terça-feira, 27 de junho de 2023

Beata Bárbara Maix – Fundadora – 27 de junho

     
Há 150 anos, no dia 17 de março de 1873, a Beata Bárbara Maix falecia em Catumbi (RJ). A vida desta mulher forte e batalhadora nunca é lembrada nos meios feministas, que tanto elogiam as “conquistas” das mulheres. Respeitando as autoridades civis e eclesiásticas, ela soube, entretanto, fazer prevalecer seus métodos e seus princípios. Enfrentando as hostilidades de uma imprensa já eivada de liberalismo e de ideias anticatólicas levou adiante a obra que a Divina Providência lhe inspirara.
     Como tantas almas de escol – Santa Paulina e a Venerável Madre Voiron, por exemplo – que deixaram suas pátrias para no Brasil se dedicarem a uma obra de excelência junto à população católica, a Beata Bárbara exortou suas Irmãs à dedicação à infância e à juventude feminina em orfanatos e colégios, além de serviços em hospitais durante epidemias.
     É justo, pois, prestar a ela nossa homenagem agradecida, rogando que ela interceda para que nossa Pátria saiba reconhecer as verdadeiras e reais conquistas que só podem ter como meta a maior glória de Deus e da Santa Igreja.
     Bárbara Maix fundou a Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria: "Façamos do Coração de Maria um cofre para colocar todas as dores, aflições e trabalhos".
*
     Natural de Viena, Áustria, filha de José Maix e Rosália Mauritz, nasceu no dia 27 de junho de 1818. Bárbara, a caçula de nove filhos do segundo matrimônio, teve uma infância e adolescência marcadas por sequelas de tifo e privações, que debilitaram sua saúde.
     Seu pai, José Maix, era funcionário público, mas também criado doméstico e camareiro no Palácio do Imperador Ferdinando. Bárbara cresceu neste ambiente de contrastes, entre o luxo do palácio e a pobreza e sofrimentos da família. No entanto, seus pais a educaram na fé cristã, no espírito de fortaleza e perseverança diante dos desafios.
     Bárbara herdou dos pais a fé católica, o espírito de luta e resistência, persistente teimosia pelo ideal de vida, a coragem de enfrentar as adversidades. O amor sem limites ao próximo, sobretudo aos mais necessitados espiritualmente, foi o que a tornou forte, destemida, cheia de vigor.
     Desde criança, não obstante a realidade em que vivia, a jovem começou a sentir certo desejo missionário e profético. Desta forma, tornou-se audaciosa, destemida, a ponto de dirigir-se às autoridades do Império e da Igreja para alcançar seus objetivos.
     Bárbara ficou órfã de pai e mãe aos 15 anos. Ela e as irmãs perderam inclusive a casa em que viviam. Enfrentando a vida praticamente sozinha, fez curso de modista, habilitando-se a ensinar corte e costura, bordado e artes femininas. Passava horas inteiras em oração na Igreja de Nossa Senhora da Escada. Em 1843 abriu uma pensão destinada a acolher moças desempregadas. Bárbara logo reuniu em torno de si jovens que a auxiliavam nas atividades de apostolado, sob a orientação espiritual e o apoio do Pe. João Nepomuceno Pöckl, redentorista.
     Em 1848, explodiu a revolução liberal em Viena, perseguindo a Igreja e as associações religiosas. Bárbara e suas companheiras foram obrigadas a abandonar sua residência.
Chegada ao Brasil
     O contexto político-econômico de Viena obrigou Bárbara a sair do país. Sua meta era a América do Norte, mas quando um barco com destino ao Brasil aportou no porto de Hamburgo, onde ela e as suas discípulas aguardavam para embarcar, ela percebeu ser esta a vontade de Deus e decidiu partir. Ela e as 21 companheiras vinham para o Brasil sem conhecê-lo cultural e geograficamente. Acompanhava-as o Pe. Pöckl, que também tencionava fundar a Congregação dos Irmãos do Sagrado Coração de Maria, e mais dois jovens da família Hamberger.
     Chegamos ao Rio de Janeiro - escreveu Madre Isabel - em novembro de 1848, sem dinheiro, famintas, sem conhecer ninguém, sem saber a língua, mas cheias de confiança em Deus e em Nossa Senhora”.
     Dom Manoel de Monte Rodrigues de Araújo, Bispo do Rio de Janeiro, intercedeu por elas, que foram acolhidas pelas Irmãs Concepcionistas do Convento de Na. Sra. da Ajuda. Naquele convento as futuras Irmãs se prepararam para o dia da vestição religiosa.
     É de se salientar que o Imperador D. Pedro II visitou-as algumas vezes, pois entendia bem o idioma alemão. A mãe do Imperador, a falecida Da. Leopoldina, era natural de Viena e as hóspedes gozavam da benévola proteção do Imperador e da Imperatriz.
     A maioria das Irmãs do Convento da Ajuda dispunha de escravas para auxiliar nos trabalhos caseiros. Um mês após a entrada das suas Irmãs naquela generosa hospedagem, e tendo as suas Irmãs se recuperado da longa viagem, Bárbara rogou a Madre Abadessa que se dignasse consentir que as Irmãs cozinhassem por si mesmas, lavassem suas roupas e se dedicassem aos trabalhos de agulha e costura. Era o modo de Bárbara restaurar a vida autônoma da comunidade e demonstrar seu repúdio à escravidão.
     No dia 8 de maio de 1849, as Irmãs emitiram os votos religiosos e ficou ereta juridicamente a primeira Instituição feminina de vida ativa no Brasil, a Congregação do Sagrado Coração de Maria, já com 22 membros. Bárbara recebeu o nome religioso de Madre Maria Bárbara da Santíssima Trindade.
     Numa época de muitas dificuldades, especialmente para as mulheres, Bárbara se fez educadora e proporcionou estudo a muitas meninas, em especial órfãs e pobres. Atenta à realidade, percebeu outras necessidades da época, assumindo Asilos e Pensionatos. Por ocasião das epidemias – cólera e febre amarela – e da Guerra do Paraguai, assumiu atividades em enfermarias e hospitais. As Irmãs acolhiam mulheres que procuravam asilo, dedicavam-se à educação das jovens mais abandonadas e cuidavam dos doentes.
     Em 1852, Madre Bárbara viajou para Roma levando as Constituições para o Papa aprová-las, o que daria maior credibilidade à sua obra junto ao clero e mais apoio espiritual. Além da aprovação verbal do Beato Papa Pio IX, que a exortou a trabalhar e aumentar a Congregação, ela conseguiu trazer mais candidatas ao noviciado, dois candidatos à Congregação dos Irmãos e os pais dos Hamberger, que chegaram ao Rio em 1853.
     Em janeiro de 1855, o Asilo de Santa Leopoldina, de Niterói (RJ) abrigava 26 órfãs e 4 órfãos. E a cidade de Pelotas (RS), tendo ouvido falar do Asilo de Niterói, resolveu fundar um asilo de meninas órfãs e desamparadas, confiando-o às Irmãs do Coração de Maria.
     Em 1857, Madre Bárbara vê a possibilidade de abrir um colégio próprio em Porto Alegre, pois percebera que havia ali mais vocações religiosas do que no Rio. Entrementes, aceitou a direção de um Asilo às Expostas, um anexo da Santa Casa de Misericórdia que recebia crianças abandonadas na “Casa da Roda” e que dava instrução às órfãs.
     Foram grandes e incontáveis os sofrimentos da Fundadora. Nos Asilos mantidos por sociedades leigas, pertencentes à maçonaria, Madre Bárbara sofreu toda sorte de hostilidade. Em 1858, a Fundadora tratou de conseguir existência independente dos poderes públicos. Para tanto, abriu um pensionato na casa alugada pela Congregação ao lado do asilo de Porto Alegre. Logo jovens se apresentaram para se tornarem Irmãs do Coração de Maria, embora houvesse jornais diários que difundiam grande antipatia pela vida religiosa.
A Dissidência
     Um grupo de Irmãs do Asilo de Pelotas, influenciado e apoiado pela Diretoria, separou-se da Congregação. Em Porto Alegre, algumas Irmãs apresentaram a D. Sebastião Dias Laranjeira, Bispo do Rio Grande do Sul, acusações contra a Fundadora, ocasionando a visita canônica ao Asilo Providência, onde residia Madre Bárbara. Críticas infundadas e calúnias difamaram a fundadora e as irmãs que lhe eram fiéis. O Bispo nomeou superiora local e mestra de noviças da oposição.
     Em 31 de dezembro de 1870, Madre Bárbara partiu para Petrópolis, deixando para sempre Porto Alegre onde por 14 anos dedicara-se ela para que suas filhas tivessem em abundância. Saia espontaneamente, mas as rebeldes tomaram isso como uma expulsão. Nas suas cartas ofereceu o seu perdão a todas.
Últimos Anos
Relicário
     No dia 15 de janeiro de 1871, Madre Bárbara assumiu a administração, com mais quatro Irmãs, da Escola Doméstica de Petrópolis, destinada a acolher órfãs. No mês de setembro daquele ano, o Asilo recebeu a visita da Família Imperial, que assistiu a Missa na capela com as asiladas e as Irmãs.
     Madre Bárbara, que sempre tivera uma saúde frágil, sofria de asma e do coração, sentia o mal se agravar. A cisão da Congregação causara-lhe muito sofrimento. Não podendo responder as cartas que as Irmãs lhe enviavam, dizia que “o que não posso fazer agora com a pena, faço-o dia e noite com a língua e as lágrimas do coração, pedindo à Ssma. Trindade que, com sua onipotência, opere nos corações de cada uma aquilo de que necessitam”.
     No dia 17 de março de 1873, expirou placidamente, com um sorriso nos lábios, às 16 h. Tinha 55 anos. Faleceu em Catumbi (RJ), onde morava com as quatro Irmãs numa casa emprestada. Deixou às suas Irmãs o Perdão como herança, e o perfume da sua santidade a todos.
     Algum tempo após sua morte foram encontradas cartas datadas de 1872 que Madre Jacinta, a líder das dissidentes, havia escrito às autoridades eclesiásticas e ao Imperador contando toda a verdade sobre o acontecido, retratando-se e pedindo perdão à Fundadora. Madre Bárbara guardara estas cartas que, depois de lidas pelas autoridades, lhe foram entregues, para evitar a humilhação de suas filhas perante a Igreja e o governo Imperial.
     Embora aparentemente sua vida fora um fracasso, Bárbara tinha certeza, como demonstram suas cartas, que Deus tinha fundado a sua Congregação, e, apesar de ela parecer aniquilada, com um só aceno a reergueria. Sua Congregação prosperou e se expandiu e está presente hoje em 15 Estados do Brasil, encontrando-se também no Haiti, Moçambique, Paraguai, Venezuela, Bolívia e Itália.
     Em 1957 seus restos mortais foram transladados para a Capela São Rafael, em Porto Alegre. A Venerável Bárbara Maix foi beatificada no dia 6 de novembro de 2010, na cidade de Porto Alegre em celebração presidida pelo Núncio Apostólico no Brasil, Dom Lorenzo Baldisseri.





