Sta. Eustóquia, junto a sua mãe,
ouve orientação de S. Jerônimo
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Eustóquia nasceu em Roma em 368. Era filha
de Paula (Santa Paula Romana) e Júlio Toxócio, ambos da alta aristocracia
romana; era irmã mais nova de Bresila, sobrinha de Júlio Festo Himécio e
Pretextata,
tia de Paula e parente de Fúria. Após a morte de seu pai, em 379, adotou vida
ascética como sua mãe, reunindo-se no cenáculo/palácio de Santa Marcela, em
Roma.
Em 382, quando São Jerônimo chegou a Roma
vindo da Palestina, mãe e filha colocaram-se sob sua orientação espiritual. Foi
discípula afetuosa, frequentando assiduamente as palestras sobre a Sagrada
Escritura que o santo doutor dirigia ao grupo de senhoras romanas na casa de
Santa Marcela. Seus tios tentaram persuadi-la a abandonar sua vida ascética e
gozar dos prazeres da vida, mas suas tentativas foram infrutíferas.
Por ocasião da festa dos Santos Apóstolos
Pedro e Paulo de 384, Eustóquia enviou-lhe uma nota e alguns presentes
simbólicos: uma cesta de cerejas, braceletes e algumas pombas. São Jerônimo
respondeu-lhe com uma carta muito espirituosa. Em 384, Júlia Eustóquia fez voto
de virgindade perpétua e na ocasião São Jerônimo endereçou-lhe sua celebrada
carta De custodia virginitatie.
Em 385/386, quando Santa Paula decidiu fixar-se
na Palestina para não ficar sem a direção de São Jerônimo, Eustóquia juntou-se
a ela. No outono de 385, mãe e filha embarcaram em Óstia e desembarcaram
em Selêucia, porto de Antioquia da Síria, capital da região, acolhidas pelo Bispo
Paulino. São Jerônimo estava esperando pelas peregrinas. Elas fizeram primeiro
uma piedosa e detalhada peregrinação pela Terra Santa, indo depois para o Egito
a fim de edificar-se com as virtudes dos anacoretas e cenobitas que povoavam
aquela região, principalmente São Macário, Santo Arsênio e São Serápio. Depois,
cedendo a um desejo do coração, fixaram residência em Belém, como já o havia
feito São Jerônimo.
As Santas embarcam em Óstia |
Entre 386-389, Santa Paula edificou junto
à igreja da Natividade dois mosteiros: um feminino, do qual ficou superiora, e
no qual entraram Eustóquia e várias das viúvas e virgens que as haviam
acompanhado à Terra Santa; outro masculino, que ficou sob a direção de São
Jerônimo. Todos os conventos possuíam apenas um oratório, onde as religiosas
reuniam-se várias vezes ao dia para rezar e recitar os Salmos.
A vida nos dois mosteiros era inspirada na
dos grandes anacoretas do deserto. São Jerônimo diz que “as que em outro tempo gemiam sob o peso das joias e brocados andam
agora miseravelmente vestidas, preparam os lampiões, acendem o fogo, varrem os
pisos, limpam os legumes, colocam na panela fervente as ervas, preparam as
mesas e correm daqui para lá dispondo de tudo”. (*) Santa Paula e Santa
Eustóquia davam o exemplo em tudo, sendo as primeiras nos trabalhos mais vis.
Estas Santas tiveram ampla participação
nos trabalhos de São Jerônimo, como sábias secretárias e tradutoras. Não é
exagerado dizer que Santa Paula foi a alma da grande empresa, a tradução da
Bíblia Sagrada conhecida como Vulgata.
São Jerônimo opunha sempre as repugnâncias de sua humildade. “Se bem que muito santa, Paula não deixava de
ser mulher, e de um espírito fino e penetrante. Pois bem: pediu-lhe ao menos
que escrevesse alguma coisa sobre a menor das epístolas de São Paulo, a
dirigida a Filemon, ainda que não fosse mais que uma página de quarenta linhas.
Jerônimo caiu no laço: fez o que lhe pedia, e o resto veio depois. O ‘resto’
são seus grandes comentários paulinos. ‘Para que vejas o que pode sobre mim tua
vontade’”. (**)
São Jerônimo também afirmou que Eustóquia
falava latim e grego com a mesma facilidade que lia a Sagrada Escritura em
hebreu. Muitos dos comentários bíblicos de São Jerônimo, segundo palavras suas,
existem por influência dela e vários deles foram dedicados a ela, como a
tradução do Livro dos Reis, os dezoito prefácios dos livros de Isaías e os
quatorze prefácios de Ezequiel. Além disso, muitas foram suas epístolas para
instruí-la em sua vida espiritual. Eustóquia era sua discípula favorita, porque
era virgem.
Quando em 402-403 Santa Paula adoeceu,
Eustóquia cumpriu seu dever filial cuidando dela com amor. Com a morte de Santa
Paula em 404, Eustóquia assumiu a direção dos conventos, percorrendo a trilha
luminosa dos exemplos e ideais de seus pais. Sua tarefa foi dificultada devido
ao empobrecimento dos mosteiros decorrente da ativa ação de caridade conduzida
por Paula. São Jerônimo, por sua vez, foi um grande auxiliar seu através de seu
encorajamento e conselhos prudentes. Por outro lado, ela continuou a estimular
São Jerônimo nos seus trabalhos bíblicos, que ele havia empreendido pela
insistência de sua mãe. São Jerônimo traduziu a regra de São Pacômio por volta
de 404.
Em 417, no entanto, uma multidão de
rufiões atacou e pilhou os conventos, destruindo um pelo fogo e matando e
maltratando alguns dos residentes. Pensa-se que esse ataque foi incitado pelo
patriarca hierosolimita João II (r. 387–417) e os pelagianos contra quem São Jerônimo
escreveu duras críticas. Ele e Eustóquia escreveram uma carta informando o Papa
Inocêncio I (r. 401–417) do ocorrido, e o papa duramente reprovou o patriarca
por ter permitido tamanho ultraje.
Eustóquia morreu em 419 e foi sucedida na
supervisão dos conventos por sua sobrinha, a jovem Paula, que em 404 uniu-se a
Eustóquia em Belém, e em 420 fechou os olhos de São Jerônimo. Três cartas
curtas de São Jerônimo relatam-nos sua desolação: "a morte repentina da virgem santa e venerável de Cristo me perturbou e
mudou o meu tipo de vida".
Eustáquio de Tours (r. 443–460) pode ter
sido seu sobrinho, bem como é possível que Perpétuo (r. 460–490) e Volusiano
(r. 491–498) foram seus parentes.
Eustóquia não tinha culto na antiguidade:
ela entrou nos martirológios bem recentemente. A Igreja celebra sua festa em 28
de setembro. Juntamente com sua santa mãe, Paula, ela é retratada como uma
peregrina dos Lugares Santos.
(*)
Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madri, 1945,
tomo I, pp. 176.
Santa Paula e Santa Eustóquia |
(**)
idem pp. 175-176
Fontes
www.santiebeati.it/dettaglio/72330;
Edelvives,
El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1946, tomo I.
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