia à nobreza
rural de Yorkshire que havia permanecido fiel a fé católica. A filha mais velha
dos Ward, ficou mais ou menos marcada pela execução dos membros da realeza: em
1587 (quando Mary tinha dois anos) Maria Stuart foi executada; quatro anos
depois, em 1649, o rei Carlos I foi decapitado. Apesar de tudo isto, a
disposição interior de Mary quase nunca chegou a atingir uma nota trágica.
Durante a infância e juventude, com seu
espirito vivo, presenciou a perseguição aos católicos de sua pátria por parte
da igreja anglicana. Assim, pela fé nenhum sacrifício lhe parecia excessivo,
viu de perto os intrépidos missionários, provavelmente também foi testemunha de
registros familiares e viu como tinham que esconder sacerdotes católicos e
objetos sagrados. Ouvia relatos sobre os mártires que davam sua vida. Nesse
tempo tão duro foi crescendo e a luta enfrentada pela família, pela pátria e
pela fé acompanharam-na ao longo de sua vida.
Não foi uma menina mimada. Durante um
incêndio na casa paterna, Mary, junto com suas irmãs implorou o auxílio de
Nossa Senhora rezando o Rosário. O pai salvou suas três filhas e a casa ficou
reduzida a cinzas!
Em 1606, aos 21 anos, Mary deixou sua
família, com o consentimento de seu confessor e foi para Saint-Omer (uma cidade
pequena dos Países Baixos espanhóis, a uns 30 k de distância de Calais, França)
acompanhada da Sra. Bentley, aos cuidados de quem tinha sido encomendada. Entrou
num convento de Clarissas em Saint-Omer como irmã leiga. No ano seguinte fundou
uma casa para inglesas em Gravelines, mas não se sentindo chamada à vida
contemplativa, resolveu dedicar-se ao trabalho ativo.
Com vinte e quatro anos de idade viu-se
cercada por um grupo de companheiras dedicadas, determinadas a trabalhar sob
sua orientação. Em Londres, a vida edificante de Mary e suas palavras
persuasivas ganharam várias jovens damas da nobreza para o serviço do Esposo
Divino. Inspiradas por seu exemplo e para fugir às ciladas do mundo, partiram
com ela para Saint-Omer, para servir Deus no estado religioso sob a direção de
Mary.
Em 1609 estabeleceram-se como uma
comunidade religiosa em St. Omer, e abriram escolas para ricos e pobres. O
empreendimento foi um sucesso, mas foi uma novidade, e atraiu censura e
oposição, bem como elogios.
Sua ideia era permitir que as mulheres
fizessem pela Igreja, em seu próprio campo, o que os homens faziam por ela na
Companhia de Jesus. A ideia foi realizada uma e outra vez nos tempos modernos,
mas no século XVII encontrou pouco incentivo. As freiras não clausuradas eram
uma inovação repugnante aos princípios e tradições de longa data então prevalentes.
O trabalho das mulheres religiosas era então limitado à oração e aos bons serviços
para o próximo que podiam ser feitos a partir das paredes de um convento. Havia
outras diferenças surpreendentes entre o novo instituto e as existentes
congregações femininas: a ausência de reclusão, a não obrigação do coro, do
hábito religioso e da jurisdição do bispo diocesano.
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Mary e companheiras partem para St Omer |
Além disso, seu projeto foi apresentado em
uma época em que havia muita divisão entre os católicos ingleses, e o fato de
ter-se baseado tanto na Sociedade de Jesus (também objeto de suspeita e
hostilidade em muitos lugares) aumentou a desconfiança que ele inspirou. Seus
oponentes pediram um pronunciamento da autoridade quanto ao status e aos
méritos de seu trabalho. Já em 1615, Suarez e Lessius tinham sido solicitados a
opinar sobre o novo instituto. Ambos elogiaram seu modo de vida. Lessius
sustentava que a aprovação episcopal bastaria para torná-lo um corpo religioso;
Suarez sustentou que seu objetivo, organização e métodos, sem precedentes no
caso das mulheres, exigiam a sanção da Santa Sé.
