terça-feira, 24 de outubro de 2023

Rainha Branca de Castela, Mãe de São Luís IX, e o Rosário

Estátua da Rainha no
Jardim de Luxemburgo
No mês do Rosário, conheçamos uma grande propulsora desta devoção 
 
     A Rainha Branca de Castela (1187-1251), a esposa do Rei Luís VIII, estava profundamente triste porque ela ainda não tinha filhos após 12 anos de casamento. Quando São Domingos de Gusmão foi vê-la, ele aconselhou-a a rezar o terço todos os dias para pedir a Deus a graça da maternidade.
     Ela seguiu o seu conselho fielmente. Em 1213, ela deu à luz seu filho mais velho, Filipe, mas a criança morreu na infância. O fervor da Rainha não foi de modo algum embotado por essa decepção.
     Pelo contrário, ela procurou a ajuda de Nossa Senhora, mais do que nunca. Ela havia distribuído um grande número de Rosários para todos os membros da corte e também para as pessoas em várias cidades do Reino, pedindo-lhes para se juntar a ela rogando a Deus por uma bênção que desta vez seria completa.
     Em 1215, ela deu à luz a São Luís, o príncipe que viria a ser a glória da França e o modelo de todos os Reis Católicos. Ele usou sua coroa terrena de modo perfeito, e assim ganhou uma coroa celestial cuja glória nunca se apagará.
     Esta história foi relatada em um livro de exempla Mariano, o Ulm Rosary Handbook, escrito por Alanus de Rupe em 1483. Mais tarde, São Luís Maria Grignion de Montfort iria repetir a história em seu livro O Segredo do Rosário, para incentivar a oração do Rosário.
Nascimento de S Luís IX
     Se São Luís foi um Rei católico exemplar, sua mãe Branca de Castela foi o modelo de Rainha Católica piedosa, forte. No livro Married Saints [Santos Casados] (p. 110-128), lemos que ela combinou o gênio para governar com as melhores qualidades da maternidade:
     Com a morte prematura de Luís VIII, o reino enfrentou uma crise uma vez que Luís era apenas um menino de 12 anos. A Rainha Branca governou o reino como regente por oito anos – 1226-1234 – com sabedoria e vigor até que ele pudesse ser coroado como Luís IX. Ela frustrou repetidamente as tramas dos barões contra seu filho, e entrou em guerra contra os nobres, quando necessário, para preservar a unidade do reino. Ela foi muito mais inteligente do que eles e, finalmente, conseguiu fazê-los respeitar sua autoridade.
     Branca levou São Luís com ela em suas campanhas militares, e fê-lo sentar-se ao lado dela nos conselhos de Estado. Isto deu a ele treinamento na arte de governar, pois ele aprendeu não só através de preceitos, mas através da demonstração ocular. Branca não se contentou em treinar seu filho para ser um rei, ela o instruiu também nos caminhos da santidade. Ela ensinou-lhe a fé católica e a devoção, e incutiu-lhe o costume de rezar, que ele nunca abandonou.
     Desde os seus primeiros anos, ela se esforçou para impressionar a sua mente sensível com o valor da santidade. Ela costumava dizer-lhe: “Eu preferiria vê-lo morto a saber que você deve viver para cometer um pecado mortal”.
A Rainha ensinando
São Luís IX
     A confiança que São Luís IX tinha em sua mãe é óbvia: quando ele pegou em armas na guerra santa contra os sarracenos, no Egito, ele fez Branca a Rainha regente da França.
     Em sua partida, ele disse à sua mãe: “Deixo os meus três filhos para a senhora guardá-los. Deixo este reino da França para a senhora governá-lo. Verdadeiramente eu sei que meus filhos vão ser bem guardados e o reino bem governado”.
     A Rainha Branca realmente suprimiu rebeliões e ampliou o poder da dinastia francesa.
     Em 1249, enquanto o seu filho estava na Cruzada, ela completou a absorção do sul da França para o Reino e fez alianças vantajosas. Como resultado, o Reino da França ficou mais próximo da aparência que tem hoje.
 

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Santa Laura de Córdoba, Abadessa e Mártir - 19 de outubro

     
Laura pertencia a uma nobre família e era casada com um importante funcionário do emirado independente cordobês. Ao enviuvar, entrou no Mosteiro de Santa Maria de Cuteclara (¹), vizinho de Córdoba, chegando inclusive a ser abadessa em 856, sucedendo Santa Áurea.
     Quando desatou uma perseguição muçulmana contra os cristãos, Laura proclamou publicamente sua Fé católica e o emir Muhammad I mandou prendê-la e açoitar. Ao verem que ela não renegava o Cristianismo, foi levada perante o tribunal islâmico, foi processada e condenada a morrer em um banho de óleo fervente. Depois de três horas de atrozes sofrimentos, entregou sua alma a Deus, no dia 19 de outubro de 864.
     Embora haja poucas informações sobre esta Santa, o seu culto se expandiu enormemente e o seu nome é muito difundido em toda a Europa. Muitos estudiosos acreditam que o seu nome derive do Latim, ‘laurus’: ‘loureiro’ (árvore) símbolo de sabedoria e de glória. Também pode ter como origem a ‘coroa de louros’ ou ‘laurel’, que significa ‘vitória, triunfo’, pois das folhas daquela árvore eram feitas coroas que cingiam a cabeça dos vencedores de jogos e de torneios poéticos. Nos tempos dos romanos era mais comum encontrar o nome Laurência do que Laura.
     O Martirológio Espanhol narra que durante a ocupação muçulmana Laura recusou abjurar a Fé cristã. Ela faz parte do grupo dos 48 Mártires de Córdoba. Sua festividade se celebra no dia 19 de outubro.
 
      (¹) O Mosteiro de Santa Maria de Cuteclara, provavelmente existia desde antes da invasão muçulmana e era um mosteiro do tipo chamado duplo, quer dizer, acolhia uma comunidade masculina e outra feminina no mesmo cenóbio, sendo a feminina, segundo alguns estudos, predominante neste caso.
     Existiam, portanto, um abade e uma abadessa ao mesmo tempo, e de vários deles conhecemos os nomes, como, por exemplo, Frugelo, Pedro de Écija e Artêmia. Áurea, Maria, Columba foram monjas de Cuteclara, e tanto elas como os outros mencionados são considerados santos mártires pela Igreja Católica, ao serem executados em meados do séc. IX, por sua pública e deliberada rejeição ao Islã.
     Não se tem dados sobre quando o mosteiro desapareceu.

