A vida de Santa
Manegonda (século VI) foi relatada por São Gregório de Tours no capítulo XIX de
sua Vitæ Patrum, e no capítulo 24 de In Gloria Confessorum. Este grande
Santo foi contemporâneo de Monegonda e, entre outras informações, diz que
embora ela não fosse nobre, pertencia a uma família abastada. Monegonda faz
parte de um grupo de personagens contemporâneos do Santo cujas vidas exemplares
ele descreve para nossa edificação.
Santa Monegonda nasceu em Chartres, cidade famosa pela antiga devoção que
seus moradores tinham por Nossa Senhora, mesmo antes da Encarnação, pois se
acredita que os druidas (assim os gauleses chamavam seus sacerdotes),
construíram, muito antes do nascimento do Salvador, uma estátua com esta
inscrição: VIRGINI PARITURÆ, isto é, à Virgem que dará à luz.
Foi também nesta cidade que, para agradar seus pais, nossa Santa comprometeu-se
na vida matrimonial; ela teve duas filhas. Mas a alegria que ela teve ao ser
mãe não foi de longa duração, porque Deus levou suas crianças logo após o
nascimento. Ela ficou privada, por causa dessas mortes, de todo consolo que
tinha neste mundo.
A aflição dessa perda foi tão grande, que ela não cessava de chorar dia
e noite, sem que o marido, seus amigos, nem nenhum de seus parentes, pudessem
trazer alívio para a sua dor; mas, finalmente, caindo em si mesma, e
considerando que a sua tristeza era excessiva e poderia desagradar a Deus, ela
tomou a generosa resolução de enxugar suas lágrimas e de dizer o resto de seus
dias com Jó: "O Senhor as deu para
mim, o Senhor as tomou; Ele fez o que era sua vontade: que o seu santo nome
seja bendito para sempre".
Em seguida, tendo obtido a permissão do
marido para levar uma vida de reclusa, ela instalou-se em uma pequena cela que
ela mandou construir; ali, vendo a luz do dia através de uma claraboia, ela vivia
em um desprendimento total de todas as vaidades do mundo e de todas as delícias
dos sentidos, para somente pensar em Deus, em quem somente ela desejava colocar
toda a sua esperança.
Na verdade, todo seu tempo era empregado em se entreter com Ele e a dedicar à sua majestade divina suas fervorosas orações. Ela reservara para si apenas o socorro temporal de uma jovem que tinha como encargo levar-lhe um pouco de farinha de cevada e água (São Gregório de Tours explica que naquela época os santos de boa família, mesmo quando renunciavam a tudo, conservavam ao menos um servo para auxiliá-los). Monegonda mesma fazia para si a comida, uma espécie de massa à qual ela acrescentava cinzas; ela só a comia depois de já estar enfraquecida por longos jejuns.
Monegonda vivia feliz em seu retiro, quando Deus, para testar sua paciência, permitiu que sua serva a abandonasse. A Santa ficou cinco dias sem que alguém lhe levasse algum alimento, mas, em vez de se preocupar com isso, ela se manteve calma e unida a Deus, esperando que como outrora Ele enviara o maná do céu e fizera sair água de uma rocha para alimentar o seu povo no deserto, Ele teria a bondade de suprir suas necessidades para que não fosse forçada a deixar a sua solidão.
Na verdade, todo seu tempo era empregado em se entreter com Ele e a dedicar à sua majestade divina suas fervorosas orações. Ela reservara para si apenas o socorro temporal de uma jovem que tinha como encargo levar-lhe um pouco de farinha de cevada e água (São Gregório de Tours explica que naquela época os santos de boa família, mesmo quando renunciavam a tudo, conservavam ao menos um servo para auxiliá-los). Monegonda mesma fazia para si a comida, uma espécie de massa à qual ela acrescentava cinzas; ela só a comia depois de já estar enfraquecida por longos jejuns.
Monegonda vivia feliz em seu retiro, quando Deus, para testar sua paciência, permitiu que sua serva a abandonasse. A Santa ficou cinco dias sem que alguém lhe levasse algum alimento, mas, em vez de se preocupar com isso, ela se manteve calma e unida a Deus, esperando que como outrora Ele enviara o maná do céu e fizera sair água de uma rocha para alimentar o seu povo no deserto, Ele teria a bondade de suprir suas necessidades para que não fosse forçada a deixar a sua solidão.
Ela estava absorta nesses pensamentos
piedosos, quando percebeu que caia neve em torno de sua cela. Isso era tudo o
que ela precisava, pois estendendo a mão através da janela ela recolheu o
suficiente para fazer a sua massa. Ela passou desta forma por mais cinco dias.
Próximo de sua cela havia um pequeno jardim onde às vezes ela caminhava
para dar um pouco de descanso à sua mente, que ela tinha sempre voltada para
Deus. Um dia em que ela aí estava para tomar um pouco de ar, uma mulher, que a
viu e parou para observá-la com muita curiosidade, foi atingida imediatamente
de cegueira. Reconhecendo que essa desgraça acontecera com ela como punição de
seu pecado, ela foi ao encontro da Santa e expondo-lhe a sua desgraça, implorou
que ela obtivesse misericórdia. Monegonda, tocada de compaixão, colocou-se logo
em oração, dizendo: "Ai de mim,
criatura vil e pobre pecadora! Esta mulher perdeu a visão por minha culpa".
