segunda-feira, 7 de abril de 2025

Santa Júlia Billiart, Fundadora – 8 de abril


 Juntamente com uma nobre que escapou do Terror, ela fundou as Irmãs de Notre Dame
 
    Maria Rosa Júlia Billiart, fundadora e primeira superiora-geral da Congregação das Irmãs de Notre Dame de Namur, nasceu em 12 de julho de 1751, em Cuvilly, uma vila da Picardia, na Diocese de Beauvais e no Departamento de Oise, França; morreu em 8 de abril de 1816, na Casa-Mãe de seu instituto, em Namur, Bélgica. 
     Ela era a sexta de sete filhos de Jean-François Billiart e sua esposa, Marie-Louise-Antoinette Debraine. Ela, seus pais e seus 8 irmãos viviam do trabalho na lavoura e de um pequeno comércio. A infância de Júlia foi notável: aos sete anos, ela sabia o catecismo de cor e costumava reunir ao seu redor seus pequenos companheiros para explicá-lo a eles. Sua educação se limitou aos rudimentos obtidos na escola da aldeia que era mantida por seu tio, Thibault Guilbert. 
     Nas coisas espirituais, seu progresso foi tão rápido que o pároco, M. Dangicourt, permitiu que ela fizesse sua Primeira Comunhão e fosse confirmada aos nove anos de idade. Nessa época, ela fez um voto de castidade. Por uma disposição interior, ou por um chamado sobrenatural, e por fé viva na presença real de Jesus na Eucaristia, a Eucaristia passou a ser o único alimento de sua vida. Do ponto de vista meramente humano, já foi um milagre o fato de a pequena Júlia sobreviver até a adolescência alimentando-se apenas da comunhão Eucarística. Quando completou treze anos, ela começou a ter sérios problemas de saúde. Sem nutrição, foi ficando paraplégica. Ela sobreviveu assim por 22 anos.
     Durante os anos de sua paraplegia, Santa Júlia Billiart mergulhou nos mistérios profundos da oração, da contemplação, da vida mística. O Senhor, presente na Eucaristia, passou a ser o centro de sua vida. Ele revelou a ela os mistérios da salvação, dos sofrimentos no Calvário, da imensurável glória celeste e da luz de Deus que ilumina a vida do cristão. 
     Ela aprendeu a ler e a escrever, porque, com este saber, ajudava no sustento da sua casa.  Os infortúnios se abateram sobre a família Billiart quando Julia tinha dezesseis anos, e ela se entregou generosamente à ajuda de seus pais, trabalhando nos campos com os ceifeiros. 
     Ela era tão estimada por sua virtude e piedade que era comumente chamada de "a santa de Cuvilly". 
     Como recebia a Sagrada Comunhão diariamente, Júlia exercia um dom incomum de oração, passando quatro ou cinco horas por dia em contemplação. O resto de seu tempo era ocupado em fazer toalhas e rendas para o altar e catequizar as crianças da aldeia que ela reunia ao redor de sua cama, dando atenção especial àqueles que se preparavam para a Primeira Comunhão.
     Em Amiens, onde Júlia Billiart foi obrigada a se refugiar com a Condessa Baudoin durante os tempos difíceis da Revolução Francesa, ela conheceu Françoise Blin de Bourdon, Viscondessa de Gizaincourt, que estava destinada a ser sua colaboradora na grande obra ainda desconhecida de qualquer uma delas.
     Quando os revolucionários franceses procuravam a “bruxa” de Cuvilly, a fim de eliminar sua influência na contracorrente ideológica, ela foi escondida em diversos lugares, sempre levada por outras pessoas, uma vez que suas pernas se recusavam a andar. Em Compiègne, ela ficou disfarçada por três anos (1791-1794), tendo que trocar de local por cinco vezes. O sentido da vida foi posto à prova. Júlia teve a sua crise e pediu ao bom Deus: “Senhor, não quereis dar-me agasalho no vosso paraíso, visto que, na terra, não encontro mais?” Ela também registra que, em toda a sua vida, não sofrera tanto como na noite de inverno em que fora descarregada da carroça que a levava embaixo do feno, e ficou à beira da estrada até ao amanhecer. Congelada em Compiègne!
     A Viscondessa Blin de Bourdon tinha trinta e oito anos na época de seu encontro com Júlia e passara sua juventude em piedade e boas obras; ela havia sido presa com toda a sua família durante o Reinado do Terror e escapou da morte apenas com a queda de Robespierre. 
     A princípio, ela não foi atraída pela paralítica quase muda, mas aos poucos passou a amar e admirar a inválida por seus maravilhosos dons de alma. Um pequeno grupo de senhoras jovens e nobres, amigas da viscondessa, formou-se em torno do leito da "santa". Júlia ensinou-lhes como levar a vida interior, enquanto se dedicavam generosamente à causa de Deus e de Seus pobres.
     Embora tenham tentado todos os exercícios de uma vida comunitária ativa, alguns dos elementos de estabilidade devem ter faltado, pois essas primeiras discípulas desistiram até que não restou ninguém além de Françoise Blin de Bourdon. Ela nunca se separou de Júlia, e com ela em 1803, em obediência ao Padre Varin, superior dos Padres da Fé, e sob os auspícios do Bispo de Amiens, foi lançada a fundação do Instituto das Irmãs de Notre Dame, uma sociedade que tinha como objetivo principal a salvação das crianças pobres. 