São Pio V havia declarado que os votos
solenes e a rigorosa clausura papal eram essenciais para todas as comunidades
religiosas femininas. Esta lei dificultava a propagação de seu instituto em Flandres,
na Baviera, na Áustria e na Itália, o que a fez recorrer à aprovação formal da
Santa Sé. A Arquiduquesa Isabel, o eleitor Maximiliano I e o imperador Fernando
II acolheram a congregação em seus domínios e, juntamente com homens como o
cardeal Federico Borromeo, o frei Domingos de Jesus e o padre Mutio
Vitelleschi, general da Companhia de Jesus, que tinham singular veneração pela
fundadora.
Em 1626, quando Mary estava indo para Munique
pela primeira vez, não distante de Isarberg, ela disse para suas companheiras
que Deus havia revelado para ela em oração que Sua Alteza o Eleitor proveria
uma boa casa para elas e meios de subsistência. Isto efetivamente ocorreu logo
depois da chegada delas em Munique.
No Natal de 1626, Mary assistiu a Santa
Missa na Igreja dos Capuchinhos de Munique e rezou com fervor ao Salvador
recém-nascido pela conversão do Rei da Inglaterra. Deus revelou-lhe o infinito
amor que Ele tinha pelo Rei e quanto Ele desejava que ele gozasse com Ele a
eterna glória, mas era preciso a cooperação do Rei.
Paulo V, Gregório XV e Urbano VIII
mostraram sua grande bondade e falaram em louvor ao seu trabalho, e em 1629 ela
foi autorizada a defender pessoalmente sua própria causa diante da congregação
de cardeais indicada por Urbano VIII para examiná-la. As "Jesuitesas",
como sua congregação foi designada por seus oponentes, foram suprimidas em
1630.
Em 7 de fevereiro de 1631, Golla, deão de
Frauenkirche de Munique, conduziu a fundadora a uma cela de prisioneira no
convento das Clarissas de Anger. Sem rebelar-se, mas profundamente afetada,
Mary se deixou conduzir. Era suspeita de heresia, de cisma, de rebelião, o
maior sofrimento possível para esta filha fiel da Igreja. Durante as nove
semanas de prisão continuou sendo uma mulher forte, sem ressentimentos. O Deão
Golla permitiu que suas companheiras lhe levassem comida duas vezes ao dia. Das
prisões inglesas estas mulheres conheciam o procedimento de escrever com sumo
de limão, que rapidamente era absorvido pelo papel e se tornavam legíveis
diante do fogo. Assim Mary Ward, a quem tinha sido proibida qualquer
correspondência, pode se comunicar com suas companheiras.
As cartas escritas no convento de Anger
são hoje um tesouro precioso para se conhecer Mary nestas difíceis semanas. Ela
sentia fortes dores causadas por pedras nos rins. Apesar disto, escrevia: “Tenho ainda muita saúde e força para meu
Mestre e Senhor e em seu serviço... Quem sabe o que Deus pretende com todos
esses acontecimentos? Realmente não o sabem eles [os que haviam provocado] nem
eu o sei; também não quero saber de nada e não ter outra vontade além da Sua...
Sejam alegres e não duvidem de nosso Mestre”.
Em fins de março sua vida estava ameaçada.
Para poder receber os últimos Sacramentos tinha que assinar um documento que
lhe pareceu uma retratação; assim, redigiu um documento próprio, afirmando mais
uma vez sua fidelidade ao Papa e a Igreja. Também defendia sua inocência, sem
manifestar a mínima queixa. Recebeu os Sacramentos e as companheiras foram
despedir-se dela no convento de Anger. Em 14 de abril, após um restabelecimento
que assombrou os médicos, ela voltou para Paradeiserhaus.
Em dezembro de 1636 sua saúde piorou. Em
30 de julho de 1637 lhe administraram os últimos Sacramentos. O papa, que nos
últimos anos havia proporcionado um ou outro apoio, enviou ao domicilio das
inglesas seu irmão, o Cardeal Sant’Onofrio, e também sua cunhada, Dona
Constanza Berberini, com quem Mary tinha travado amizade. A febre cessou, mas
os cálculos renais impediam a doente de comer e dormir. Ela obteve permissão
para ir a uma cura de águas em Spa e nesta ocasião o Papa Urbano VIII chamou-a
de “grande e santa serva de Deus”.