domingo, 15 de outubro de 2023

Santa Margarida Maria Alacoque, Visitandina - 16 de outubro

     
Margarida Maria Alacoque nasceu no dia 22 de julho de 1647, na Borgonha, França. Seu pai, Claude Alacoque, era escrivão real; sua mãe, Philiberte Lamyn, era filha do também escrivão real François Lamyn. Sua família de posses, religiosa, com reputação de seriedade e honra, sofreu duro golpe após a morte do pai. Margarida teve uma juventude difícil: enfermidades, sua e da mãe, a resistência dos parentes para que abraçasse a vida religiosa. Finalmente, aos 24 anos, entrou no convento da Visitação de Santa Maria, em Paray-le-Monial, Ordem fundada por São Francisco de Sales e Santa Joana de Chantal.
     Ela permaneceu entre as Visitandinas por 20 anos, e desde o princípio se ofereceu como “vítima ao Coração de Jesus”. Foi incompreendida pelas religiosas, mal julgada pelos superiores; até os diretores espirituais desconfiaram dela julgando-a uma visionária.
     Finalmente, São Cláudio La Colombière tornou-se o guia precioso desta mística Visitandina, ordenando-lhe narrar, numa autobiografia, as suas experiências místicas. Por inspiração desta Santa a festa do Sagrado Coração de Jesus nasceu, e a ela se deve a prática das Nove Primeiras Sextas-feiras do mês.
     Santa Margarida Maria faleceu no dia 17 de outubro de 1690, em Paray-le-Monial, na França. Em março de 1824, Leão XIII a declarou Venerável, e em 18 de setembro de 1864, Pio IX a beatificou. Santa Margarida Maria foi canonizada por Bento XV em 1920.
     Quando seu túmulo foi aberto canonicamente, em julho de 1830, ocorreram duas curas instantâneas. Seu corpo repousa sob o altar da capela em Paray, e muitos favores são obtidos por peregrinos atraídos a este lugar de todas as partes do mundo.
*
     A humilde visitandina, à qual o Sagrado Coração de Jesus fez suas confidências, viveu no tempo em que reinava na França Luís XIV, consagrado universalmente com o título de Roi-Soleil. Epíteto que correspondia à realidade, diziam que havia nele estofo para cinco reis. Luís XIV representava o tipo clássico daqueles reis de contos de fada que costumam deslumbrar a imaginação das crianças.
     Com uma alma privilegiada chamada a grandes realizações, cheio de predicados físicos e de grande personalidade, se aquele Rei tivesse seguido o exemplo de São Luís, talvez ele tivesse podido impedir a explosão da Revolução Francesa, a pseudo-reforma protestante sofresse desastres irreparáveis, e a História teria tomado um outro rumo.
     A vida de Luís XIV teve altos e baixos. Ávido de prazeres, ambicioso e vaidoso, sacrificou os recursos e prestígio que Deus lhe havia dado à sua sede de prazeres e à sua própria glória. Provocou guerras com o intuito de dilatar seus Estados, desuniu as potências católicas ameaçadas pelo protestantismo; aliou-se aos próprios muçulmanos contra o Santo Império, enfim, mereceu a censura de todos os franceses verdadeiramente católicos, mesmo os seus mais fiéis súditos.
     Entretanto, ele prestou assinalados serviços para a Igreja, entre os quais figura com destaque a revogação do Edito de Nantes. Além disso, grandes foram os avanços em todos os campos da vida temporal, impulsionados por sua inteligência e bom gosto.
     O certo é que o Rei não desempenhava aquela missão providencial à qual fora chamado por Deus.
     Em determinado momento, a humilde Visitandina intervém. Entre as revelações que o Divino Redentor lhe fazia, certa feita mandou que ela dissesse ao Rei para consagrar a si próprio e o Reino ao Sagrado Coração. Nosso Senhor usou de um tom imperativo, e deixava claro que a sua recusa acarretaria para ele e para a França os mais severos sofrimentos. O Sagrado Coração de Jesus desejava uma consagração autêntica, que implicava na renúncia a todos os pecados e a todos os erros do Rei.
     Santa Margarida Maria fez chegar a comunicação a Luís XIV por meio de uma pessoa da nobreza com quem tinha relações. O Rei, porém, não lhe deu importância e a consagração não foi efetuada.
     Resultado: o Reino foi caindo mais e mais nos abismos da impiedade e da libertinagem, até que a Revolução Francesa lançou por terra o trono dos Bourbons, e espalhou pelo mundo inteiro o espírito de rebeldia e de ódio a Deus e a Religião Católica.
     Tempos mais tarde, entre os papéis do Rei Luís XVI, encontrados em sua prisão do Templo, se achou uma nota em que este soberano prometia se consagrar, e toda a França, solenemente, ao Coração de Jesus, caso fosse libertado, o que desde logo, em forma privada, ele o fazia no cárcere. Ele esperava com isto que o Coração de Jesus arrancasse a França aos horrores da Revolução. Mas, este ato piedoso valeu apenas para que ele enfrentasse com dignidade a guilhotina, e muitos o consideram como mártir.
*
     A devoção ao Sagrado Coração de Jesus enfrentou muitas peripécias na sua expansão, mas atingiu o seu auge na Santa Igreja Católica no século XIX e no período que vai mais ou menos até meados do reinado de Pio XI, já no século XX.
     Com efeito, esta devoção foi muito estudada, ela teve grandes doutores, entre os quais São João Eudes, ela foi bem recebida pelos papas, Leão XIII fez uma consagração do mundo ao Sagrado Coração de Jesus. Um pouco por toda parte encontramos igrejas consagradas ao Sagrado Coração de Jesus nas cidades construídas em fins do século XIX, ou no começo do século XX no Brasil, por exemplo. Era uma devoção que realmente fazia muito bem às almas.
     Esta devoção começou a ser objeto de uma campanha a partir do momento em que a heresia modernista, condenada por São Pio X, e que parecia estar em letargo, começou a levantar a cabeça com o rótulo de Ação Católica e Movimento Litúrgico.
     No reinado de Pio XI e até o reinado de Pio XII, inclusive, o modernismo não fez senão se desenvolver sorrateiramente dentro da Igreja e começou a combater a devoção ao Sagrado Coração de Jesus numa manobra a mais perigosa: o silêncio! Deixou-se de impulsionar esta devoção; deixou-se de falar a respeito dela; fez-se caso omisso disto.
     Com isto, esta devoção, como tantas outras, está posta de lado. São tesouros com que ninguém se preocupa, são fontes de graças que a Providência abriu para salvar o mundo e que, por estarem esquecidas, não produzem os frutos de salvação desejados pelo Coração que tanto nos ama.
 *
A Grande Revelação (entre 13 e 20 de junho de 1675)
     “Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor. Como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelas suas irreverências, sacrilégios, e pela tibieza e desprezo que têm para comigo na Eucaristia. Entretanto, o que Me é mais sensível é que há corações consagrados que agem assim. Por isto te peço que a primeira sexta-feira após a oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa particular para honrar Meu Coração, comungando neste dia, e O reparando pelos insultos que recebeu durante o tempo em que foi exposto sobre os altares”.
     “Prometo-te que Meu Coração se dilatará para derramar os influxos de Seu amor divino sobre aqueles que Lhe prestarem esta honra”. (¹)
 
Fórmula de consagração individual ao Sagrado Coração de Jesus, composta por Santa Margarida Maria Alacoque
      Eu (nome), vos dou e consagro, ó Sagrado Coração de Jesus Cristo, minha pessoa e minha vida, minhas ações, penas e sofrimentos, para não querer mais servir-me de nenhuma parte de meu ser senão para vos honrar, amar e glorificar. É esta minha vontade irrevogável: ser todo vosso e tudo fazer por vosso amor, renunciando de todo o meu coração a tudo quanto vos possa desagradar.
     Tomo-vos, pois, ó Sagrado Coração, por único objeto de meu amor, protetor de minha vida, segurança de minha salvação, remédio de minha fragilidade e de minha inconstância, reparador de todas as imperfeições de minha vida e meu asilo seguro na hora da morte. Sede, ó coração de bondade, minha justificação diante de Deus, vosso Pai, para que desvie de mim sua justa cólera.
     Ó coração de amor! Deposito toda a minha confiança em Vós, pois tudo temo de minha malícia e de minha fraqueza, mas tudo espero de vossa bondade! Extingui em mim tudo o que possa desagradar-vos, ou se oponha à vossa vontade. Seja o vosso puro amor tão profundamente impresso em meu coração, que jamais possa eu esquecer-vos, nem me separar de Vós. Suplico, por vosso infinito amor, que meu nome seja escrito em vosso coração, pois quero fazer consistir toda a minha felicidade e toda a minha glória em viver e morrer como vosso escravo.
     Amém.
 