 
Fontes: Documentário, Pe. Octávio C. Bortoluzzi, 2ª. ed. 1996
http://www.santosdobrasil.com.br/www.aasc.org.br
https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2021-11/beata-barbara-maix-festa-liturgica-6-novembro.html
 
Postado neste blog em 6 de novembro de 2011

segunda-feira, 26 de junho de 2023

Beata Maria Josefina de Jesus Crucificado, Carmelita - 26 de junho

     
Josefina Catanea nasceu no dia 18 de fevereiro de 1894, em Nápoles, no seio da nobre família dos marqueses Grimaldi. Desde pequena mostrou uma predileção particular pelos pobres e os mais necessitados, destinando-lhes o dinheiro que lhe davam para brinquedos ou merendas, e ajudando a duas velhinhas que viviam sozinhas.
     O exemplo de sua avó e de sua mãe foi a escola onde aprendeu a conhecer Jesus e a se enamorar dEle. Tinha uma devoção particular pela Eucaristia e pela Virgem Maria, o que demonstrava rezando o Rosário.
     Depois de terminados os estudos, em 10 de março de 1918, superando a oposição de sua mãe e de seus familiares, ingressou no Carmelo de Santa Maria, em "Ponti Rossi", lugar assim chamado porque ali se encontravam as ruínas de um aqueduto romano.
     No Carmelo aprendeu a amar a Cristo em meio ao sofrimento, oferecendo-se como vítima pelos sacerdotes. Soube aceitar a vontade de Deus, embora isto significasse grande dor física: se viu afetada por uma forma grave de tuberculose na espinha dorsal, com dores nas vértebras, que a paralisou completamente. Em 26 de junho de 1922 foi curada milagrosamente, de forma instantânea, depois do contato com o braço de São Francisco Xavier, que lhe levaram até sua cela.
     A "monja santa", como a chamava o povo, iniciou um grande apostolado principalmente no locutório do convento, acolhendo a todo tipo de pessoas doentes e necessitadas de ajuda, tanto material como espiritual, às quais proporcionava consolo e conselho para encontrar o amor de Deus. Inclusive realizou milagres.
     Sua abnegação prosseguiu também quando foi acometida de outras enfermidades que a obrigaram a usar cadeiras de rodas, crucificando-se com Jesus pela Igreja e pelas almas.
     Em 1932, no dia 7 de dezembro de 1932, o Papa Pio XI aprovou a fundação do Carmelo em Ponti Rossi, em Nápoles, como mosteiro de Carmelitas Descalças. No dia 30 de janeiro onze terciárias recebem o hábito e iniciaram o noviciado. Josefina tinha então 39 anos. Josefina Catanea recebeu o hábito de Santa Teresa de forma oficial, tomando o nome de Maria Josefina de Jesus Crucificado.
     Em 6 de agosto desse mesmo ano fez a profissão solene segundo a Regra carmelitana, que já vivia desde 1918. A Jesus, naquele dia solene e íntimo, pede uma graça: “Que eu não seja jamais privada do dom preciosíssimo do sofrer”. Jesus a contentou e a configurou a si até o último instante da sua vida.
     Ir. Maria Josefina, consciente de ter sido escutada, escreveu alguns anos mais tarde: “Quando penso que Jesus me colocou com Ele sobre a Cruz, sinto em mim uma maternidade espiritual, uma ternura pelas almas, uma alegria grande, profunda que não sei dizer”. Anota em um outro escrito: “Ó Jesus, absorve-me em ti, aprofunda-te em mim, transforma-me em Ti, faz que eu viva só de Ti”. Como Santa Teresa de Jesus, Ir. Maria Josefina está dizendo, ao seu modo, a partir da sua experiência: “Só Deus basta”.
     Em 1934 o Cardeal Alessio Ascalesi, arcebispo de Nápoles, a nomeou sub-priora; em 1945, vigária; e em 29 de setembro desse ano, no primeiro capítulo geral, foi eleita priora, cargo que desempenhou até sua morte.
     Sua espiritualidade, sua docilidade amorosa, sua humildade e simplicidade, lhe granjearam grande estima durante os anos da 2ª. Guerra Mundial. Rezava sem cessar, alimentando assim sua confiança em Deus, com a qual contagiava a todos os que se dirigiam em peregrinação a "Ponti Rossi" para escutar suas palavras de alento, consolo e estímulo para superar as provas e as dores das tristes situações resultantes da guerra.
     No dia de sua tomada de hábito dissera: "Eu me ofereci a Jesus Crucificado para ser crucificada com Ele", e o Senhor aceitou sua oferta. Compartilhou os sofrimentos de Cristo de forma silenciosa, porém alegre. Suportou durante muitos anos duras provas e perseguições com espírito de abandono à vontade de Deus. Também gozou de carismas místicos extraordinários.
      Por obediência e por conselho de seu diretor espiritual, escreveu sua "Autobiografia" (1894-1932) e seu "Diário" (1925-1945), bem como numerosas cartas e exortações para as religiosas.
     A partir de 1943 começou a sofrer várias enfermidades especialmente dolorosas, que incluíram a perda progressiva da visão. Convencida de que essas enfermidades eram vontade de Deus, as acolhia como "um dom magnífico" que a unia cada vez mais a Jesus Crucificado. Com um sorriso nos lábios, ofereceu seu corpo como altar de seu sacrifício pelas almas.
     Ela soube sacrificar, sem dúvida, o seu ideal de escondimento à vontade de Deus, expressa pelos superiores. “Como queria passar as minhas horas na cela – dizia -, mas as almas me esperam e a tudo devo renunciar por amor a elas”. Nos seus propósitos escrevia: “Esta é a minha vida, ó Jesus: atividade de obediência, de fé, de zelo para levar-te às almas, para conduzi-las a ti. Que me importa que isto me custe sacrifícios? Não me fez, tu, mamãe das almas? Darei a elas todas as minhas energias por teu amor, resistirei ao trabalho, mesmo sentindo-me faltar as forças, contente de sofrer até a morte, desde que as almas se salvem e te glorifiquem, ó Jesus”.
     A devoção da Beata à Virgem era grande. Ela explicava assim àqueles que se admiravam da sua familiaridade com Ela: “Sinto na alma a ternura que a Santíssima Virgem tem pelas almas”. Tem clara a consciência de que Maria opera na sua vida e na vida daqueles que encontra no Carmelo; na escola do Carmelo aprendeu que a verdadeira devoção a Maria é toda interior. “Maria, nenhum outro, deve unir a nossa alma a Deus bendito, com união íntima de adesão ao divino querer”.
     A Beata morreu no dia 14 de março de 1948, Domingo da Paixão, em sua cidade natal; tinha 54 anos. Foi beatificada na Catedral de Nápoles pelo Cardeal Crescenzio Sepe em 1º de junho de 2008. A sua memória litúrgica é celebrada em 26 de junho.
 