     Vários jovens se ofereceram para ajudar as duas superioras. As primeiras alunas eram oito órfãs. 
     Na festa do Sagrado Coração, 1º de junho de 1804, ao fim de uma missão popular, aconteceu um fato extraordinário. O padre confessor pediu que Madre Júlia se unisse a ele em uma novena por uma intenção particular. Ao quinto dia da novena, que era dia do Sagrado Coração, o padre se aproximou da Madre, que há 22 anos estava paralítica, e lhe disse: “Madre, se tens fé, dê um passo em honra ao Sagrado Coração de Jesus”. A Madre se levantou e começou a caminhar: foi curada da paralisia. 
     Os primeiros votos de religião foram feitos em 15 de outubro de 1804 por Júlia Billiart, Françoise Blin de Bourdon, Victoire Léume e Justine Garson, e seus nomes de família foram alterados para nomes de santos. Elas propuseram para o trabalho de sua vida a educação cristã de meninas e o treinamento de professores religiosos que deveriam ir aonde quer que seus serviços fossem solicitados. 
     O Padre Varin deu à comunidade um governo provisório por meio de liberdade condicional, que era tão perspicaz que seus fundamentos nunca foram alterados. Em vista da extensão do instituto, ele seria governado por uma superiora-geral, encarregada de visitar as casas, nomear as superioras locais, corresponder-se com os membros dispersos nos diferentes conventos e destinar as receitas da sociedade.
     As devoções características das Irmãs de Notre Dame foram estabelecidas pela fundadora desde o início. Ela foi original em acabar com a distinção consagrada pelo tempo entre irmãs do coro e irmãs leigas, mas essa perfeita igualdade de posição não a impediu de forma alguma de colocar cada irmã no trabalho para o qual sua educação a capacitava. Ela atribuiu grande importância à formação das irmãs destinadas às escolas, e nisso foi habilmente assistida por Madre São José (Françoise Blin de Bourdon), que havia recebido uma excelente educação.
     Quando a Congregação das Irmãs de Notre Dame foi aprovada por um decreto imperial datado de 19 de junho de 1806, contava com trinta membros; naquele e nos anos seguintes, fundações foram feitas em várias cidades da França e da Bélgica, sendo as mais importantes as de Ghent e Namur; Madre São José foi a primeira superiora de Namur. 
     Esta difusão do instituto para além da diocese de Amiens custou à fundadora a maior dor da sua vida. Na ausência do Padre Varin daquela cidade, o confessor da comunidade, o abade Sambucy de St. Estevão, um homem de inteligência e realizações superiores, mas empreendedor e imprudente, esforçou-se para mudar a regra e as constituições fundamentais da nova congregação, de modo a colocá-la em harmonia com as antigas ordens monásticas. Ele até influenciou o bispo. Dom Demandolx, que Madre Júlia não teve outra alternativa a não ser deixar a Diocese de Amiens, contando com a boa vontade de Dom Pisani de la Gaude, bispo de Namur, que a convidou a fazer de sua cidade episcopal o centro de sua congregação, caso uma mudança se tornasse necessária. 
     Ao deixar Amiens, Madre Júlia expôs o caso a todas as suas súditas e disse-lhes que elas eram perfeitamente livres para permanecer ou segui-la. Todas, exceto duas, escolheram ir com ela e, assim, em meados do inverno de 1809, o convento de Namur tornou-se a Casa-Mãe do instituto e ainda o é. 
     Dom Demandolx, logo desenganado, fez todas as reparações ao seu alcance, suplicando a Madre Júlia que voltasse a Amiens e reconstruísse seu instituto. Ela realmente voltou, mas depois de uma luta vã para encontrar súditas ou receitas, voltou para Namur. 
     Os sete anos de vida que lhe restaram foram gastos na formação de suas filhas para uma piedade sólida e para o espírito interior, do qual ela mesma era o modelo. Dom De Broglie, bispo de Ghent, disse dela que salvou mais almas por sua vida interior de união com Deus do que por seu apostolado exterior. Ela recebeu favores sobrenaturais especiais e ajuda inesperada em perigo e necessidade. 
     No espaço de doze anos (1804 - 1816), Madre Júlia fundou quinze conventos, fez cento e vinte viagens, muitas delas longas e árduas, e manteve uma estreita correspondência com suas filhas espirituais. Centenas dessas cartas estão preservadas na Casa-Mãe. 
     Em 1815, a Bélgica foi o campo de batalha das guerras napoleônicas, e a madre-geral sofreu grande ansiedade, pois vários de seus conventos estavam no caminho dos exércitos, mas escaparam de ferimentos. Em janeiro de 1816, ela adoeceu e, após três meses de dor suportada em silêncio e paciência, morreu com o Magnificat nos lábios. A fama de sua santidade se espalhou e foi confirmada por vários milagres.
     No dia 13 de maio de 1906 o papa São Pio X a beatificou após o reconhecimento de dois milagres - um deles ocorrido no Brasil. A canonização ocorreu no dia 22 de junho de 1969, sob o pontificado de Paulo VI.