(¹) Cf. Vida e Obras de Santa Margarida Maria, publicação da Visitação de Paray, 1920
 

sábado, 14 de outubro de 2023

Santa Angadrisma, Abadessa - Festejada 14 de outubro

     
Angadrisma (Angadrême, em francês) nasceu na diocese de Thérouanne, no início do século VII, na nobre família dos condes de Boulogne, em Morins (Pas-de-Calais), no norte da França. Era a filha única de Roberto, amigo e sucessor de Santo Omer no cargo de Guarda dos Selos na corte de Clotário III (657-673).
     Santo Omer, Bispo de Thérouanne e preceptor da criança, ensinou a ela os preceitos do Evangelho e formou sua alma na piedade. Estimulada por seu primo São Lamberto de Lyon, que decidira ser monge em Fontenelle, Angadrisma fez secretamente o voto de virgindade. Seu pai, ignorando sua decisão, projetou casá-la com Ansberto, filho de um rico senhor de Chaussy, chamado Siwin. Mas Ansberto, ele mesmo também havia feito voto de virgindade, e seria no futuro Santo Ansberto, o Bispo de Rouen.
     Para evitar o indesejado casamento, Angadrisma rezou pedindo para se tornar menos atraente fisicamente. Suas orações tiveram como resultado que ela contraísse a lepra. Diante da tristeza e da inquietação de seu pai, ela garantiu-lhe que, como ela havia prometido ser esposa de Jesus Cristo, Ele a protegeria e a defenderia daquela deformação. O pai renunciou então ao casamento e a levou para Rouen para apresentá-la a São Audoeno. Foi das mãos deste santo que ela recebeu o hábito religioso. A partir desse dia, a doença desapareceu milagrosa e repentinamente.
 
O Mosteiro de Oroër
     Sua vida monástica era, para dizer pouco, exemplar. Cerca do ano 660, Angadrisma passou a dirigir uma comunidade de virgens e viúvas no convento que seu pai havia construído para ela próximo de Beauvais, ao lado do oratório de Santo Ebrulfo.
     Este mosteiro era muito provavelmente aquele situado em Oroër, pequena aldeia distante duas léguas da cidade de Beauvais, na rota de Amiens, entre Guignecourt e Abbeville-Saint-Lucien, no cantão de Nivillers.
     Um dia o mosteiro foi ameaçado pelas chamas de um incêndio. Angadrisma extinguiu o incêndio enfrentando-o com a exposição das relíquias de Santo Ebrulfo.
     Em seu mosteiro ela conduzia as companheiras à virtude mais pelo império de seu exemplo do que pela autoridade de suas ordens. Com efeito, ela era vista assiduamente na oração, humilde, modesta nas suas vestimentas de tecido grosseiro, cuidando dos pobres, usando uma linguagem inspirada nas Sagradas Escrituras e lhes inspirando o amor de Deus.
     Santa Angadrisma dirigiu o mosteiro durante trinta anos e faleceu no dia 14 de outubro de 695.
     Venerada como Santa imediatamente, foi incluída entre os patronos de Beauvais e é invocada contra os incêndios e as calamidades públicas. Suas relíquias foram transladadas em várias ocasiões devido à destruição do mosteiro pelos normandos e depois pela Revolução Francesa; repousam hoje na Catedral de Beauvais.
 
A Abadia Real das Beneditinas de São Paulo
     O mosteiro de Santa Angadrisma foi destruído pelos normandos em 851. Suas ruínas, propriedade da Igreja de Beauvais, serviram de fundamento para a Abadia de São Paulo. O Bispo de Beauvais, Druon, conhecido pelo seu zelo pelas casas religiosas, favoreceu esta edificação. É hoje conhecida como uma das mais belas e mais antigas abadias da França. Portanto, a Abadia de São Paulo sucedeu ao Mosteiro de Oroër, mas não é contemporânea aquela fundação, pois data de 1032 e 1040.
     Os bispos e senhores de Beauvais asseguraram grandes riquezas a este mosteiro. As abadessas pertenciam, na sua grande maioria, a famílias abastadas, o que concorreu para o renome do mosteiro. Durante a Revolução Francesa, grande parte de suas instalações foram destruídas.
 
As relíquias
     A tradição narra que Angadrisma, então Abadessa de Oroër, vindo fazer suas orações na Igreja de São Miguel de Beauvais, tendo encontrado a lamparina apagada, foi pedir fogo a um padeiro vizinho. Este, sentindo-se importunado, lançou-lhe violentamente carvões ardentes, que ela recebeu em suas vestimentas sem que elas se incendiassem. Assustado, o padeiro se lançou aos seus pés.
     Este acontecimento fez que se preferisse a Igreja de São Miguel à Catedral para aí serem transferidas as relíquias da Santa quando da invasão dos normandos. Esta Igreja de São Miguel foi destruída em 1810 e substituída por uma via chamada Rua Deux-Places, hoje em dia Rua Jean-Vast.
 
Seus milagres
     Após sua morte, os milagres se sucederam. No século IX, suas relíquias preservaram a cidade de Beauvais da fúria dos bárbaros. Mais tarde, a cidade foi protegida dos ingleses. Mas, especialmente em 1472 os habitantes de Beauvais sentiram a proteção da Santa. Oitenta mil homens da Bourgogne cercaram Beauvais e a cidade estava prestes a ser tomada. O relicário da Santa foi levado para as muralhas. A vista dele a coragem foi retomada entre os habitantes de Beauvais e os invasores foram repelidos.  O relicário da libertadora foi levado triunfalmente ao santuário de São Miguel.
     A partir desta data, o culto de Santa Angadrisma, que o Bispo de Beauvais Jean de Marigny havia retomado em 1321, tornou-se mais presente do que nunca. Luís XI instituiu uma procissão anual para que se recordasse a Bem-aventurada.
     Abolida durante a Revolução Francesa, desde 1805, no 1º Império, a procissão foi restabelecida. A procissão partia da Catedral e ia cerimoniosamente até a prefeitura. Mas o cortejo religioso foi suprimido em 1839. Novamente restabelecido em 1848, a procissão vai então sofrer os efeitos da política.
     Depois de muitas idas e vindas, após a 1ª Guerra Mundial a comemoração tomou uma característica turística: desfiles militares, cenas teatrais, reconstituições históricas, e ainda se mantém até nossos dias.
Capela da Santa na Catedral de Beauvais