Fontes:
https://blogdamissaoatos.wordpress.com/santos-homens-como-nos-2/2014-2/junho/beata-maria-josefina-de-jesus-crucificado/
https://www.vatican.va/
 
Postado neste blog em 26 de junho de 2013

quinta-feira, 22 de junho de 2023

Beata Maria d'Oignies, Beguina e Mística - 23 de junho

     A Diocese de Liège foi o berço das Beguinas graças à vida e à ação de Maria d'Oignies, cujo modo de vida agradou o frei dominicano Tiago de Vitry, seu confessor e discípulo. Quando ele a conheceu, um numeroso grupo de mulheres e homens estavam estabelecidos junto ao priorado de São Nicolau de Oignies, próximo à cidade natal de Maria, Nivelles.
     O movimento nascera no final do século XII, sendo que o primeiro convento destas religiosas foi fundado por Lambert Le Bègue na Bélgica. Após a sua fundação, espalharam-se pelos Países Baixos, Alemanha e França.
     As Beguinas eram mulheres piedosas que praticavam uma vida ascética em comum, parecida com a monacal, a maior parte das vezes nos chamados beguinários. Elas dedicavam-se ao cuidado dos doentes e dos pobres, assim como às tarefas caritativas e piedosas, sem estar, contudo, vinculadas a regras de clausura nem a votos públicos.
     Em 1311, o Concílio de Vienne condenou-as por causa do perigo de heresia que representavam. Posteriormente subsistiram sob a forma de asilos. Encontram-se ainda hoje alguns beguinários muito bem conservados em Bruxelas, Antuérpia, Kortrijk e Gante (Bélgica), bem como nos Países Baixos.
*
     Maria d’Oignies nasceu em Nivelles, no Brabante, provavelmente em 1177, numa família abastada. Muito cedo ela nutriu um desprezo pelos prazeres em que normalmente se envolvem as pessoas mais favorecidas; nada lhe agradava tanto como a solidão, onde ela se consagrava inteiramente à meditação sobre as coisas divinas.
     Quando ela completou catorze anos, seus pais fizeram-na desposar um jovem proveniente duma excelente família, que também possuía grande fortuna, cujo nome era João. Durante algum tempo eles viveram a vida conjugal, mas Maria conquistou seu jovem esposo ao seu ideal de vida religiosa. Juntos, na castidade, eles decidem se consagrar a Deus na pobreza e nas obras de piedade. Para o grande desgosto de seus pais e de seus amigos, eles se instalam no leprosário de Willambroux, onde eles viveram vários anos cuidando dos leprosos.
     A personalidade brilhante de Maria aliada a uma vida de austera mortificação atraia visitantes que a consultavam sobre questões de vida espiritual. São atribuídos a ela milagres, leprosos são curados.
     Como ela se tornou muito célebre em Willambroux, sua sede de solidão e de renúncia fez com que, de acordo com seu marido, ela deixasse Willambroux em 1207, e se juntasse à uma pequena comunidade de religiosas beguinas instaladas junto a um mosteiro de cônegos agostinianos recentemente fundado em Oignies (vilarejo da comunidade de Aiseau-Presles, próximo de Charleroi). Sua reputação de santidade e de sabedoria espiritual cresceu: as pessoas vinham de longe para consultá-la.
     Entre estes visitantes, em 1208, chegou um brilhante teólogo de Paris (mais tarde cardeal), Tiago de Vitry (+ 1240). Ele ficou encantado com a personalidade de Maria. A afinidade foi recíproca. Tiago de Vitry renunciou a uma brilhante carreira em Paris e se instalou em Oignies, onde ele se tornou discípulo, confessor e ‘pregador’ de Maria de Oignies. Ele permaneceu ali até o falecimento da beata em 1213.
     Eram tempos complexos, a Cristandade era dilacerada pelas lutas contra as heresias dos cátaros e dos albigenses. Embora vivendo quase em clausura, Maria acompanhava os acontecimentos. Passava muitas horas noturnas em oração diante do Santíssimo Sacramento. Um dia teve a premonição de que a festa de Corpus Christi seria instituída. Com efeito, isto aconteceu em 1246, na vizinha cidade de Liège, graças a Santa Juliana de Cornillon.
     Em 1212, Maria conheceu São Folco, Bispo de Toulouse, quando os albigenses o expulsaram de sua diocese. O Santo se refugiou em Liège e ficou impressionado com a santidade de vida das Beguinas. Naquele ano Maria recebeu os estigmas. No ano seguinte, no dia 23 de junho de 1213, depois de numerosas e especiais graças, morreu na idade de 36 anos. No leito de morte predisse que surgiria uma ordem de pregadores que para o bem da Igreja venceria a heresia. Folco de Toulouse, junto com São Domingos, lutou contra os cátaros e assistiu à fundação dos primeiros conventos dominicanos.
     Os seus rigores e abstinências obtiveram de Jesus que ela se beneficiasse também de visões celestes, particularmente do seu Anjo da Guarda que lhe aparecia regularmente e a aconselhava. Teve igualmente várias vezes, a “visita” de São João Evangelista que lhe oferecia manjares celestes. Maria d’Oignies tinha pela Virgem Maria uma grande devoção e não hesitava, mesmo durante os rigores do inverno, em visitar um dos seus Santuários; ela peregrinava descalça, em espírito de penitência.
     Em 1216, a pedido de Folco, Tiago de Vitry escreveu uma Vida de Maria d’ Oignies que é praticamente a única fonte de informação sobre a Beata. Para Tiago de Vitry Maria d’Oignies é um exemplo da vida espiritual na Diocese de Liège, que ele avaliava como uma terra de santos. Para obter a aprovação para as Beguinas, e a correspondente comunidade masculina, foi para Perugia sede temporária do Papado. Tiago era um pregador ilustre, teólogo e historiador; foi sagrado bispo de São João d’Acre, na Palestina.
     Em 1226 ou 1228, o corpo de Maria foi exumado e colocado num sarcófago de pedra dentro da igreja do priorado. Em 1609, ocorreu uma nova cerimônia de transladação por iniciativa do Bispo de Namur, Francisco Buisseret. Seus despojos foram repartidos e colocados em três relicários, executados entre 1609 e 1622 pelo ourives Henri Libert, e se conservam respectivamente em Nivelles, Igreja de São Nicolau, em Falisolle e em Aiseau.  
 