Em 10 de setembro de 1637 Mary deixou a
Cidade Eterna e passando por Siena, Milão e Lion, se dirigiu a Paris e dali a
Liege e Spa.
Atendendo o desejo expresso do Papa Urbano,
Mary foi a Roma, e lá, como ela reuniu em torno dela os membros mais jovens de
sua família religiosa, sob a supervisão e proteção da Santa Sé, o novo
instituto tomou forma.
Em 20 de maio de 1639, com cartas de
apresentação do papa Urbano à rainha Henrieta Maria, Mary retornou a Inglaterra
e estabeleceu-se em Londres. Há 33 anos ela saíra de sua pátria pela primeira
vez, e há vinte não a visitava. Por incrível que pareça, ela pretendia abrir um
colégio na agitada cidade... Escreveu a Roma sobre este plano, observando que
isto não poderia se realizar sem um milagre. E o milagre não aconteceu...
Em setembro de 1642, diante das convulsões
da guerra civil em Londres, foi para Heworth, perto de York; em Yorkshire também
chegaram as tropas dos parlamentaristas. Na cidade assediada, as pessoas
buscavam consolo e ajuda junto a esta mulher de quem emanava sossego e bondade.
Isto não era novo ao longo da vida de Mary
Ward: ajudar as pessoas foi a finalidade de toda sua vida. Devia ter a
amabilidade extraordinária que ganhava os corações. Certa vez que Mary esteve
em Londres, suas palavras zelosas e persuasivas levaram sua tia, Srta. Gray, a
falar com um padre da Sociedade de Jesus com vistas a aceitar a fé verdadeira. Mary
conseguiu trazê-lo de volta a fé em seu leito de morte e após obstinada heresia;
o sacerdote recebeu o Sagrado Viático com grande devoção,
Mary Ward faleceu no dia 30 de janeiro de
1645 em Heworth. A pedra sobre seu túmulo no cemitério da vila de Osbaldwick é
preservada até a atualidade.
Sua obra, entretanto, não foi destruída.
Ela reviveu gradualmente e se desenvolveu seguindo as linhas gerais do primeiro
projeto.
Atualmente existem 85 casas na Baviera,
com 1153 membros, 90 postulantes, 1225 pensionistas, 11.447 alunos e 1472
órfãos. Quatro casas na Índia, uma em Roma e duas na Inglaterra estão sujeitas
a Nymphenburg. A casa em Mainz escapou da secularização, sendo poupada por
Napoleão na condição de que toda conexão com a Baviera deveria cessar. É agora
a Casa-mãe de um ramo que tem oito casas filiais.
Há 19 casas do instituto na Irlanda, 8
casas no Canadá, 3 nos Estados Unidos, 7 na Inglaterra, cerca de 180 casas em
total. Devido à variedade de nomes e à independência dos ramos e casas, a
unidade essencial do instituto não é prontamente reconhecida. As "Virgens
Inglesas", ou "senhoras inglesas", são o título sob o qual os
membros são conhecidos na Alemanha e na Itália, enquanto na Irlanda o nome mais
conhecido é "Freiras de Loretto", do nome do famoso santuário
italiano dado à Casa-mãe em Rathfarnham. Cada ramo tem seu próprio noviciado, e
vários têm suas constituições especiais aprovadas pela Santa Sé.
O "Instituto de Maria" é o
título oficial de todos; todos seguem a regra aprovada por Clemente XI em 1703,
e participam da aprovação do Instituto dado por Pio IX, em 1877.
As irmãs dedicam-se principalmente à
educação das meninas em internatos e academias, mas também atuam nas escolas
primárias e secundárias, na formação de professores, na instrução nos ofícios e
na economia doméstica, e no cuidado dos órfãos. Vários membros do instituto
também se tornaram conhecidos como escritores.
Mary Ward foi declarada Venerável por
Bento XVI em 19 de dezembro de 2009. O Papa Pio XII, referindo-se a Mary Ward,
se expressou dizendo: "Convém
lembrarmos de uma grande figura da história católica: Mary Ward, essa mulher
incomparável que nas horas mais negras e sangrentas, a Inglaterra deu à Igreja".
Fonte:
www.nobility.org;
http://irlandesasloreto.org/es/content/vida-de-mary-ward
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As primeiras religiosas do Instituto |