Fonte: http://oise.catholique.fr/

terça-feira, 10 de outubro de 2023

Santa Maria Soledade Torres Acosta, Fundadora - 11 de outubro

     
Canonizada em 1970, a venerável Madre Soledade Torres Acosta, é a fundadora das Servas de Maria, religiosas dedicadas aos cuidados dos doentes. O nome Soledade se refere à Maria Santíssima na Paixão do seu Divino Filho.
    Nasceu em Madri, a 2 de dezembro de 1826. Era filha de Francisco Torres e Antônia Acosta, eram pequenos comerciantes. A criança foi batizada como Bibiana Antônia Manuela.
     Viveu numa Espanha perturbada pelos conflitos entre absolutistas e liberais, que produziram às vezes para a Igreja anos custosos.
     Estudou com as Irmãs Vicentinas e ao ver a dedicação total destas religiosas aos mais pobres, se entusiasmou pela vida religiosa. Porém tinha uma saúde muito débil e não foi admitida na comunidade.
     Chegando aos 25 anos, pensava ainda em ingressar na vida dominicana, quando o Pe. Miguel Martínez Sanz, sacerdote pároco do bairro populoso de Chamberi, conquistou-a para a sociedade de religiosas, guardas de doentes, que projetava organizar. Desde pequena ela havia assistido a vários moribundos e sentia um gosto especial em assistir a doentes e agonizantes. Era uma graça que o Espírito Santo lhe havia concedido.
     O Pe. Miguel compreendeu que a jovem tinha aquele dom especial do Espírito para levar a cabo o projeto que tinha em mente, e por isso, juntamente com ela e mais seis companheiras, fundou a Comunidade das Servas de Maria, ou Ministras dos Enfermos.     
     A 15 de agosto de 1851, a jovem entrou no grupo das sete primeiras Servas de Maria, adotando o nome de Irmã Soledade. Embora chegando tarde, depressa foi promovida a superiora.
     Mas Pe. Miguel partiu para as missões no estrangeiro. O novo diretor espiritual julgou acertado mudar a superiora: Madre Soledade foi despachada para Getafe, no Sudoeste de Madrid, para um hospitalzinho. Madre Soledade aceitou tudo por obediência. Ir-se-ia dissolver a congregação em estado deplorável? O Pe. Gabino Sánchez Cortez repôs Madre Soledade à frente das irmãs, e deu ao Instituto uma regra bem adaptada.
     Em 1861, as Servas de Maria receberam a aprovação diocesana, e o agostiniano, Pe. Angel Barra, foi nomeado diretor. A instituição ampliou seu campo de ação para atender também as jovens delinquentes e as fundações se multiplicaram.
     Fundaram-se 46 casas durante a vida da Santa. A rainha Isabel II exigiu suas religiosas para o hospital de São João de Deus, em Madrid.      
     Em 1867 a caridade levou Madre Manuela para Valência, onde a guerra civil fazia inúmeras vítimas. Em 1885, uma epidemia de cólera invadiu metade do país. A congregação manifestou aí sua grande utilidade e importância salvando vidas e ajudando outras a partirem dignamente.
     A congregação recebeu aprovação papal definitiva em 1876 do Papa Pio IX.
     Atualmente, a Congregação conta com mais de 2000 religiosas, também nas duas Américas, na Inglaterra, na Itália, na França e em Portugal.
     Santa Soledade faleceu no dia 11 de outubro de 1887 com 61 anos de idade. Seus restos mortais foram enterrados em um terreno simples em torno de religiosos de sua congregação, mas foram exumados e transferidos para a capela da Casa Mãe em 18 de janeiro de 1893. Seus restos mortais foram considerados intactos e foi relatado que seus restos exalavam um líquido semelhante a sangue e um odor doce. Mas não demorou muito, após outra inspeção, que seus restos mortais estavam limitados a ossos, o que significava que a decomposição havia avançado, talvez devido à primeira exumação e transferência.
     Madre Soledade foi beatificada por Pio XII em 5 de fevereiro de 1950 e canonizada por Paulo VI em 1970. Ela viveu o heroísmo do amor e da caridade para com os doentes, especialmente os doentes terminais, dando-lhes dignidade e paz na hora da morte.
     Santa Maria Soledade Torres Acosta, junto com Maria Micaela Desmaisieres, Joaquina Vedrun de Mas e Vicenta López, faz parte do grupo insigne de virtuosas mulheres espanholas que alcançaram um grau de santidade heroica a serviço dos doentes no século XIX.
 


Fontes: www.santiebeati.it; Santos de cada dia, Pe. José Leite, S.J.

domingo, 8 de outubro de 2023

Santa Pelágia de Antioquia, a Penitente - 8 de outubro

 
Sta Pelagia em sua vida
pecaminosa e São Nono
rezando por ela

   
São João Crisóstomo (354-407) narra as adversidades de uma célebre atriz, belíssima tanto quanto dissoluta, que depois da conversão levou vida austera de penitência. Mas não diz seu nome. Assim, um autor desconhecido, que se nomeia Tiago, julgou bom dar-lhe o nome de Pelágia e escrever um longo relato sobre sua história.
     Pelágia, a penitente (artisticamente conhecida como Margarida de Antioquia) era uma belíssima bailarina que encantava os homens com sua dança e os ornamentos luxuosos que usava, que ostentava sua riqueza e sua vida promíscua.
     Numa ocasião, o patriarca de Antioquia convocou o Sínodo dos Bispos ante a Basílica de São Juliano, o mártir, onde costumava a pregar o honorável Bispo de Edessa, São Nono. Naquela ocasião Pelágia passou pelo pórtico cavalgando um cavalo branco, rodeada de admiradores, com os braços e ombros descobertos, como se vestiam as cortesãs daquela época.
     São Nono interrompeu sua pregação, enquanto os outros bispos baixaram discretamente seus olhos, e fixou seu olhar em Pelágia até que desaparecesse de sua vista. Perguntou, em seguida, aos outros bispos: “Não vos parece muito bela esta mulher?” Os bispos, sem saber o que dizer, permaneceram calados. Nono acrescentou: “A mim, me pareceu muito bela, e creio que é uma lição de Deus para nós. Esta mulher faz o impossível para manter sua beleza e aperfeiçoar-se na dança. Quanto a nós, não realizamos por nossas dioceses e por nossas almas, sequer a metade do que ela faz”.
     Naquela mesma noite São Nono se viu, em sonho, celebrando a Liturgia, enquanto um grande e estranho pássaro, sujo e agressivo, tentava impedi-lo. Quando o diácono despediu os catecúmenos, a criatura partiu com eles, mas pouco tempo depois retornou e São Nono conseguiu então apanhá-lo e mergulhá-lo na fonte do átrio. A ave saiu da água branca como a neve, desaparecendo entre as nuvens.
     No dia seguinte, um domingo, todos os bispos que assistiram a Divina Liturgia celebrada por São Nono, pediram a ele que pregasse. Pelágia, que sequer era catecúmena, sentiu-se impelida a ir à igreja naquele dia e ouvindo a pregação sentiu suas palavras caírem fundo em seu coração. Tempos depois, escreveu uma carta a São Nono rogando-lhe que permitisse falar com ele. São Nono concordou em lhe conceder uma audiência na condição de que isto acontecesse na presença de outros bispos.
     Ao aproximar-se de São Nono, Pelágia caiu de joelhos diante dele e chorando muito disse: “Eu sou Pelágia, um oceano de iniquidade repleto das ondas dos pecados. Sou o abismo da perdição, a voragem e a armadilha das almas. Enganei a muitos, e agora tenho muito medo de tudo”. (*) Então pediu o batismo e suplicou que ele se interpusesse entre ela e seus pecados para que o espírito do mal não tivesse mais domínio sobre sua alma. São Nono batizou-a, confirmando-a na fé e lhe dando a comunhão.
     Oito dias depois de seu batismo, Pelágia, que já havia renunciado a todos os seus bens em favor dos pobres, despojou-se da túnica branca dos batizados e à noite, vestida como um homem, abandonou Antioquia e seguiu solitária, a pé, para Jerusalém onde se instalou numa gruta no Monte das Oliveiras.
     Logo ficou conhecida como “Pelágio, o monge sem barba”. Três ou quatro anos depois, Jacob, um diácono de São Nono, foi visitá-la acreditando tratar-se de um monge. Durante sua permanência em Jerusalém Pelágia entregou sua alma a Deus. O diácono voltou à sua cela e encontrando-a morta foi anunciar o ocorrido ao bispo que congregou o clero para celebrar as exéquias de tão santo varão. Ao prepará-la para o sepultamento descobriram que se tratava de uma mulher. Muito admirados, deram graças a Deus e sepultaram o santo corpo com todas as honras.
     Santa Pelágia faleceu por volta do ano do Senhor de 290.
 