Fontes: Jacques de Vitry, Vita B. Mariae Oigniacensis, dans Acta Sanctorum, juin, vol. IV, 1707. 
https://www.santiebeati.it/dettaglio/59030
 
Postado neste blog em 22 de junho de 2012

terça-feira, 20 de junho de 2023

Beata Margarida Ebner, Dominicana - 20 de junho

     
Lemos em João 16, 28: “Saí do Pai e vim ao mundo. Agora deixo o mundo e volto para junto do Pai”.
     Esse grande mistério de Deus ter tomado a forma humana nos deixa perplexos. Depois de haver divinizado o universo por sua encarnação e ressurreição, Jesus atrai tudo a si para entregar ao Pai. Margarida Ebner acreditou nisso com todo o seu coração, fazendo de sua vida uma entrega permanente à vontade do Pai.
     Margarida pertencia à família Ebner, da aristocracia alemã, muito rica e respeitada. Quando fez quinze anos de idade vestiu o hábito dominicano no Mosteiro de Maria Santíssima em Medingen, na diocese de Augusta.
     De 1314 até 1326, sofreu diversas e graves enfermidades, permanecendo a maior parte do tempo confinada em seu leito. Era consolada por Deus e chamada a cumprir em tudo a sua divina vontade. Devido às enfermidades não podia realizar as grandes penitências exteriores. Margarida então se mortificava no alimento, no porte, no sono, dedicando-se a uma vida de orações inspirada nos ciclos do ano litúrgico e caracterizada pela meditação dos mistérios da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo. Destacou-se pelo silêncio e pela paciência com que suportou suas constantes enfermidades.
     A política influenciou muito a vida da Beata Margarida. Foi uma contemplativa comprometida com a trama da História. Durante oito anos a Alemanha esteve em guerra de disputa da coroa. Para as monjas de Medingen, e especialmente para Margarida, a pátria e o imperador tinham muito espaço em suas orações. Rogavam com fervor pela volta da paz.
     Durante o período do Grande Cisma na Igreja Católica, quando havia três diferentes aspirantes ao trono papal, as monjas do Mosteiro de Medingen ficaram leais ao Papa de Roma. Como resultado, a comunidade foi forçada a se dispersar durante a campanha militar do imperador Luis IV contra as forças papais.
     Em 1324, as monjas sairam do mosteiro devido aquele conflito. Margarida passou dois anos com sua família acompanhada de uma conversa, dentro da segurança dos muros da cidade de Donauworth, antes de poder voltar para o Mosteiro de Maria Medingen. Quando tudo retornou ao normal ela voltou para a clausura daquele mosteiro.
     Margarida era devotíssima da Eucaristia e do Santo Nome e do Coração de Jesus. E ao constatar que os homens morriam aos milhares por causa da guerra, se dedicou particularmente a realizar sufrágios pelos defuntos.
     Em 28 de outubro de 1332, Henrique de Nördlingen visitou o Mosteiro de Maria Medingen. Ali conheceu Margarida e assumiu sua direção espiritual.
     Margarida Ebner foi, sem dúvida, a figura central do movimento espiritual alemão dos "amigos de Deus", e uma das grandes místicas da região do Reno no século XIV, nos mais de setenta mosteiros alemães da Ordem Dominicana. O seu diário espiritual, escrito de 1312 até 1348, que chegou até os nossos dias, revela a vida humilde, devotada, caritativa e confiante em Deus de uma religiosa provada por muitas penas e doenças. Ela viveu e morreu no amor de Deus, fiel na certeza de encontrar-se em plena comunhão com seu Filho Jesus, como sempre dizia: "Eu não posso separar-me de ti em coisa alguma".
     A santa humanidade de Jesus foi o divino objeto da sua constante e amorosa contemplação e nela reviveu os vários mistérios no exercício da virtude, no holocausto ininterrupto dela mesma, no sofrimento interno e externo, todo aceito e ofertado com Jesus, para Jesus e em Jesus.
     Na noite de Pentecostes de 1348, quando entrava no coro para o Ofício solene de Matinas, a Beata teve a impressão de receber uma graça que declarava incapaz de descrever, similar a recebida pelos Apóstolos quando sobre eles pousou o Espírito Santo. O Senhor prometeu assisti-la em seu trânsito com a Virgem Maria e o Apóstolo São João, e fez uma revelação particular a respeito de sua morte.
     Margarida Ebner morreu aos 60 anos no dia 20 de junho de 1351, no Mosteiro de Medingen, onde foi sepultada. Suas últimas palavras foram: “Demos graças a Deus. Virgem Maria, Mãe de Deus, tem misericórdia de mim”. Seu corpo se venera na igreja de seu convento, que hoje é habitado pelas franciscanas de Medingen. Seu culto imemorial foi confirmado e ratificado por João Paulo II em 24 de fevereiro de 1979.
     Entre os grandes místicos dominicanos do século XIV, brilha a suave figura desta religiosa de clausura que conquistou o apelido de "Imitadora Fiel da Humanidade de Jesus.
 
Fonte: https://www.santiebeati.it/dettaglio/90782
 
Postado neste blog em 19 de junho de 2012

domingo, 18 de junho de 2023

Beata Hosana Andreasi de Mântua - 18 de junho

     
A Beata Hosana Andreasi nasceu no magnífico palácio de uma nobilíssima família italiana (sua mãe era uma Gonzaga). Aos cinco anos, enquanto caminhava nas margens do Pó, ouviu distintamente uma voz clara e firme que lhe diz: "A vida e a morte consistem em amar a Deus". A criança entra em êxtase e sente-se levada até o Céu por um esplêndido anjo. Este lhe mostra a hierarquia do Céu e diz: "Para entrar no Céu é necessário que a Deus muito se ame. Vê, todas as coisas cantam-lhe a glória e proclamam aos homens: ama-O, ama-O, Ele a tudo criou para que O amem!"
     A partir dessa experiência, nasce nela um grande desejo de estudar teologia. O pai se opõe como algo que não é adequado para uma criança. Mas Hosana reza. Em resposta às suas orações a Nossa Senhora, esta começa a aparecer em pessoa e da-lhe aulas. Então Hosana aprende latim e adquire um grande conhecimento das Escrituras Sagradas. Cita de memória até mesmo os comentários dos Padres da Igreja.
     Por fim, seu pai se convenceu. Permite que ela dedique sua vida à teologia, não se case aos quinze anos e use o hábito de terciária dominicana. Mas Hosana também assume responsabilidades políticas, incluindo a regência provisória do Ducado de Mântua
     Quando Hosana tinha 28 anos de idade, recebeu estigmas na sua cabeça, no lado e nos pés, embora fossem visíveis para terceiros apenas em certos dias da semana especialmente às sextas-feiras e durante a Semana Santa. Hosana relatou a sua vida espiritual e experiências místicas ao seu biógrafo e orientador espiritual, o beneditino Jerônimo de Monte Oliveto.
     Ajudava os pobres e serviu como diretora espiritual de muitas pessoas, gastando grande parte da fortuna da sua família para auxiliar os mais necessitados. Manifestava frequentemente a sua repulsa pela decadência e criticava a aristocracia pela ausência de moralidade. Foi amiga da Beata Columba de Rieti e recebeu apoio espiritual da Beata Estefânia Quinzani.
     A sua casa era um autêntico centro de ação social e caritativa em benefício dos mais necessitados, bem como um local habitual de reunião e discussão sobre temas espirituais e vida da Igreja. Uma das principais causas de sofrimento de Hosana no seu tempo foi a degradação da Igreja sob o pontificado do Papa Alexandre VI.
     Hosana passou os últimos 37 anos da vida na corte de Mântua. Em 1478, os soberanos de então, o Duque Francisco II e sua mulher, Isabel d’Este, fizeram dela superintendente da sua Casa. Depressa compreenderam que era um anjo que tinham debaixo do teto. Quando ela estava para morrer, ajoelhados junto do leito, pediram-lhe a bênção; ela respondeu que pertencia ao sacerdote presente abençoá-los. Foi preciso que este tomasse a mão dela para lhes traçar na testa o sinal da cruz. Francisco II isentou de contribuições, por vinte anos, todos os membros da família dela. E a duquesa Isabel ergueu-lhe um belo mausoléu, que ainda agora se vê na Catedral de Mântua.
     Dotada de dons proféticos, com suas orações protegeu o Duque Francisco na batalha de Fornovo de 1495, predisse a derrota de César Bórgia e, em 1500, o tão suspirado nascimento do primeiro filho de Isabel d’Este, Frederico II, “filhinho da oração”. Falou também de um flagelo que cairia sobre a Itália corrupta, profetizando o saque de Roma, obra dos Lanzichenecchi, em 1527.
     A ''Vida da Beata Hosana'' foi escrita em 1507, pouco depois da sua morte. Fr. Jerônimo juntou traduções em latim das 24 cartas recebidas de Hosana, acompanhadas de documentos certificando a sua autenticidade. A biografia tem um caráter de relatório detalhado das suas conversas com Hosana.
     Uma outra biografia, publicada em 1505 é da autoria de Fr. Francisco Silvestre de Ferrara, um dos mais relevantes teólogos tomistas e que veio a ser Mestre Geral da Ordem dos Pregadores.
     Hosana faleceu a 18 de junho de 1505. O seu corpo incorrupto encontra-se em exposição sob o altar de Nossa Senhora do Rosário na Catedral de Mântua, Itália
 