Fontes:
April 8 - Together with a noble who escaped the Terror, she founded the Sisters of Notre Dame - Nobility and Analogous Traditional Elites
Catholic.net - Julia Billiart (María Rosa), Santa

sábado, 5 de abril de 2025

Santa Catarina Thomas, Virgem agostiniana - 5 de abril

     
     Catarina Thomas, que nasceu no povoado de Valdemuzza e morreu em Palma, passou toda sua vida na Ilha de Mayorca (Baleares). Ela veio à luz no dia 1 de maio de 1531; seu pai, Jaime Thomas e sua mãe, Marquesina Gallará, eram modestos camponês, mas em sua casa se respirava uma fé simples e profunda.
     Como não tinha a coroa do Rosário, Catarina aprendeu a rezar a Ave-Maria contando as folhas de um raminho de oliveira. Estava habituada a andar descalça mesmo sobre os cardos espinhosos, pois a tinham ensinado que dos pequenos ferimentos se podia aprender o significado do sofrimento. Tinha como protetora especial a santa virgem e mártir que tinha seu nome. 
     Sua mãe lhe ensinava as verdades da fé, tanto que aos 4 anos, quando começou a frequentar as aulas que eram dadas pelo pároco, como mandava o recém Concilio de Trento, ela já sabia o catecismo e mais do que aprender ela passou a ensinar outras crianças com seu conhecimento e luzes.
     Seus pais morreram quando a menina tinha somente sete anos, sem deixar-lhe nada de herança. Contam-se coisas muito tristes sobre os maus tratos que ela sofria na casa de um tio paterno, aos cuidados de quem tinha ficado, até mesmo os criados a sobrecarregavam de trabalhos. Catarina tudo suportou com paciência invencível e mansidão.
     Catarina sofria com o distanciamento da Igreja, pois estava habituada a ir lá todos os dias, e agora só podia ir à missa aos domingos. Foi assim que na solidão dos campos, ela construía pequenos altares junto às oliveiras e se dedicava à oração; enquanto apascentava os animais as suas orações eram intensas. 
     Quando tinha uns quinze anos, as aparições de Santo Antônio e de sua patrona, Santa Catarina, despertaram nela a vocação religiosa. A jovem confiou seus desejos a um santo ermitão, o Pe. Antônio Castañeda (1507-1583), do Colégio de Miramar. Era um ótimo sacerdote que viveu por quarenta anos no Eremitério da Ssma. Trindade de Mayorca. Para provar sua vocação, o ermitão lhe disse que continuasse encomendando o assunto a Deus, e que ele o faria também até obter a resposta do céu. Catarina obedeceu, porém, teve que esperar muito tempo.
     O Pe. Antônio, entretanto, não a esquecera, apesar de ser difícil encontrar um convento para uma jovem sem dote. Ao saber de suas intenções, seus tios ficaram zangados, pois enxergava na jovem apenas uma analfabeta sem cultura. Contudo, as palavras de Pe. Antônio foram acalmando os ânimos. Inicialmente, o Pe. Antônio conseguiu que Catarina fosse trabalhar em casa de uma família de Palma, onde sua vida espiritual não encontraria nenhuma oposição. A filha da casa a ensinou a ler e a escrever; mas em questões de vida espiritual se converteu em discípula de Catarina, pois esta havia avançado muito no caminho da perfeição.
     Tão logo aprendeu a ler, Catarina se debruçou sobre os livros espirituais, o que ainda mais a ajudou no caminho da virtude.
     Vários conventos abriram suas portas para Catarina e a jovem decidiu ingressar no mosteiro de Santa Maria Madalena de Palma, das Cônegas Regulares de Santo Agostinho, que a acolheram em 1553 como religiosa do coro. Tinha então vinte anos. Desde o primeiro momento, ganhou o respeito de todos por sua santidade, humildade e seu desejo de ser útil aos demais.
     Professou os votos religiosos em 24 de agosto de 1555. Durante algum tempo Catarina não se distinguia em nada das outras fervorosas noviças, porém logo foi objeto de uma série de fenômenos extraordinários que são relatados em sua vida.
     Todos os anos, algumas semanas antes da festa de Santa Catarina de Alexandria, ela entrava em um profundo êxtase. Imediatamente depois de comungar, lhe sobrevinha uma espécie de êxtase que durava boa parte do dia, e às vezes vários dias e até semanas.  Outras vezes, era um estado em que desaparecia todo sinal de vida. 
     A santa sofreu provas tremendas e assaltos do demônio. O demônio lhe sugeria maus pensamentos, alarmantes alucinações e ataques materiais. Em tais ocasiões, as Irmãs ouviam gritos e ruídos horríveis e observavam os efeitos dos ataques na santa, porém não viam o demônio e tinham que se contentar em aliviar os sofrimentos de Catarina. A santa procurou sempre que isto não a impedisse de cumprir os seus deveres.
     Recebeu de Deus o dom de prescrutar os corações de modo que suas palavras tocavam as pessoas que imediatamente procuravam emendar suas vidas. Tinha uma grande devoção pela Paixão de Jesus e era bastante comum, ao meditá-la, chorar copiosamente. Vários relatos de milagres operados por sua intercessão, em vida, fizeram com que sua fama corresse por toda a ilha. A santa também tinha o dom de profecia.
     A fama dos fenômenos ultrapassou os muros do mosteiro. Começaram a visitá-la, inclusive o Bispo de Mayorca, Mons. João Batista Campeggio, que muitas vezes pedia seus conselhos. Diante da popularidade que começava a circundá-la, Irmã Catarina apesar de não querer se apresentar aos visitantes, o fazia por obediência. No entanto, ela desejava a solidão e estar com Jesus: Catarina tinha olhos apenas para o céu. 
     Tinha grande devoção pela Paixão de Cristo e não podia meditá-la sem derramar lágrimas onde estivesse: na cela, no coro, no refeitório. Grande amor também tinha pela Eucaristia e sempre que podia ia visitar o Tabernáculo.
     A fama de sua santidade se difundiu por toda ilha e na Espanha, porque Irmã Catarina tinha o dom dos milagres. Além de rezar pelos pecadores e pelos defuntos, seus pensamentos eram pela Igreja, então passando pela cisão protestante e a Cristandade enfrentava o perigo da invasão turca.
     Teve um êxtase duradouro: começara na Paixão, no dia 29 de março e durou até o dia de Páscoa (4 de abril de 1574); após o êxtase, faleceu no dia seguinte, deixando um exemplo de amor, humildade e santa devoção a Deus. Sua morte, que ela mesma havia predito, ocorreu quando tinha somente 41 anos de idade. 
     Foi beatificada em 1792 e sua canonização se deu sob o pontificado do Papa Pio XI, no dia 22 de junho de 1930. O corpo incorrupto de Santa Rina, como é chamada popularmente, repousa na capela do Mosteiro de Palma de Mayorca.
Fontes:
-"Vida de la Beata Catalina Tomás". D. Antonio Despuig y Dameto. Palma de Mallorca, 1864.
Santa Catarina Tomás