Etimologia: Pelágia, do latim Pelagius: “do mar, marinho, marítimo, marinheiro”. Do grego pélagos: “mar, pélago”.
 
(*) Legenda Áurea de Tiago de Voragine.
 
Fontes: http://ecclesia.com.brwww.paulinas.org.br
 
Postado neste blog em 8 de outubro de 2014

quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Beata Maria Rosa Durocher, Fundadora - 6 de outubro

     
Uma jovem nascida em um pequeno vilarejo, de saúde frágil, jamais pensou que um dia iria fundar uma congregação de irmãs educadoras, difundida hoje em várias partes do mundo. Mas Nosso Senhor se serve de instrumentos pequenos.
     Eulália Melânia Durocher nasceu em Saint-Antoine-sur-Richelieu, pequena aldeia de Quebec (Canadá), no dia 6 de outubro de 1811, de uma família muito religiosa. Filha de Olivier Durocher e Geneviève Durocher, ela era a décima de 11 crianças, 3 das quais morreram na infância, três se tornaram sacerdotes e duas religiosas. Seu pai, um fazendeiro rico, havia recebido parte de sua educação clássica, e sua mãe havia recebido uma educação muito cuidadosa das Ursulinas de Quebec. Ambos conseguiram, portanto, proporcionar aos filhos uma educação de qualidade. Os pais também na juventude tinham pensado em consagrar-se a Deus.
     Eulália cresceu em um ambiente sadio, tranquilo e profundamente católico. Aprendeu com a mãe a rezar e a socorrer os pobres e doentes. O avô paterno, um ex-soldado e defensor de Fort Carillon, ministrou-lhe os primeiros rudimentos de letras.
     Na idade de 10 anos foi mandada para o Colégio das Irmãs de Nossa Senhora em S. Denis, onde permaneceu por dois anos e recebeu a Primeira Comunhão. Retornou para casa por problemas de saúde, até que em 1827, amadurecendo a vocação religiosa, entrou na comunidade de Montreal daquela Congregação. Nos três anos seguintes, teve que voltar para casa várias vezes, sempre devido a saúde precária, e, finalmente, renunciou ao seu desejo de tornar-se religiosa.
     Um contemporâneo de Durocher de seu tempo no internato escreveu mais tarde: “[Durocher] foi maravilhosa; só ela desconhecia o seu próprio valor, atribuindo a Deus tudo o que nela se encontrava favorável, e afirmando que de si mesma era apenas fraqueza e miséria. Possuía charmosa modéstia, era gentil e amável; atenta sempre à voz de seus mestres, era ainda mais à voz de Deus, que falava ao seu coração”.
     Com a idade de 19 anos, quando da morte de sua mãe, teve que assumir a responsabilidade do governo da casa. Pouco depois, o seu irmão Teófilo, pároco de Beloeil, chamou-a para tomar conta da residência paroquial, onde se alojavam padres e seminaristas doentes. Transferiu-se então com o pai para junto do irmão sacerdote.
     Não lhe faltaram sofrimentos da parte das empregadas mais antigas, que suportou com paciência, sem se queixar. No ano seguinte, algumas jovens começaram a ajudá-la e formaram a associação das Filhas de Maria, a primeira do Canadá. Eulália foi eleita diretora da associação, mas o seu desejo de consagrar-se toda a Deus permanecia forte e, em 1841, pronunciou, nas mãos do confessor, os votos privados de pobreza, castidade e obediência.
     No presbitério, Durocher trabalhou como governanta e secretária do Padre Teófilo entre 1831 e 1843. Durante o curso deste trabalho, ela foi informada da grave escassez de escolas e professores no interior circundante (em 1835 Quebec era o lar de apenas 15 escolas) e discutiu com sua família e conhecidos a necessidade de uma comunidade religiosa especificamente dedicada à educação de crianças ricas e pobres. O trabalho na paróquia a fazia compreender quão necessária era a instrução dos pobres, que naquele tempo estavam quase privados dela.
     A situação sociopolítica de Quebec era complicada. No século anterior, depois da guerra entre a França e a Inglaterra (1763), o país havia passado para o controle inglês. Desde a sua fundação (1603), a “Nouvelle France” (a Nova França) havia nascido graças à imigração do velho continente, regulada por normas precisas. Os habitantes eram todos católicos franceses e a convivência com os ingleses (protestantes) não era fácil.
     Com a Revolução Americana, os colonos que não queriam separar-se da Coroa Britânica se refugiaram no Canadá. Eles se estabeleceram sobretudo no Oeste, em Ontário, deixando aos franceses os territórios do Leste. A convivência entre as duas comunidades, que implicava na escolha dos governos, a liberdade de imprensa e o controle do comércio, era difícil. Houve revoltas contidas à força (1838), porque os franceses, sendo a maioria, tinham menos direitos.
     Nesse ambiente complexo se insere a história da beata. Na sua cidadezinha, para instruir o povo, se procurou fazer vir da França a Congregação dos Santos Nomes de Jesus e Maria que, impossibilitada de abrir uma casa no ultramar, mandou suas próprias constituições para que se inspirassem nelas.
     O confessor de Eulália, um Missionário Oblato de Maria Imaculada (fundados por Santo Eugênio de Mazenod), aconselhou então a jovem a dar vida a uma nova família religiosa.
     Eulália, contra toda expectativa, junto com duas amigas formou a primeira comunidade, alojando-se em uma velha escola. Naquele mesmo ano, Santo Eugênio de Mazenod enviou da França os seus missionários a Montreal, o que facilitava o desenvolvimento de sua Congregação. A diocese católica era grande e havia muito trabalho a fazer.
     Nasceu assim, em Longueuil, no dia 28 de outubro de 1843, as Irmãs dos Santos Nomes de Jesus e Maria. Aprovada pelo Bispo Ignace Bourget em 29 de fevereiro do ano seguinte; em 8 de dezembro de 1844, procedeu-se à profissão religiosa e Eulália adotou o nome de Maria Rosa, sendo nomeada superiora e mestra de noviças.
     Em 1845, a Congregação teve sua personalidade jurídica reconhecida por parte do parlamento. A direção dos Oblatos de Santo Eugênio foi fundamental na formação das religiosas, bem como a ajuda dos irmãos de Madre Maria Rosa, em particular de Teófilo. Mantiveram as constituições do Instituto de Marselha, adotando o método de ensino dos Irmãos das Escolas Cristãs.
     A Congregação multiplicou o seu apostolado, algumas iniciativas eram a pagamento e assim se pode financiar a atividade educativa para as famílias pobres.
     Madre Maria Rosa tinha finalmente cumprido sua missão terrena, lançando no seio da Santa Igreja uma semente fecunda. Morreu com somente 38 anos, em 6 de outubro de 1849. Pouco antes de expirar, sorridente, disse às Irmãs reunidas em torno de seu leito: “As vossas orações me detêm aqui, deixem-me ir!
     Mulher de excepcional virtude, muito unida ao Senhor, educadora como nenhuma outra, deu à comunidade um impulso para que o tempo não parasse. Quando faleceu a comunidade já contava com 30 freiras professas, 7 noviças, 7 postulantes e 448 estudantes em 4 conventos.
     No dia seguinte ao funeral, Dom Bourget disse às irmãs enlutadas: “Confesso-vos com toda a sinceridade do meu coração que fiquei profundamente comovido quando vi tantas virtudes unidas numa só alma. Implorei-lhe que obtivesse para mim o mesmo zelo para governar a minha diocese que ela tinha para vos dirigir”.
     Em 1880, Dom Bourget declarou: “Eu a invoco em minha vida privada como santa e espero que o Senhor a glorifique diante dos homens”. Este último desejo foi realizado no domingo, 23 de maio de 1982, quando na Praça de São Pedro, em Roma, diante de uma imensa multidão, João Paulo II proclamou Maria Rosa Durocher Bem-aventurada.
     A Congregação, que em 1877 se tornou de direito pontifício, se dedica ainda hoje principalmente à instrução e à catequese, seguindo a espiritualidade inaciana. Difundiu-se por várias partes do mundo: além do Canadá e dos Estados Unidos, está presente no Japão, Brasil, Peru, Camarões, Haiti, Nigéria.
     Os despojos mortais de Madre Maria Rosa são venerados na Catedral de Santo Antonio da diocese de St-Jean-Longueuil.
 