* * *
 
A Beata e o Anjo
     Gostaria de meditar sobre o fato maravilhoso - referido por seu confessor e biógrafo - que aconteceu quando ela tinha cinco anos de idade. Sabemos que o estudo da teologia - e da filosofia, que necessariamente a acompanha - é muito profundo e requer uma aplicação vigorosa da razão. São estudos normalmente adequados a pessoas maduras: quanto mais madura é a pessoa, mais adequado é o estudo deste tipo. Esta é a regra: a vida da Beata Hosana é a exceção.
     Olhemos uma menininha de cinco anos que caminha ao lado de um rio muito bonito, o Pó. Eu mesmo tive a oportunidade de apreciar a beleza do Pó em uma viagem de Milão a Veneza. A menina está admirando o rio quando um anjo aparece. Um anjo magnífico que fala do amor a Deus e como toda a criação canta e proclama a Sua glória. A essência desta mensagem é que Deus criou todas as coisas para ser amado por meio delas.
     Por que um anjo apareceu para esta menina? E como é que o anjo faz para abrir a alma de uma criança para a contemplação de Deus na Criação? A menina provavelmente já estava preparada pela sua natureza a considerar com admiração a paisagem à sua frente. É comum entre as crianças que conservam sua inocência original colocar-se numa posição de admiração diante das belezas da natureza. Mas aqui aparece um anjo e se torna a coisa mais bela que ela já tinha visto. Percebemos isto pelo relato de seu confessor e biógrafo, que o deve ter contado muitas vezes.
     O anjo, movendo-se em uma espécie de auge da beleza, a ergue desta Terra e mostra a ela a hierarquia celeste, ou seja, a hierarquia angélica no Paraíso, onde os tronos dos anjos caídos permanecem vazios e são gradualmente ocupados por homens e mulheres santos. Assim é mostrada a Hosana a mais bela realidade que existe, todo o Reino Celeste. Depois de ter mostrado toda esta beleza, o anjo lhe diz para observar como todas as coisas criadas por Deus são intrinsecamente boas e dignas de serem amadas. É a conclusão natural: ame as criaturas e ame o Seu Criador, a fim de tornar-se santa e ir para o Céu para ocupar o lugar preparado para você.
     Deus, por meio de seu anjo, convida uma menina a compreender o esplendor da criação e a magnificência do Criador, algo que vai muito além da capacidade de percepção natural dos sentidos. Deus a convida a elevar-se acima das limitações humanas e a concentrar a sua alma sobre as realidades espirituais que são imperceptíveis aos nossos sentidos, mas que são mais reais do que a realidade material. Mostra-lhe também um anjo e a hierarquia angélica composta por seres puramente espirituais. No vértice da hierarquia está Nossa Senhora e, acima dEla, o Rei dos reis, Nosso Senhor Jesus Cristo.
     Com este convite único Deus está formando uma pessoa cuja vida inteira será dedicada à reflexão. Enquanto o anjo mostra para Hosana todas estas coisas, está implicitamente dizendo a ela para fazer um esforço de inteligência para conhecer Deus. O anjo indica, já aos seus cinco anos, a estrada que lhe é destinada para se santificar: se estas coisas são tão belas, como Deus deve ser mais belo. E ela começa a meditar sobre estas coisas. [...]
Autor: Plinio Corrêa de Oliveira
 

quinta-feira, 15 de junho de 2023

Santa Margarida Maria Alacoque e o Sagrado Coração de Jesus

     
Margarida Maria Alacoque nasceu em 22 de julho de 1647, em L'Hautecour, região da Borgonha, na França. Seu pai, Claudio de Alacoque, era juiz e tabelião, e morreu quando Margarida ainda era muito jovem. Após a morte do pai, Margarida foi morar com o tio, Toussant. Ela e a mãe, Felisberta de Alacoque sofreram muito com essa mudança. Ela passou necessidade, pois seus parentes não eram generosos e não lhe permitiam ingressar no convento, como era seu desejo. Recebeu sua 1ª Comunhão aos 9 anos de idade e, aos 22, a Crisma. Conta-se que, para confessar-se, escrevia seus pecados num papel, para não se esquecer de nada. 
     Em 24 de junho de 1673, aos 25 anos, Margarida Maria teve sua primeira visão do Sagrado Coração de Jesus, fato que se repetiria por mais dois anos, a cada primeira-sexta feira do mês. Em 1675, nas oitavas de Corpus Christi, Jesus apareceu-lhe então com o peito aberto e o coração ferido, fora do corpo. Apontando Seu coração com o dedo, lhe disse: “Eis o Coração que tem amado tanto aos homens, a ponto de nada poupar até exaurir-se e consumir-se para demonstrar-lhes o seu amor. E em reconhecimento, não recebo senão ingratidão da maior parte deles”.
     Numa das aparições, enquanto ela estava em êxtase, recolhida e imóvel, com os braços cruzados no peito, através das graças ela viu o Coração. Este coração estava completamente cercado de chamas e rodeado por uma coroa de espinhos, transpassado por uma profunda ferida, todo ensanguentado e encimado por uma cruz. “Margarida - disse Jesus, dirigindo-se a ela – “Eu te prometo, na excessiva misericórdia do meu coração, dar penitência final a todos os que comungarem na primeira sexta-feira em nove meses consecutivos. Eles não morrerão no meu desagrado, nem sem receber os Sacramentos, tornando-se meu Coração refúgio para eles naqueles transes extremos”.
     E como preparação para as comunhões, o próprio Cristo revelou a Santa Margarida a prática da Hora-Santa, com as seguintes palavras:
     Em toda a minha Paixão foi no horto que mais sofri, vendo-me completamente abandonado do céu e da terra. Oprimido pelos pecados de todos os homens, apareci perante a Santidade de Deus, que, sem consideração pela minha inocência, me esmagou com o peso da sua ira, fazendo-me beber o cálice que continha todo o fel e toda a amargura da sua cólera justíssima. Ninguém pode compreender a intensidade desse meu tormento… Todas as noites, da quinta para a sexta-feira, far-te-ei participar da mortal tristeza que senti no horto. Para me acompanhares nesta humilde oração, que então ofereci a meu Pai, levantar-te-ás entre as onze e meia noite, e te prostrarás durante uma hora com a face sobre a terra, como Eu fiz, não só para aplacar a ira divina, pedindo misericórdia pelos pecadores, mas também para adoçar, de algum modo, a amargura que senti pelo abandono dos meus Apóstolos que não tinham podido velar uma hora comigo”.
     Santa Margarida morreu em 17 de outubro de 1690, aos 43 anos de idade, em Paray-le-Monial. Foi beatificada em 18 de setembro de 1864, em Roma, pelo Papa Beato Pio IX. Sua canonização aconteceu em 13 de maio de 1920, pelo Papa Bento XV. 
     É padroeira e protetora daqueles que sofrem com poliomielite, dos devotos do Sagrado Coração de Jesus e daqueles que perderam seus pais. Sua festa litúrgica foi antecipada por um dia para não coincidir com a de Santo Inácio de Antioquia.
     Em 1829, a Arquiconfraria da Hora Santa foi estabelecida pelo Père Robert Debrosse em Paray-le-Monial, Borgonha, França. Em 1911 recebeu o direito de agregação para todo o mundo. Uma sociedade semelhante chamada "A Hora Santa Perpétua do Getsêmani" foi formada em Toulouse em 1885 e foi erguida canonicamente em 1907. Em 1909 recebeu indulgências do Papa São Pio X.
Natureza da Hora Santa
     A Hora Santa consiste numa hora de oração vocal ou mental, em memória da Paixão e Morte de Nosso Senhor e em homenagem ao ardentíssimo amor que O levou a instituir a divina Eucaristia.
     O que fazer nessa uma hora de companhia ao Sagrado Coração de Jesus? Sugestão:
1 – Ler as passagens da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e meditar nelas.
2 – Rezar os Mistérios Dolorosos do Rosário
3 – Rezar a Ladainha do Sagrado Coração de Jesus
4 – Rezar uma Via Sacra
 
Iniciar sempre com a Invocação ao Espírito Santo
     Vinde, Espírito Santo, enchei os corações de vossos fiéis e acendei neles o fogo de vosso amor.
     - Enviai o vosso Espírito e tudo será criado.
     - E renovareis a face da terra.
 
