quarta-feira, 7 de junho de 2023

Beata Maria do Divino Coração de Jesus - 8 de junho

     
No dia 1º de novembro de 1975, Maria Droste Zu Vischering, que em religião se chamou Irmã Maria do Divino Coração de Jesus, era beatificada por Paulo VI.
     A beatificação da Irmã Maria do Divino Coração, glória da benemérita Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor, alemã por nascimento e portuguesa de coração, tem para Portugal especial significado. Ela dedicou a Portugal, por chamamento divino, o melhor da sua curta vida.
     Filha dos Condes Droste Zu Vischering, nasceu em Münster, na Vestefália (Alemanha), a 8 de setembro de 1863. Passou a infância no Castelo de Darfeld, não longe daquela cidade, no seio duma família profundamente cristã.   
     No mundo, chamava-se ela Condessa Maria Droste zu Vischering. Sua estirpe destacava-se há séculos pela fidelidade à Igreja e ao Papa, em cujo serviço nunca recusava qualquer esforço ou sacrifício. Foram Cardeais, Bispos e governantes os ilustres ancestrais de Maria. E ela própria coroou, com sua sublime virtude, os feitos heroicos dos que a precederam no sinal da Fé.
     Maria bebeu a devoção ao Sagrado Coração de Jesus com o leite materno. Já seus pais a viviam intensamente e souberam-na comunicar aos seus filhos e familiares. Foi numa vida de felicidade, de pureza e de austeridade que ela se preparou para a mais intima e mística união esponsal com o Coração de Jesus. “Desde a mais tenra idade, escreve ela, senti a dita de ser filha da Santa Igreja”.
     Maria tinha encanto pelos inocentes brinquedos infantis e era amiga de pular, correr e montar a cavalo na companhia dos pais e irmãos. Uma companheira de escola dizia a seu respeito: “No pátio do recreio, ninguém corria mais do que ela, ninguém jogava a bola tão alto e tão bem como ela. Mas quando o sino anunciava o fim do jogo, a mais serena e a mais tranquila de todas era Maria”.
     Esta alma inocente fora atraída pelo Sagrado Coração de Jesus. Para ela, a devoção ao adorável Coração se fundia na devoção ao Santíssimo Sacramento, conforme ela própria de­clara: “Nunca pude separar a devoção ao Coração de Jesus da devoção ao Santíssimo Sacramento; e nunca serei capaz de explicar como e quanto o Sagrado Coração de Jesus se dignou favorecer-me no Santíssimo Sacramento da Eucaristia”.
A família da Beata
ela é a 2a. a partir da direita
     No Natal de 1883, consagra-se a Deus pelo voto de castidade perpétua. E Ele apodera-se dela e marca a consagração com o sinal da cruz, fazendo-a passar por dilatada e penosa doença. Com o espírito embalado por longo tempo em sonhos de heroísmo missionário, no dia 1º de julho de 1888, esperando na igreja paroquial a sua vez de se confessar, ouve subitamente a voz do Senhor: “Tens de entrar no convento do Bom Pastor”.
     Sendo de constituição física bastante frágil, precisou esperar muito para ser admitida em uma comunidade religiosa. À espera de concretizar esse desejo, ela abraçou como pôde o estado de perfeição, vivendo ainda na casa paterna. Praticava a caridade com os pobres, transformando-se numa mãe para todos os necessitados.
     Viveu assim até a idade de 26 anos, quando foi admitida na Congregação do Bom Pastor, uma instituição dedicada a cuidar de moças transviadas e de meninas órfãs ou abandonadas. Uma tarde, passeando meditativamente pelas alamedas do jardim do seu solar, “senti vivamente, escreveu ela, que o Senhor me dizia que teria de sofrer muito por Ele. Jesus falou-me dos momentos por que passava, vendo-se abandonado de todos, e pediu-me Lhe fizesse companhia. Disse-me que O aflige sobretudo o abandono de muitos sacerdotes...”.
     A 10 de janeiro de 1889 toma o hábito religioso no convento de Münster, no mesmo dia em que, no Carmelo de Lisieux, Teresa do Menino Jesus recebeu o dela.  Professou a 29 de janeiro de 1891. 