Fontes: www.santiebeati.it; Santos de Cada Dia, Pe. José Leite, S.J.
 

Convento da Congregação em Longueil, Canadá
 
Postado neste blog em 5 de outubro de 2012

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Irmã Maria de São Pedro, a Santa Carmelita

 
   Em 24 de novembro de 1843, Nosso Senhor disse as seguintes palavras à carmelita francesa, Irmã Maria de São Pedro:
     A Terra está coberta de crimes! Meu Pai está irado com a violação dos três primeiros Mandamentos de Deus. A blasfêmia para com o Santo Nome de Deus e a profanação do Santo Dia do Senhor completam a medida das iniquidades. Esses pecados subiram ao Trono de Deus e provocaram sua cólera, que irromperá se sua justiça não for aplacada. Em nenhuma outra época esses crimes alcançaram tal ponto”.
     Este pequeno escrito traz à luz as revelações de Nosso Senhor à Irmã Maria de São Pedro, uma carmelita francesa que viveu de 1816 a 1848. Essas revelações gozam de plena aprovação da Igreja Católica, tendo sido altamente recomendadas pelo renomado beneditino do século XIX, Dom Guéranger, autor da célebre obra L'Année Liturgique (O Ano Litúrgico).
     As palavras de Nosso Senhor à Irmã Maria parecem mais urgentes hoje do que quando recebidas há mais de 180 anos. Elas fazem parte de uma “tradição” de avisos do Céu para a humanidade sobre seus ultrajes contra Deus, a grande necessidade de reparação e a ameaça de castigos divinos de um Deus “que já está muito ofendido”. Essas revelações à Irmã Maria de São Pedro constituem também um fundamento para as aparições de 1917 de Nossa Senhora em Fátima.
     Este artigo é baseado em materiais de fonte primária, entre os quais destaca-se Vie de la Sœur Saint-Pierre (A Vida da Irmã Maria de São Pedro). Esse livro, publicado apenas 36 anos após a morte da carmelita, foi escrito pelo Padre Pierre Janvier, um fervoroso promotor das Obras de Reparação. Sua tradução para o inglês, de 1884, traz o Imprimatur de 1881 de Dom Charles-Théodore Colet, Arcebispo de Tours. 
*
     A Irmã Maria de São Pedro nasceu em 4 de outubro de 1816, Festa de São Francisco de Assis, tendo como nome de batismo Perrine Elvery. Ela conta um episódio de quando tinha apenas um mês de idade: 
     Minha babá, tendo saído por um instante, deixou-me no berço. Uma de suas filhas pequenas pegou-me no colo e aproximou-me do fogo, querendo sem dúvida me aquecer; mas escorreguei de seus braços e caí no fogo. Conservei para sempre no rosto uma marca daquele acidente”. 3
     Apesar de seus piedosos pais a terem educado na Fé e nos rudimentos do ensino católico, Perrine não era, por assim dizer, uma criança angelical. Sua própria mãe lamentava o fato de a pequena ser tão levada: “Certamente foi trocada no berçário: não é possível que um filho nosso seja tão mau como essa criança”. 4
     Colérica, teimosa e muito imprudente” 5 é como a Irmã Maria de São Pedro descreveu mais tarde seus traços da primeira infância. Apesar de suas faltas, entretanto, a pequena Perrine possuía um bom espírito e aceitava os castigos que suas más ações lhe mereciam; por fim, conquistou autodomínio, aprendeu suas devoções e, ainda em tenra idade, desenvolveu intenso amor pela oração.
     Perrine tinha apenas doze anos quando sua mãe morreu. Não passou muito tempo foi trabalhar como costureira. Alimentando seu “dom de oração”, como o Padre Janvier o descreve, fazia comunhões espirituais frequentes, mesmo quando ocupada com seus afazeres cotidianos. Sua santidade e senso de recolhimento irradiavam sobre as colegas de trabalho, que logo passaram a procurá-la em busca de aconselhamento espiritual e edificação.
     Acreditando ser chamada a uma vocação religiosa, colocou-se nas mãos de um diretor espiritual que foi um verdadeiro dom do Céu. Esse santo confessor declarou que, ao lidar com alguém que poderia ter vocação, tinha “por princípio só enviar ao convento aqueles aspirantes suficientemente provados, esperando que, uma vez que entrassem no claustro, não os veria sair de lá”. 6 O sacerdote guiou-a na preparação para sua vida como religiosa, especialmente ensinando-a como vencer suas paixões.
     Numerosos obstáculos retardaram sua entrada na vida religiosa. Por um tempo, parecia que seria conduzida à Ordem Hospitaleira, o que não era sua primeira escolha. Seu grande desejo era entrar para o Carmelo. Ainda assim, Nosso Senhor a confortava durante esse período de aflição. Após receber a Sagrada Comunhão certo dia, no que pode ter sido a primeira comunicação mística, Nosso Senhor lhe falou interiormente:
     Minha filha, amo-te muito para te abandonar mais tempo a tuas perplexidades; não serás irmã hospitaleira; isto é apenas uma provação; já cuidamos de tua recepção; serás carmelita”. E uma voz poderosa repetiu várias vezes: “serás carmelita”. 7
     Como boa católica, anotou imediatamente essas palavras para submetê-las ao diretor espiritual. Ao entregar o papel dobrado ao confessor, e antes que este conhecesse seu conteúdo, o padre irrompeu com suas próprias boas notícias. Tinha acabado de receber uma carta que o informava que ela havia sido aceita no mosteiro das carmelitas em Tours.