Oração
     Deus, que esclarecestes os corações de vossos fiéis com as luzes do Espírito Santo, concedei-nos, por esse mesmo Espírito, conhecer e amar o bem e gozar sempre de seu divino consolo. Por Jesus Cristo, Nosso Senhor. Amém.
Oferecimento
     Senhor Jesus Cristo, nós vos oferecemos esta hora de oração segundo as intenções de vosso pedido a Santa Margarida Maria, ao dizer-lhe: “Espero que passareis em oração as noites de quinta-feira desde as onze horas até a meia-noite, a fim de partilhar comigo as dores da minha agonia no Jardim das Oliveiras e para apaziguar minha cólera contra os pecadores”.
     Sendo assim, Senhor, nós Vos pedimos em primeiro lugar perdão pelos nossos próprios pecados, renovando o propósito de não mais Vos ofender; pedimos-vos também, a conversão dos pecadores, particularmente daqueles que já alguma vez Vos conheceram e amaram, e cujo afastamento mais Vos faz sofrer.
     Oferecemos-vos as orações desta hora de modo especial:
    
Em reparação
     pelos soberbos governadores das nações que ultrajam o vosso nome e as vossas leis
     pelas turbas agrupadas pelo averno e os sectários, seus sequazes, que assaltam os vossos santuários, sedentos de sangue
     pela vossa Igreja que geme sob os grilhões e as cadeias com que os poderosos e os pretensos sábios querem entravar os seus progressos e inutilizar os seus esforços
     por tantos bons e virtuosos medirem com avareza os sacrifícios e as boas obras, mostrando-se mesquinhos para convosco, quando tão pródigos para o mundo
     pela deslealdade das almas escolhidas que deveriam esquecer as coisas da terra para serem inteiramente vossas, então, mais do que nunca, nessa hora de suprema desolação
 
Perdão! Perdão, ó Divino Coração!
     pelos nossos pecados, pelos pecados de nossos parentes, amigos e inimigos.
     pelas infidelidades e sacrilégios.
     pelas blasfêmias e profanação dos dias santos.
     pelas libertinagens e escândalos públicos.
     pela falta de modéstia no trajar.
     pelos corruptores da infância e da juventude.
     pela sistemática desobediência à Santa Igreja.
     pelos crimes do lar cristão, pelas faltas dos pais e dos filhos.
     pelos perturbadores da ordem pública, social e cristã.
     pela covardia dos que devem defender a nossa religião.
     pelo abuso dos santos sacramentos.
     pelos sacerdotes que Vos desprezam, pelos que rejeitaram as fileiras sacerdotais e pelos que não se esforçam em conhecer sua verdadeira vocação.
     pelos ataques da imprensa ímpia e maquinação das seitas secretas.
     E, sobretudo, pelos bons que vacilam, que resistem às inspirações da vossa divina e sapientíssima graça.
 
Em agradecimento
     Vós sois a perseverança da Fé e da Pureza para as crianças que comungam;
     Vós sois o consolo dos pais no lar cristão;
     Vós sois o bálsamo para todas as feridas;
     Vós sois a fortaleza dos fracos e a vitória dos que se acham em tentação;
     Vós sois a luz dos que vacilam e o zelo dos apóstolos;
     Vós sois o centro da vida militante da vossa Igreja;
     Vós sois a Santidade e o Paraíso das almas na Eucaristia.
 
Pedidos Finais
     Que pediremos ao Senhor nesta hora? Triunfai, Senhor Jesus, na Hóstia Consagrada. Atraí todos a Vós. Convertei o Brasil, reinai sobre o mundo inteiro. Multiplicai as conversões. Ouvi, Senhor, nossos clamores, e a começar por nós mesmos, convertei o mundo inteiro!
     Concedei-nos copiosamente vossa luz e a vossa graça, a fim de que nos tornemos cada dia mais dignos e aptos em nossa santa missão de promover entre os homens o Reinado de vosso Divino Coração.
     Sê, Senhor, para os agonizantes e atormentados um refúgio protetor, pois Vós sois a única Fortaleza e pelo Vosso Nome guiai os justos às mansões celestes.
     Finalmente, meu Deus, nós trazemos à vossa presença adorável a lembrança de todos aqueles que nos precederam no sinal da fé e agora jazem no sono da paz.  A todos eles, Senhor, concedei o lugar de refrigério e de paz, nos esplendores da luz perpétua. Amém. 
 
Ladainha do Sagrado Coração de Jesus
 
Senhor, tende piedade de nós,
Jesus Cristo, tende piedade de nós,
Senhor, tende piedade de nós,
Jesus Cristo, ouvi-nos,
Jesus Cristo, atendei-nos,
Deus, Pai do Céu, tende piedade de nós,
Deus Filho, Redentor do mundo, tende piedade de nós,
Deus Espírito Santo,
Santíssima Trindade, que sois um só Deus,
Coração de Jesus, Filho do Pai Eterno,
Coração de Jesus, formado pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria,
Coração de Jesus, unido substancialmente ao Verbo de Deus,
Coração de Jesus, de majestade infinita,
Coração de Jesus, templo santo de Deus,
Coração de Jesus, tabernáculo do Altíssimo,
Coração de Jesus, casa de Deus e porta do Céu,
Coração de Jesus, fornalha ardente de caridade,
Coração de Jesus, receptáculo de justiça e amor,
Coração de Jesus, cheio de bondade e amor,
Coração de Jesus, abismo de todas as virtudes,
Coração de Jesus, digníssimo de todo louvor,
Coração de Jesus, rei e centro de todos os corações,
Coração de Jesus, no qual estão todos os tesouros da sabedoria e da ciência,
Coração de Jesus, no qual habita toda plenitude da divindade,
Coração de Jesus, no qual o Pai Celeste põe as suas complacências,
Coração de Jesus, de cuja plenitude nós todos participamos,
Coração de Jesus, desejo das colinas eternas,
Coração de Jesus, paciente e misericordioso,
Coração de Jesus, rico para todos os que vos invocam,
Coração de Jesus, fonte de vida e santidade,
Coração de Jesus, propiciação para os nossos pecados,
Coração de Jesus, saturado de opróbrios,
Coração de Jesus, atribulado por causa de nossos crimes,
Coração de Jesus, feito obediente até a morte,
Coração de Jesus, atravessado pela lança,
Coração de Jesus, fonte de toda a consolação,
Coração de Jesus, nossa vida e ressurreição,
Coração de Jesus, nossa paz e reconciliação,
Coração de Jesus, vítima dos pecadores,
Coração de Jesus, salvação dos que em Vós esperam,
Coração de Jesus, esperança dos que em Vós expiram,
Coração de Jesus, delícias de todos os santos,
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, Senhor,
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos, Senhor,
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós.
 
Jesus, manso e humilde de coração, Fazei o nosso coração semelhante ao vosso.
 
Oração 
     Onipotente e sempiterno Deus, olhai para o coração de vosso diletíssimo Filho e para os louvores e satisfações que Ele vos tributa em nome dos pecadores, e àqueles que invocam vossa misericórdia, concedei benigno o perdão, em nome do mesmo Jesus Cristo, vosso filho, que convosco vive e reina, juntamente com o Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém.
 