     Em 1894, após três anos de dedicação ao apostolado das penitentes, próprio do seu Instituto, é enviada a Portugal. Depois de três meses passados em Lisboa, chega ao Porto como Superiora do Recolhimento do Bom Pastor na Rua de Vale Formoso (Paranhos), a 17 de maio de 1894.
     De lá escreve ela, pouco depois: “Vivemos numa situação angustiosa. A casa está em ruínas, devorada por dívidas que nos sufocam. Vejo, porém, e sinto que Deus está comigo, e assim cresce, cada dia mais, a minha coragem, embora por vezes isto seja difícil de suportar... Só temos em caixa cinco ou seis marcos, e temos de alimentar 120 pessoas... Sinto-me tão portuguesa, que não me importo com tanto desconforto, tanto frio e tanta humildade...”.
       E a sua tenacidade, aliada a uma absoluta confiança no Coração de Jesus, realiza o milagre de transformar aquela casa e a comunidade em ruínas num florescente jardim de Deus.
      A 21 de maio de 1896 cai de cama, esgotada de trabalho, para nunca mais se levantar: uma osteomielite a paralisa e a martiriza com dores atrozes constantes. É nesta longa, heroica crucifixão, que a Irmã Maria se imola pelos pecadores, pelos sacerdotes, pela Igreja, por Portugal.
     “Muitas vezes na minha doença, quando sentia ardentes desejos de morrer, Nosso Senhor, duma imagem dos Passos me dizia: ‘Então queres que Eu leve sozinho a cruz de Portugal?’” (Carta de 1896).
     O sinal da autenticidade da sua missão divina é precisamente o recrudescer dos seus padecimentos. E quando pela terceira vez o Coração Divino se dirige à Irmã Maria a pedir a intervenção dela junto de Leão XIII, pergunta-lhe ainda “se estava disposta a suportar toda a espécie de sofrimentos, humilhações e desprezos”.
     Leão XIII acata seu pedido e convoca um tríduo solene de preparação para a consagração ao Divino Coração.
     Seus últimos dias se passaram num contraste entre dores atrozes e a feliz perspectiva de ver o mundo em breve solenemente consagrado ao Coração de Jesus. Na manhã do dia de sua morte, chegou-lhe às mãos um consolador presente do Santo Padre: dois exemplares da encíclica “Annum Sacrum”, cujo tema era a consagração da humanidade e do mundo ao Sagrado Coração do Divino Redentor.
      Às 3 horas da tarde do dia 8 de junho de 1899, ao hino das primeiras vésperas da Festa do Coração de Jesus, quando por todo o mundo católico se fazia o tríduo solene de preparação para a consagração ao mesmo Divino Coração, ela consumava o seu sacrifício.
     No dia 11, o Papa Leão XIII realizava aquilo que ele mesmo declarou ser o “ato mais grandioso do seu pontificado”, a consagração do mundo inteiro ao Sagrado Coração de Jesus.
     As suas venerandas relíquias repousam em Ermesinde, na Igreja do Coração de Jesus, ereta pelas suas filhas. Na primeira sexta-feira de julho (ou agosto) de 1897, recebeu ela ordem do Senhor: “Deves erigir-Me aqui um lugar de reparação, e Eu erigirei nele um lugar de graças. Depois disse-me que queria que esta igreja fosse sobretudo um lugar de reparação pelos sacrilégios, e para atrair graças e bênçãos sobre o clero”.
      A construção deste templo foi uma das suas últimas preocupações. Ela mesma, no seu leito de dor, mal podendo segurar um lápis entre os dedos, traçou as linhas arquitetônicas. Não quis o Senhor dar-lhe em vida a alegria de ver realizado o seu sonho. Realizaram-no as suas filhas em Ermesinde.
     Diante da Hóstia consagrada em constante exposição, almas rezam em adoração reparadora. “Deves erigir-Me aqui um lugar de reparação, e Eu erigirei nele um lugar de graças”. O lugar de reparação está ereto. A palavra do Senhor não falhará!
 
Castelo de Darfeld onde a Beata nasceu 
Fontes: 
https://www.santiebeati.it/dettaglio/91162
https://gaudiumpress.org/
 
Postado neste blog em 8 de junho de 2011

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