     O Carmelo de Tours, que havia aberto suas portas para a jovem Perrine, era abençoado com uma rica história. Foi fundado em 1608 pela Irmã Ana de São Bartolomeu, que viria a se tornar a primeira Superiora da casa. Amiga devota de Santa Teresa d’Ávila, Irmã Ana esteve presente em seu leito de morte.
     Em 13 de novembro de 1839, ela entrou no Carmelo de Tours, o Carmelo que tinha uma devoção particular ao Sagrado Coração. Perrine tinha uma devoção especial à Santa Infância de Jesus. Foi chamada Irmã Maria de São Pedro
     Em 8 de agosto de 1843, o Papa Gregório XVI promulgou um breve papal para a ereção de uma confraria sob o patrocínio de São Luís IX da França para a reparação da blasfêmia contra o Santo Nome de Deus. No dia 26 Leo Dupont, o "santo homem de Tours", distribuiu entre várias das comunidades de Tours, uma oração em honra do Santo Nome de Deus. As orações haviam circulado entre todas as casas religiosas da cidade, mas apesar de ter relações amistosas com os Carmelitas, M. Dupont aparentemente as esqueceu.
     Irmã Maria relatou que dezoito dias depois, enquanto iniciava sua oração noturna, Jesus a fez entender que ele lhe daria uma oração de reparação, uma "adaga de ouro" por blasfêmia contra seu Santo Nome. Disse-lhe que a devoção que lhe confiava tinha por objetivo não só a reparação da blasfêmia, mas também a reparação da profanação do Santo Dia do Senhor. Ela invariavelmente declarava que essas "comunicações" não eram nem visões, nem aparições; que as verdades mostradas a ela não foram exibidas sob uma forma eterna, nem ela ouviu fisicamente o que foi incumbida de relatar.
     De 1844 a 1847, Irmã Maria de São Pedro relatou que recebeu “comunicações” de Jesus sobre a difusão da devoção ao Seu Santíssimo Rosto. Ela relatou que experimentou o que seu biógrafo, Padre Janvier, denomina “uma visão interior”. Ela descreve repetidamente que, durante a meditação, “o Senhor me deu para entender” percepções particulares.
     Segundo a Irmã Maria de São Pedro, Jesus disse-lhe que desejava devoção ao Seu Santo Rosto em reparação pelo sacrilégio e blasfêmia, que descreveu como sendo uma “flecha envenenada”. Ela escreveu a Devoção da Face Sagrada da Flecha Dourada (Oração) que ela disse ter sido ditada a ela por Jesus. Esta oração é agora um conhecido Ato de Reparação a Jesus Cristo. Ela escreveu que Jesus lhe disse: “Aqueles que contemplarem as feridas do Meu Rosto aqui na terra, devem contemplá-lo radiante no céu”. Ela também citou Jesus dizendo em suas visões: “Oh, se você soubesse que grande mérito adquire dizendo, pelo menos uma vez, Admirável é o Nome de Deus, em um espírito de reparação pela blasfêmia”.
     A Irmã explicou que, em 25 de agosto de 1843, o Senhor disse a ela: “O meu nome é blasfemado por todos: até as crianças blasfemam e o horrível pecado fere abertamente o meu Coração. O pecador com a blasfêmia amaldiçoa Deus, O provoca abertamente, aniquila a Redenção, pronuncia a si mesmo a própria condenação. A blasfêmia é uma flecha envenenada que penetra o meu Coração. Eu te darei uma flecha de ouro para cicatrizar a ferida do pecador”.
     Em 1845, o Senhor revelou a Irmã Maria que queria uma verdadeira obra de reparação e que, as almas participantes da mesma, são como Santa Veronica que superou a indiferença da multidão e enxugou a Sua Face cheia de cusparadas, suor e sangue. O Senhor disse a irmã: “Eu procuro as Veronicas que cuidam e honram a Minha Divina Face que tem poucos adoradores”.
     A devoção que ela iniciou foi promovida pelo Venerável Leo Dupont. Dupont orou e promoveu uma devoção à Santa Face de Jesus por cerca de 30 anos. Os documentos relativos à vida da Irmã Maria de São Pedro e a devoção foram guardados pela Igreja. Em 1874, Charles-Théodore Colet foi nomeado o novo arcebispo de Tours. O Arcebispo Colet examinou os documentos e em 1876 deu permissão para que fossem publicados e a devoção encorajada. A Devoção a Santa Face de Jesus foi finalmente aprovada pelo Papa Leão XIII em 1885.
     O “Pequeno Evangelho”, ou Evangelho do Santo Nome de Jesus, é uma devoção católica romana que, segundo a tradição, foi misticamente revelada por Jesus Cristo a Maria de São Pedro em 1847, no mosteiro em Tours, França.
 
3, Abbé P. Janvier, Vie de la Sœur Saint-Pierre, Libraire Larcher, 2ª edição, Paris, 1884 (referido doravante como VSSP) p.3
4. VSSP p. 4
5. VSSP ibid
6. VSSP p. 19
7. VSSP p. 48
8. Citado em VSSP p. 72
 
Oração da Fecha de Ouro
Um ato de Louvor e Reparação ditada por Nosso Senhor à Irmã Maria de São Pedro
 
     O Santíssimo, Sagrado, Adorável, incompreensível e indescritível Nome de Deus seja
sempre louvado, abençoado, amado, adorado e glorificado, no céu, na terra, e debaixo
da terra, por todas as criaturas de Deus e pela Sagrado Coração de Nosso Senhor Jesus
Cristo no Santíssimo Sacramento do altar. Amém.
     Depois de receber esta oração, a Irmã Marie teve uma revelação na qual ela viu o Sagrado Coração de Jesus ferido pela “Oração da Flecha de Ouro" como torrentes de graças saiam dele para a conversão dos pecadores.
 