Esta breve oração, reflexo de uma
profunda humildade, penetrou imediatamente no céu, pois mal Monegonda a tinha
terminado e feito o sinal da cruz sobre a pobre mulher, ela recuperou a visão.
Este milagre, que foi seguido por vários outros, logo atraiu para sua cela uma
grande quantidade de pessoas que vinham para implorar o auxílio de suas orações,
o que a obrigou a pensar em outro local de retiro.
Como ela havia se retirado para fugir das honras do mundo e para levar
uma vida escondida, vendo-se exposta às visitas das criaturas em seu pequeno
eremitério, ela deixou sua casa, sua família, seu marido e todos os seus
conhecidos e foi para a cidade de Tours onde, junto do túmulo do grande São
Martinho, ela fixou-se.
Mas a honra, que não é menos teimosa em seguir aqueles que fogem dela,
do que fugir daqueles que são ávidos dela, nunca a deixou mais, nem em sua
viagem, nem em seu refúgio, porque ela curava por toda parte vários doentes pela
virtude de sua oração, que ela fazia não obstante reconhecer sua indignidade. Esses
milagres fizeram com que sua eminente santidade brilhasse por toda parte. A sua
reputação chegou a Chartres, tendo como resultado que seu marido a fosse buscar
em Tours e a trouxesse de volta para sua primeira cela.
No entanto, pouco tempo depois, seja porque seu marido tivesse morrido,
ou dado seu consentimento, ela a deixou novamente para retomar a de Tours, onde
ela passou tranquilamente o resto de seus dias em jejuns, vigílias e orações, e
sem o comércio com as pessoas do mundo. Sua caridade, porém, era incapaz de se encerrar
em sua cela. Algumas piedosas jovens, atraídas pela solidão, decidiram
acompanhá-la e com ela faziam todos os exercícios espirituais. Assim,
trabalhando em conjunto na prática da virtude, elas se tornaram mais agradáveis
a Jesus Cristo.
Não vamos dar detalhes de muitos milagres que Deus fez por intermédio dela; é suficiente dizer que ela curou um grande número de doentes com um pouco de saliva; que ela purificou pessoas cobertas de feridas, e que, pelo sinal da cruz, ela libertou os possessos, deu saúde aos moribundos, deu o uso dos membros aos paralíticos e os olhos dos cegos.
Não vamos dar detalhes de muitos milagres que Deus fez por intermédio dela; é suficiente dizer que ela curou um grande número de doentes com um pouco de saliva; que ela purificou pessoas cobertas de feridas, e que, pelo sinal da cruz, ela libertou os possessos, deu saúde aos moribundos, deu o uso dos membros aos paralíticos e os olhos dos cegos.
Deus recompensou nesta vida a piedade de Monegonda pelo dom dos
milagres, Ele a chamou a si para coroar ainda mais no céu sua incomparável
virtude. Suas piedosas companheiras, vendo que a última hora estava perto,
disseram-lhe, banhadas em lágrimas:
- "Vós nos abandonareis completamente? Lembrai-vos que sois a nossa
mãe, e que vós nos reunistes aqui para servir a Deus. Então, dizei-nos a quem
vós nos recomendais depois de vossa morte, nós que somos suas amadas
filhas".
- "Se a paz reinar entre vós”, disse-lhes ela, “e se continuardes
trabalhando para a vossa santificação, o próprio Deus será o vosso protetor, e
vós tereis por pastor de vossas almas o grande São Martinho, bispo de vossa
cidade. Eu também não vou me afastar de vós: assim que me chamardes para
ajudá-las, eu me encontrarei no meio de vossa caridade".
- "Os doentes”, retomaram as santas mulheres, “certamente virão,
como sempre, pedir vossa bênção. O que vamos fazer quando não mais a teremos?
Vós desejais que eles saiam daqui sem qualquer alívio, depois de ter recebido
tantas graças através de vossa intercessão? Nós vos suplicamos, abençoai pelo
menos um pouco de sal e de óleo, a fim de que os apliquemos neles e eles sintam
sempre os efeitos de vossa intercessão”.
Monegonda não podia recusar tal pedido, e esta foi a última ação de sua
vida, porque após essa bênção ela morreu em paz, no segundo dia de julho, no
sexto século da Igreja (provavelmente antes de 573). As coisas que ela tinha abençoado
serviram depois para curar inúmeros doentes.
Seu corpo foi enterrado na mesma cela que ela havia santificado por suas lágrimas, orações e penitências, e seu túmulo foi honrado por vários milagres que São Gregório de Tours relata, e parte dos quais ele afirma ter presenciado. ...
Seu corpo foi enterrado na mesma cela que ela havia santificado por suas lágrimas, orações e penitências, e seu túmulo foi honrado por vários milagres que São Gregório de Tours relata, e parte dos quais ele afirma ter presenciado. ...
A Diocese de Tours não tem mais relíquias de Santa Monegonda. Em 1562 os
protestantes tomaram a cidade, saquearam as igrejas e queimaram os corpos dos
santos. O de Santa Monegonde, que havia sido transladado para o mosteiro de
Saint-Pierre-Puellier, no bairro de Saint-Martin, e aí era conservado, não foi
poupado.
O culto a Santa Monegonda, porém, não desapareceu naquela diocese e
igrejas em sua honra ainda hoje são encontradas na França.
Fonte: Les
Petits Bollandistes; Vies des saints,
tomo 7, p. 615 à 617.
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