Pai Nosso… Ave Maria… Glória ao Pai…
 
Fontes:
https://www.manualdacm.com/p/horasanta.html
https://salvemaria.com.br/hora-santa/

quarta-feira, 14 de junho de 2023

O Milagre Eucarístico de Amsterdã, Holanda, 1345

Stille Omgang - Procissão Silenciosa
 
    
A Procissão Silenciosa dos Católicos pelas ruas de Amsterdã e rua Kalver hoje nos lembra o Milagre Eucarístico de Amsterdã. Durante esta peregrinação silenciosa e noturna em meados de março, os fiéis católicos de Amsterdã, toda a Holanda do Norte e até mesmo outras partes da Holanda lembram o milagre eucarístico e a presença real de Cristo na Santa Eucaristia.
     O Stille Omgang comemora o Milagre de Amsterdã em 15 de março de 1345. O Milagre aconteceu em Amsterdã, capital dos Países Baixos, na época uma pequena cidade de pescadores à margem do rio Amstel, na quarta-feira após a festa do Papa e Doutor da Igreja São Gregório Magno, em 1345.
     No dia 12 de março de 1345, alguns dias antes da Páscoa, um moribundo na Rua Kalver, Ysbrand Dommer, pressentindo que a sua vida chegava ao fim, mandou chamar o pároco da igreja de Oude Kerk para receber o Santo Viático. Porém, após a saída do sacerdote, o doente vomitou todo o alimento que consumira antes, inclusive a Hóstia, numa bacia, e o vômito foi jogado na lareira acesa, de acordo com os regulamentos litúrgicos da Igreja.
     No amanhecer do dia seguinte, uma das empregadas que cuidava de Ysbrand, aproximou-se da lareira para atiçar o fogo e viu uma estranha luz com a Hóstia ao centro. A mulher começou a gritar e toda a vizinhança correu para ver o que tinha acontecido. Ysbrand, que se recuperara milagrosamente, recolheu a Hóstia, envolveu-a num lenço, colocou-a numa caixa e levou-a imediatamente ao pároco, mas no dia seguinte a Hóstia sagrada voltou para a casa na Rua Kalver. Isso foi repetido duas vezes.
     Este milagre foi visto como um sinal de que uma veneração especial pela Hóstia e por Nosso Senhor Jesus Cristo deveria ser feita ali, Deus queria tornar público o milagroso fato. O próprio padre foi buscar a Hóstia na casa e levou-a em procissão solene para a igreja.
     No dia da Páscoa, todas as testemunhas do Milagre e o prefeito do povoado redigiram um detalhado relatório dos acontecimentos que foi entregue ao Bispo de Utrecht, D. Jan van Arkel, que autorizou o culto do Milagre. Uma grande capela de peregrinação (Heilig Stede) foi construída e os peregrinos afluíram a Amsterdã em grande número. No ano de 1452 a capela foi destruída num incêndio, mas o Ostensório que guardava a Sagrada Partícula ficou ileso.
     A partir de então, realizava-se todos os anos, em meados de março, uma esplendorosa procissão para comemorar o acontecimento. Dela participaram personagens ilustres, como o Arquiduque Maximiliano d’Áustria, que mais tarde seria o Imperador Maximiliano I. Essa manifestação popular de louvor ao Santíssimo Sacramento foi proibida em 1578, quando a administração da cidade caiu em poder de burgomestres calvinistas. Estes confiscaram a capela erguida no local do milagre, a qual acabou sendo demolida em 1908, apesar dos protestos dos católicos, que se ofereceram para comprá-la.
As Beguinas
     Próximo ao local do milagre erguia-se uma capela da Beguinaria. Beguinas eram mulheres que viviam em comunidade, dedicadas à oração e assistência aos doentes, pobres, órfãos e toda espécie de necessitados, contudo, sem emitir os votos da vida religiosa. A regra lhes impunha apenas a obediência ao pároco e o celibato enquanto permanecessem na comunidade.
     As Beguinas também tiveram a sua capela confiscada. Por volta de 1665 elas pediram autorização à municipalidade para construir uma nova. O Conselho da cidade concedeu a permissão ao padre Jan van der Mey sob a condição de que o edifício tivesse as características de uma igreja escondida.
     É nessa capela, consagrada a São João Batista e a Santa Úrsula, que desde então se mantém a Adoração Eucarística diária, em recordação do milagre ocorrido em 1345. O Ostensório foi transferido para lá, mas pouco tempo depois foi roubado. Os únicos objetos que recordam esse Milagre Eucarístico são a caixinha que continha a Hóstia, os documentos que relatam o Milagre e algumas pinturas conservadas no Museu Histórico de Amsterdam. A Hóstia miraculosa começou a se deteriorar dois anos depois de acontecido o milagre.
A Procissão Silenciosa
     A caminhada individual no percurso dessa procissão por devoção pessoal permaneceu em uso nos séculos XVII e XVIII.
     Durante o período de proibição do culto público, as celebrações da Santa Missa e outros atos católicos de devoção realizavam-se em casas particulares ou edifícios sem aparência externa de templo religioso – as igrejas escondidas, como passaram a ser chamadas no século XIX.
     Como os católicos na Holanda no século 19, apesar da liberdade religiosa desde 1795, ainda não tinham permissão para realizar procissões (Proibição de Procissão de 1848) recorreram às alternativas. Uma delas era ter uma caminhada silenciosa, sem oração, canto, traje eclesiástico ou atributos. Isto não era coberto pela proibição de procissão.
     Em 1881, o Stille Omgang foi dirigido pela primeira vez, iniciado por Joseph Lousbergh. Joseph Lousbergh descobriu um documento datado de 1651 que descrevia detalhadamente as procissões medievais realizadas em comemoração desse milagre. Decidiu então, acompanhado por um amigo, Carel Elsenburg, percorrer o mesmo trajeto da antiga procissão, como um ato de adoração a Jesus Sacramentado.
     A capela do Santo Milagre ainda existia então, mas em 1908 foi demolida pelos proprietários (protestantes), para evitar que caísse na posse dos católicos e um dia poderia ser usada para o culto romano. O filho, neto e bisneto de Carel Elsenburg foram todos presidentes do Gezelschap van de Stille Omgang – Confraria da Procissão Silenciosa.
     Quando a proibição de procissões foi suspensa no século 20, a Procissão Silenciosa de Amsterdã, em particular, tornou-se uma tradição tão forte que conseguiu se manter até hoje. Para comemorar o milagre, os católicos de Amsterdã e os fiéis de fora da cidade fazem uma procissão silenciosa todos os anos, durante a qual não se fala uma única palavra, por causa da proibição constitucional de procissões na Holanda até a revisão constitucional em 1983 (o governo protestante manteve a proibição desde a Pseudo-Reforma, proibindo cerimônias e perseguindo ministros católicos). A procissão segue o percurso da procissão medieval: de Spui , Kalverstraat, Nieuwendijk , Warmoesstraat.
     
Em 18 de março de 2006, foi comemorado o 125º aniversário do Stille Omgang. Foi a primeira vez que o Omgang foi transmitido ao vivo pela televisão. A afluência foi elevada: cerca de 9.000 peregrinos participaram.
     Todos os anos, no primeiro domingo depois de 12 de março, realiza-se a silenciosa procissão no período entre meia-noite e quatro horas da manhã, horário no qual se presume ter ocorrido o milagre. Em nossos dias, por volta de 10 mil fiéis participam dela. E muitos veem nesse ato de piedade a continuação do Milagre Eucarístico de Amsterdã.
     É costume que o município civil de Amsterdã peça por carta aos operadores de cafés e outros estabelecimentos de alimentação ao longo da rota que fechem as cortinas e limitem a música durante o Omgang.
 
Fontes:

https://robertoadriano.wixsite.com/milagres-eucaristico/single-post/2015/03/23/milagre-eucaristico-de-amsterdam

https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Stille_Omgang

domingo, 11 de junho de 2023

Beata Mercedes Maria de Jesus Molina, Fundadora - 12 de junho

 
   