Oração da Sagrada Face de Jesus
     Senhor Jesus Cristo, ao apresentar-nos perante Vossa Face adorável para pedir as graças de que estamos mais necessitados, nós suplicamos, acima de tudo, que nos conceda essa disposição interior de nunca recusar a fazer o que nos exige vossos santos mandamentos e divinas inspirações.
     Pai Eterno, nós oferecemos a adorável Face de vosso bem-amado Filho, para a honra e glória do Vosso Santo Nome e para a salvação do nosso país.
     Eterno Pai, o que peço a Vós são muitas almas como foi o número de gotas de sangue
que Vosso Divino Filho derramou em Sua Paixão.
     Eterno Pai, nós oferecemos nosso Salvador, Jesus Cristo, para a expiação dos nossos pecados e para as necessidades da Santa Igreja.
     Seja misericordioso para nós, ó meu Deus, e não rejeitai nossas orações, quando em meio às nossas aflições, exortamos Vosso Santo Nome e procuramos com amor e confiança vosso adorável Rosto.
     Eterno Pai, eu vos ofereço o Santo Rosto de Jesus, coberto com sangue, suor, saliva e
poeira, em reparação pelos crimes dos comunistas, blasfemadores e pela profanadores
do Seu Santo Nome e do Dia Santo de Domingo.

terça-feira, 3 de outubro de 2023

Santos Máxima, Júlia e Veríssimo, Mártires - 3 de outubro

  

   Assim diz o Martirológio Romano de 1953: “
Em Lisboa, na Lusitânia (agora Portugal), os santos mártires Veríssimo e suas irmãs Máxima e Júlia, que sofreram durante a perseguição do imperador Diocleciano” (284-305).
     Uma das referências mais antigas dos mártires de Lisboa é encontrada no Martirológio de Usuardo do século IX. Os testemunhos litúrgicos multiplicaram-se ao longo dos séculos X e XI. O Padre Miguel de Oliveira sustenta a opinião de que “os santos mártires de Lisboa já estavam inscritos nos calendários uns 200 anos depois do seu martírio”. Esta devoção foi guardada pela comunidade moçárabe de Córdoba.
     Quanto aos detalhes da vida destes mártires, só os conhecemos pelo descrito num códice quatrocentista da Biblioteca Pública de Évora, (cód. CV/1-23d). Segundo a "Legenda", os irmãos lisbonenses, Veríssimo, Máxima e Júlia, durante a perseguição de Diocleciano apresentaram-se espontaneamente ao executor dos éditos imperiais, Públio Daciano, legado do imperador, confessando a fé cristã.
     O juiz procurou dissuadi-los com promessas e ameaças; como nada conseguisse, mandou-os prender. Os três irmãos saíram vitoriosos da prova do cárcere. O juiz então mandou submetê-los a vários tormentos: açoites, ecúleo, unhas de ferro, lâminas em brasa. Diante de sua inabalável resistência, mandou que fossem arrastados pelas ruas da cidade e finalmente degolados. Alcançaram a palma do martírio em 303 ou 304.
     Depois de mortos, o juiz ordenou que os cadáveres ficassem insepultos para servirem de pasto aos cães e às aves, mas as feras os respeitaram. Mandou em seguida que eles fossem lançados no mar com pesadas pedras. Quando os barqueiros regressaram à praia do Rio Tejo encontraram ali os santos despojos. Os cristãos recolheram-nos e sepultaram-nos no lugar onde depois se erigiu a Igreja Santos-o-Velho, a primeira igreja em Lisboa a albergar as relíquias destes Santos.
     Em 1475, D. João II ordenou que fossem trasladados para Santos-o-Novo, mosteiro das Comendadeiras de São Tiago. Em 1529, a comendadeira Da. Ana de Mendonça mandou colocar as relíquias em um cofre de prata, que foi depositado ao lado direito do altar mor da igreja.
     Alguns estudiosos pretenderam que estes mártires fossem filhos de um senador romano vivendo em Roma, os quais receberam de um anjo a missão de irem a Lisboa para confessarem a Fé. Esta legenda repercutiu na iconografia: os três mártires são apresentados em trajes de romeiros, portanto bordões compridos nas mãos. É como os podemos ver no belo conjunto de três imagens do século XVII expostas ao culto na igreja do extinto Mosteiro de Santos-o-Novo, em Lisboa, que guarda parte das relíquias dos mártires.
 
Fontes: http://evangelhoquotidiano.org/; Santos de cada dia, Pe. José Leite, S.J.
 
Mosteiro de Santos-o-Novo
     Uma velha tradição diz ter o Rio Tejo arrojado a uma das praias da sua margem direita, que depois se ficou chamanda de Santos, os corpos dos santos mártires Veríssimo, Máximo e Júlia. No local, pela tradição indicado, mandou D. Afonso Henriques edificar a Igreja de Santos, e D. Sancho I um mosteiro, destinado aos cavaleiros da Ordem de Santiago da Espada. Mais tarde, tendo estes recebido de D. Afonso III as vilas de Mértola, Alcácer do Sal e Palmela, foi o mosteiro concedido a algumas senhoras parentes dos cavaleiros de Santiago, a quem D. Afonso Henriques concedera o título de Comendadeira e que por êsse tempo viviam reunidas numa quinta em Arruda dos Vinhos.
     Largos anos estiveram essas donas e donzelas no mosteiro de Santos, sendo conhecidas vulgarmente nessa época por mulheres da obrigação dos cavaleiros de Santiago. Porém, em 1470, D. João II mandou que essas senhoras passassem para a ermida de Nossa Senhora do Paraíso, entre os conventos de Santa Clara e Xabregas, enquanto se construia, o de Santos-o-Novo.
     Em 1475 entraram as comendadeiras naquele novo e vasto convento, com bons dormitórios, grande claustro arborizado, tendo o espaçoso edifício muitos compartimentos e 365 janelas. E anos depois, foram solene e processionalmente transportadas para o convento de Santos-o-Novo as relíquias dos Santos Mártires, que desde o reinado de D. Afonso Henriques estavam guardadas na igreja de Santos-o-Velho.
     As senhoras recolhidas naquele mosteiro gozavam de muitas honras e privilégios, não sendo consideradas freiras. Eram pessoas nobres, que podiam ter criadas ao seu serviço. Algumas delas professavam votos iguais aos cavaleiros da mesma Ordem de Santiago. Pertenceram à Ordem senhoras de nobre estirpe, como D. Auzenda Egas, descendente de Egas Moniz e D. Sancha Martins Peres, que foi a primeira superiora.
     Como D. Afonso Henriques recomendara em uma carta para Arruda dos Vinhos que as senhoras usassem toucados honestos, as comendadeiras seguiram sempre essa recomendação vestindo trajos de sêda preta colocando sôbre êles mantos brancos de tule com as cruzes de Santiago e toucados também brancos nos cabelos. A princípio ocuparam, cada uma, várias dependências do convento, mas, pouco a pouco, foram vivendo mais modestamente, contentando-se cada uma com mais reduzido número de compartimentos; e o título de comendadeira chegou ao séc. XIX apenas como honorífico.
     O terramoto de 1755 arruinou bastante o edifício, chegando as senhoras ali recolhidas a terem que armar barracas na cêrca do convento para ali se abrigarem, até se reedificarem os seus dormitórios. Em 1833, o mosteiro podia acomodar 500 pessoas. Mas nesse mesmo ano D. Pedro IV ordenou que as religiosas de todos os conventos recolhessem para dentro das linhas de defesa de Lisboa, e a maior parte das comendadeiras de Santo-o-Novo recolheu ao mosteiro da Encarnação, da Ordem de S. Bento de Aviz. Terminadas as lutas civis, as comendadeiras regressaram ao seu convento.
     O edifício do convento de Santos é atualmente (1941) patrimônio do Estado e destinado a recolhimento de viúvas e filhas de oficiais do Exército e da Armada e funcionários públicos, dependendo da Direção Geral de Assistência Pública. No edifício estão também escolas primárias e o Instituto Presidente Sidónio Pais, do Prefessorado Primário (secção masculina).
 
Fonte: