As informações
sobre a Beata Lúcia seguem um costume comum dos Franciscanos dos primeiros
séculos: as vidas de figuras veneráveis desta Ordem eram pouco documentadas.
Um autor dos mais autorizados é o célebre
irlandês Luca Wadding, frade recoleto (1588-1657) que redigiu os Annales Minorum, onde incluiu uma Vita de Lúcia de Caltagirone.
Lúcia nasceu em Caltagirone, Sicília, no ano
1360. Seus pais a educaram na piedade e ela soube corresponder maravilhosamente
às suas expectativas. Eles eram devotos de São Nicolau de Bari e experimentaram
sua proteção várias vezes.
Um dia em que Lúcia subiu em uma figueira
para recolher frutos foi surpreendida por um furioso temporal com granizo e raios.
Um raio caiu sobre a árvore onde Lúcia estava, e ela caiu por terra meio morta.
Em sua mente viu perfilar-se a figura de um santo ancião, São Nicolau de Bari,
que a tomava por uma das mãos e a entregava de novo a sua família.
Aos 13 anos abandonou seu povoado natal na
Sicília para seguir uma piedosa terciária franciscana de Salerno. Pouco tempo
depois esta guia espiritual faleceu e Lúcia entrou em um convento salernitano
de Irmãs que seguiam a Regra franciscana.
O convento franciscano que acolheu Lúcia
muito provavelmente foi o de São Francisco próximo da igreja de São Nicolau,
erigido em 1238 e supresso em 1809, após as leis napoleônicas.
Ali se distinguiu pela fiel prática de seus
deveres e em especial pelo amor à penitência, com a qual se havia comprometido
para expiar os pecados da humanidade, e sobretudo para uma participação mais
íntima com as dores de Cristo.
Por algum tempo exerceu o ofício de
mestra de noviças. A fama de sua virtude se difundiu. Muitos recorriam a ela
para pedir-lhe orações e conselhos. Dedicava muito tempo à oração, à meditação e
à contemplação das coisas celestes. Flagelava seu corpo virginal com frequência;
a terra lhe servia de leito; um pouco de pão e água eram seu sustento diário.
Tinha especial devoção pelas Cinco Chagas de Nosso Senhor.
Os nobres acudiam a ela, e ela consolava
os aflitos, chamava à penitência os pecadores, edificava os piedosos. Deus
confirmou sua santidade com prodígios. Havia chegado aos quarenta anos e já estava
pronta para o céu. Sua vida austera, os prolongados e dolorosos sofrimentos
minaram sua saúde.
Lúcia, terciária regular, morreu em
Salerno no ano 1400. Depois de sua morte realizou diversos prodígios. O culto e
a veneração por ela foi se estendendo sempre em Salerno e nas regiões vizinhas,
até que em 4 de junho de 1514 o Sumo Pontífice Leão X concedeu o ofício e a
Missa em sua honra, compostos tomando como exemplo os de Santa Clara.
Lúcia precedeu de alguns séculos outras
terciárias franciscanas célebres, como Santa Maria Francisca das Cinco Chagas
(1715-1791) e a venerável Maria Crucifixa das Cinco Chagas (1782-1826) que como
ela foram, em Nápoles, ponto de referência espiritual para gerações de fieis.
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