O povo católico do Equador e a Igreja universal podem venerar com alegria duas “flores” nascidas naquele país: a “Açucena de Quito”, Santa Mariana de Jesus, e a “Rosa de Guayas”, como carinhosamente é conhecida a Beata Mercedes de Jesus. O perfume de santidade dessas duas flores, de poderosa intercessão celestial, é exemplo e estímulo para uma autêntica vida católica.
     Mercedes se destaca não só por seus dotes espirituais e religiosos, mas também por suas qualidades de grande dama, transmitidos por meio de uma vida ativa e profundamente contemplativa, institucionalizados pelo cumprimento de sua missão de fundadora de uma família religiosa na Igreja do Equador, as Irmãs Marianitas, e por seu legado: “ser amor misericordioso onde há dor humana”.
      Mercedes Molina de Ayala nasceu no dia 20 de fevereiro de 1828, em Baba, então Departamento de Guayaquil. Era a quarta filha do casal Dom Miguel Molina y Arbeláez e da Sra. Rosa de Ayala y Olvera, família abastada, proprietária de grandes extensões de terra, com plantações de cacau e frutos tropicais. Recebeu as águas batismais na cidade de Pueblo Viejo, em 5 de março do mesmo ano, e sua Primeira Comunhão, bem como sua Confirmação, recebeu das mãos de Mons. Francisco Javier de Garaicoa, em 19 de maio de 1839.
     Sua respeitável mãe ficou viúva quando Mercedes tinha somente dois anos de vida. Ela se consagrou totalmente ao cuidado de seus filhos, lhes ensinando firmeza nos bons propósitos, a justiça, a solidariedade, e que em seus lábios sempre habitasse a verdade.
     “Mercedita, menina de beleza nada comum, nascida em um lar respaldado por uma fortuna apreciável, era modelo de virtudes singulares”.
     No ano de 1841, era uma bela jovenzinha que atraía pretendentes, quando também morre Dona Rosa. A perda de sua mãe foi uma dor indizível. Mercedes ficava órfã de pai e mãe, em companhia de seus irmãos, Maria e Miguel Molina de Ayala.
     Após uma grave queda de cavalo, Mercedes passou por uma conversão, resolvendo levar uma vida de piedade e penitência. Em 1849, quando acabava de cumprir vinte e um anos, renunciou a um brilhante matrimônio, e resolveu se dedicar à ação social e apostólica em um asilo de órfãos. Repartiu todos os bens que havia herdado de seus pais, que tinham provido seus filhos não apenas de dinheiro, mas de uma esmerada educação intelectual e artística.
     Ela se dedicou então aos órfãos em Guayaquil, depois em Cuenca. Foi justamente por essa época que ela conheceu Santa Narcisa de Jesus Martillo Morán, com quem compartilhou sua casa por muito tempo para se ajudarem mutuamente no caminho da cruz, e praticarem juntas a virtude, a oração e a penitência.
     Mercedes viveu inicialmente consagrada a Deus no mundo, sob a direção de sacerdotes insignes. Desta maneira buscava identificar–se com Cristo crucificado, a quem havia elegido acima de qualquer outro amor humano, pela oração e pela penitência.
     Em 1862, começou a levitar quando rezava, perdia os sentidos e tinha êxtases depois de comungar. No ano seguinte, sua fama de beata se estendeu por toda cidade ocasionando os mais variados comentários.
     Grande devota de Santa Mariana de Jesus se propôs seguir seu exemplo de santidade e à chegada do Padre Garcia, designado Superior da Comunidade Jesuíta de Guayaquil em 1863, fez votos de pobreza, obediência e castidade.
     Naqueles dias, duas damas tinham reunidos numerosas crianças pobres do bairro às quais ensinavam, vestiam e davam de comer em uma casa chamada orfanato "A Beneficência".
     Na noite do dia 1º de fevereiro de 1867, aos 39 anos de idade, Mercedes de Jesus tomou a resolução mais importante de sua vida. Furtivamente escapou da casa de sua única irmã, onde vivia, e passou a madrugada no interior da Igreja de São José, absorta em oração. Ao amanhecer, ouviu Missa, comungou, e com algumas poucas peças de roupa no braço, foi para o orfanato, aonde a receberam com imenso júbilo. Sua irmã Maria se encolerizou tanto, que levou muitos anos para perdoá-la e voltar a falar com ela.
     No orfanato passou alguns meses se adestrando no serviço de seus semelhantes, até que o Padre Garcia, que estava em Gualaquiza fundando uma missão, a mandou chamar para que ela o ajudasse em sua obra. Grande foi a surpresa de Mercedes de Jesus ao receber a carta, porém cumpriu a ordem imediatamente e viajou para aquela região dos índios jibaris em 1870, perdendo peso em dez meses de trabalhos rudes e cansativos.
     Em maio de 1871, voltou para Cuenca, fundou o Beatério de Santa Mariana e deu aulas a numerosas meninas. Anos depois, quando seu processo de beatificação foi instaurado, várias velhinhas se apresentaram declarando que haviam sido suas alunas, e que conservavam gratas recordações dela, por ser carinhosa com todas.
     Em janeiro de 1873 Mercedes transferiu–se para Riobamba, fundou outro colégio e caiu gravemente doente. O médico que a assistiu pensou que ela morreria e assim o disse, mas a Beata, com toda calma lhe disse: “Não é verdade, porque tive uma visão. Vi um roseiral muito frondoso e florido que representa a Congregação e esta ainda não cresce, por isso eu viverei o suficiente e muitos anos mais”. E sarou em seguida. É por este motivo que ela ficou conhecida como “a Rosa de Guayas”.
     Todos esses trabalhos providencialmente iam acrisolando sua vocação de fundadora.
     Finalmente, na segunda-feira de Páscoa, dia 14 de abril de 1873, recebeu a aprovação do Bispo de Riobamba. Nasceu então, oficialmente, a Congregação das Religiosas de Santa Mariana de Jesus, as Marianitas, nome de sua escolha por ter assumido desde sua juventude a espiritualidade da Santa equatoriana.
     A Beata Mercedes Maria de Jesus Molina é a Fundadora do primeiro Instituto Religioso na Igreja do Equador. O Instituto tinha como meta o atendimento aos órfãos, dar asilo às convertidas e às jovens em perigo, a assistência às prisões. O Instituto tinha e tem uma espiritualidade missionária.
     A Beata Mercedes é pioneira na educação da mulher equatoriana, pois no início do século XIX as escolas destinadas à educação feminina eram quase desconhecidas. É a criadora de sua própria pedagogia baseada no método direto, prático e integral. Tem metas claras, concretas e precisas; sua preocupação constante não foi elaborar metas teóricas, mas práticas, caracterizadas por uma ação direta, persistente e maternal; sempre equânime e serena, amável e acessível, firme e segura, respeitosa.
     Por três anos a Beata exerceu “o ofício de mãe terna, servindo–os nas enfermidades, cheia de caridade e bondade com todos”, enquanto trabalhava no asilo de órfãos. E assim continuou levando uma vida exemplar, de amor ao próximo e de sacrifício até o heroísmo. Devido aos jejuns e às penitências, seu corpo foi se debilitando pouco a pouco, até que a morte a surpreendeu, em odor de santidade, no dia 12 de junho de 1883, no seu Instituto de Riobamba, aos 55 anos de idade.
      Seus restos foram venerados por horas e ao ser sepultado se constatou que a mão esquerda, que sustentava um crucifixo, estava endurecida e por mais esforços que se fizesse, não a puderam dobrar, impedindo fechar a tampa do ataúde; porém o resto do corpo estava flexível.
     A Madre Superiora então se dirigiu a ela, dizendo: “Mercedes, você que foi tão obediente em vida, obedeça morta e abaixe o braço”. Imediatamente o braço abaixou deixando perplexos os presentes, a ponto de o Padre Redentorista que oficiava a Missa pedir para abençoar a multidão com o mesmo braço da defunta, o que foi feito em seguida.
     Seus restos descansam na cidade de Riobamba, na mesma casa onde fundou a Congregação das Marianitas.
     Três anos depois de sua morte foi iniciado o primeiro processo para a sua beatificação, que se interrompeu por um longo tempo por causas políticas e por obra de pessoas contrárias ao seu Instituto.
     O processo foi retomado em 1929; a causa foi introduzida pelo Papa Pio XII em 8 de fevereiro de 1946. O decreto de suas virtudes foi expedido em 27 de novembro de 1981; um milagre atribuído a sua intercessão foi reconhecido em 9 de junho de 1984. No dia 1º de fevereiro de 1985, “a Rosa de Guayas” foi beatificada durante a visita pastoral de João Paulo II ao Equador.
     Em 1948, nas bodas de diamante da Congregação fundada pela Beata, a Santa Sé aprovou os estatutos redigidos por ela em Gualaquiza, embora com algumas reformas.
     Essa educadora e missionária, católica exemplar, a primeira fundadora de uma congregação equatoriana, merece toda nossa veneração. Essa “Rosa” plantou um imenso roseiral, segundo seu sonho e sua inspiração, que se estendeu às diversas nações, espalhando seu perfume apostólico na Igreja da América Latina.
 
Sólo para padecer
pido a Dios que me dé vida
hasta que toda sumida
en penas me pueda ver.
No tengo, no, otro querer
y anhela mi razón
amar la tribulación,
la pena y el desconsuelo
con amor, con fe, con celo
y humildad de corazón.
Así lo desea y quiere.
Mercedes de mi Jesús.
Guayaquil, mayo 12 de 1866.
 
Fonte: https://www.santiebeati.it/dettaglio/56950
 
Postado em blog 11 de junho de 2011