Filha
de Bertário, rei da Turíngia (atual Alemanha), Santa Radegundes nasceu por
volta de 518, e viveu numa região de florestas profundas e verdes vales. Ela
passou seus primeiros anos em meio às turbulências que devastaram o reino ainda
pagão. Duas vezes prisioneira, ela assistiu ao assassinato dos pais e dos
parentes mais chegados.
Seu tio, Hermanfrido, matara seu pai para ficar com a porção do reino que cabia a este. Pediu o auxílio de Thierry, rei dos francos, para livrar-se do irmão e ficar só no governo da Turíngia. Depois, Hermanfrido não quis cumprir a promessa que fizera a seu aliado de partilhar com ele os domínios conquistados. E a Providência serviu-se disso para castigar o fratricida.
Thierry, unindo-se a seu irmão Clotário, rei de Soissons, invadiu e devastou a Turíngia, matou seu rei, e levou para a França algumas vítimas ilustres e ricos despojos. Na partilha, Clotário quis ficar com Radegundes, então com dez anos de idade, mas muito amadurecida pelo sofrimento.
Radegundes foi levada para a França, a Saint-Quentin, depois a Athies. A esposa de Clotário, Ingonda, deu a menina uma educação muito religiosa.
Sofrendo sempre em silêncio, Radegundes preparava sua alma ainda pagã, retamente orientada pela lei natural, para compreender, em contato com a doutrina católica, o sentido de expiação que o sofrimento tem, à semelhança dos padecimentos do Redentor que expiou os pecados de toda a humanidade.
Na propriedade real de Athies, para onde a mandou Clotário, a princesa recebeu uma educação tão esmerada, que chegou a falar com facilidade e elegância o latim, e a compor poesias nesse idioma.
Em 538, com a morte de Ingonda, Clotário desejou desposar Radegundes em Vitry-en-Artois. Radegundes tentou fugir para os arredores de Péronne. Apanhada, ela teve que se submeter à cerimônia presidida pelo Bispo São Medardo, em Soissons.
Embora fosse filho de Santa Clotilde – que se casou com Clóvis, rei dos Francos –, Clotário era dotado de uma natureza rude e selvagem. Mas, por um desígnio da Providência, envaideceu-se de poder apresentar por esposa uma mulher polida e culta.
O trono não serviu a ela senão como meio de praticar a caridade em favor dos sofredores. Numa corte recém saída da barbárie, com um rei devasso e nada inclinado à piedade, as atitudes recatadas e modestas da rainha não eram muito do agrado dos cortesãos. Radegundes sofreu com admirável resignação as hostilidades com que estes a tratavam.
Não podendo dar um filho a seu marido, ela insistia com ele para que a deixasse abandonar o palácio e entrar em algum mosteiro. Quando Clotário ordenou a morte de seu irmão Hermanfrido, única testemunha de todas as suas desventuras, Radegundes decidiu deixar a corte.
Dirigindo-se a Noyon, suplicou ao Bispo São Medardo que lhe impusesse o véu de religiosa. Diante de sua hesitação, ela o ameaçou: “Se vós tardais em me consagrar e temeis um homem mais que Deus, o Pastor vos pedirá contas da alma da ovelhinha”.
Depois da consagração oficiada por São Medardo, Radegundes fez uma peregrinação ao túmulo de São Martinho e se reuniu a rainha Santa Clotilde no mosteiro de Tours. Esta vivia entristecida com as infames atitudes do filho, mas foi então consolada pela vinda da dileta nora.
Clotário fez várias ameaças para obrigar Radegundes a retornar à corte para viver a seu lado, mas ela permaneceu inflexível.
De Tours, Radegundes passou para outra propriedade real dada a ela pelo rei, Saix. Ali fundou um oratório e um hospital, um dos primeiros da França, e viveu cerca de seis anos como religiosa, dedicando-se a pobre gente dos arredores, cuidando dos enfermos, especialmente os leprosos.
Em 25 de outubro de 552 (ou 553), Santa Radegundes fundou um mosteiro em Poitiers, depois conhecido como da Santa Cruz, onde entrou acompanhada de um grande número de jovens e na presença de uma multidão. Logo o mosteiro contava com duzentas virgens, mas Radegundes não quis ser a abadessa. O cargo foi dado a sua filha adotiva, Santa Inês, a quem ela obedecia humildemente. O mosteiro seguia a Regra de São Cesário de Arles, e foi colocado sob a proteção da Santa Sé, para ficar livre do poder episcopal.
A Santa deixou em seu testamento uma ameaça contra quem prejudicasse o convento, “seja não respeitando as pessoas ou propriedades, ou suscitando embaraços e obstáculos”, de modo a incorrer “no julgamento de Deus, da Santa Cruz, e da Bem-aventurada Virgem Maria”, e que tivesse como adversários e perseguidores “os Santos Confessores Hilário e Martinho, sob a proteção dos quais, após Deus”, a santa declarou ter colocado suas irmãs de hábito.
Ela assim preservava sua obra, e impedia que após sua morte as doações que fizera ao mosteiro suscitassem a cobiça de eclesiásticos ou leigos. Os quatro filhos do primeiro casamento de Clotário, especialmente o rei Sigiberto, favoreceram o mosteiro e enviaram à veneranda rainha o poeta São Venâncio Fortunato para ajudá-la especialmente na atividade epistolar mantida por ela com o Papa, com Bispos e reis do Ocidente e do Oriente.
Por meio de embaixadas junto ao Imperador Bizantino, Justiniano, o rei Sigiberto conseguiu uma relíquia da Santa Cruz. Por ocasião da entronização da relíquia no mosteiro, São Venâncio Fortunato compôs os hinos Vexilla Regis e Pange Língua em honra a Santa Cruz.
Embora tivesse renunciado a todas as riquezas e ao seu título de rainha para melhor se dedicar a Jesus Cristo, do interior do mosteiro Radegundes continuou a influenciar os príncipes herdeiros evitando conflitos, e manteve uma grande autoridade em todo o reino até o fim de sua vida.
No dia 13 de agosto de 587, São Gregório de Tours, que há anos dava assistência religiosa ao mosteiro de Santa Radegundes, assistiu as suas últimas horas.
Em sua “História dos Francos”, o Santo relata muitos fatos da vida de Santa Radegundes, deixando este testemunho, ao ver seu corpo no caixão: “tinha ela uma face de anjo em forma humana; a face refulgia como rosas e lírios e ele estremeceu como se estivesse na própria presença da Santa Mãe do Senhor”.
Ela foi enterrada na Igreja Santa Maria Fora-dos-muros (hoje Santa Radegundes) em Poitiers. Durante as invasões normandas seus despojos foram levados para a Abadia de São Bento de Quincay, depois retornaram a Poitiers em 868. Numerosos milagres lhe são atribuídos, o que atrai muitos peregrinos.
Radegunda
– Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
Seu tio, Hermanfrido, matara seu pai para ficar com a porção do reino que cabia a este. Pediu o auxílio de Thierry, rei dos francos, para livrar-se do irmão e ficar só no governo da Turíngia. Depois, Hermanfrido não quis cumprir a promessa que fizera a seu aliado de partilhar com ele os domínios conquistados. E a Providência serviu-se disso para castigar o fratricida.
Thierry, unindo-se a seu irmão Clotário, rei de Soissons, invadiu e devastou a Turíngia, matou seu rei, e levou para a França algumas vítimas ilustres e ricos despojos. Na partilha, Clotário quis ficar com Radegundes, então com dez anos de idade, mas muito amadurecida pelo sofrimento.
Radegundes foi levada para a França, a Saint-Quentin, depois a Athies. A esposa de Clotário, Ingonda, deu a menina uma educação muito religiosa.
Sofrendo sempre em silêncio, Radegundes preparava sua alma ainda pagã, retamente orientada pela lei natural, para compreender, em contato com a doutrina católica, o sentido de expiação que o sofrimento tem, à semelhança dos padecimentos do Redentor que expiou os pecados de toda a humanidade.
Na propriedade real de Athies, para onde a mandou Clotário, a princesa recebeu uma educação tão esmerada, que chegou a falar com facilidade e elegância o latim, e a compor poesias nesse idioma.
Em 538, com a morte de Ingonda, Clotário desejou desposar Radegundes em Vitry-en-Artois. Radegundes tentou fugir para os arredores de Péronne. Apanhada, ela teve que se submeter à cerimônia presidida pelo Bispo São Medardo, em Soissons.
Embora fosse filho de Santa Clotilde – que se casou com Clóvis, rei dos Francos –, Clotário era dotado de uma natureza rude e selvagem. Mas, por um desígnio da Providência, envaideceu-se de poder apresentar por esposa uma mulher polida e culta.
O trono não serviu a ela senão como meio de praticar a caridade em favor dos sofredores. Numa corte recém saída da barbárie, com um rei devasso e nada inclinado à piedade, as atitudes recatadas e modestas da rainha não eram muito do agrado dos cortesãos. Radegundes sofreu com admirável resignação as hostilidades com que estes a tratavam.
Não podendo dar um filho a seu marido, ela insistia com ele para que a deixasse abandonar o palácio e entrar em algum mosteiro. Quando Clotário ordenou a morte de seu irmão Hermanfrido, única testemunha de todas as suas desventuras, Radegundes decidiu deixar a corte.
Dirigindo-se a Noyon, suplicou ao Bispo São Medardo que lhe impusesse o véu de religiosa. Diante de sua hesitação, ela o ameaçou: “Se vós tardais em me consagrar e temeis um homem mais que Deus, o Pastor vos pedirá contas da alma da ovelhinha”.
Depois da consagração oficiada por São Medardo, Radegundes fez uma peregrinação ao túmulo de São Martinho e se reuniu a rainha Santa Clotilde no mosteiro de Tours. Esta vivia entristecida com as infames atitudes do filho, mas foi então consolada pela vinda da dileta nora.
Clotário fez várias ameaças para obrigar Radegundes a retornar à corte para viver a seu lado, mas ela permaneceu inflexível.
De Tours, Radegundes passou para outra propriedade real dada a ela pelo rei, Saix. Ali fundou um oratório e um hospital, um dos primeiros da França, e viveu cerca de seis anos como religiosa, dedicando-se a pobre gente dos arredores, cuidando dos enfermos, especialmente os leprosos.
Em 25 de outubro de 552 (ou 553), Santa Radegundes fundou um mosteiro em Poitiers, depois conhecido como da Santa Cruz, onde entrou acompanhada de um grande número de jovens e na presença de uma multidão. Logo o mosteiro contava com duzentas virgens, mas Radegundes não quis ser a abadessa. O cargo foi dado a sua filha adotiva, Santa Inês, a quem ela obedecia humildemente. O mosteiro seguia a Regra de São Cesário de Arles, e foi colocado sob a proteção da Santa Sé, para ficar livre do poder episcopal.
A Santa deixou em seu testamento uma ameaça contra quem prejudicasse o convento, “seja não respeitando as pessoas ou propriedades, ou suscitando embaraços e obstáculos”, de modo a incorrer “no julgamento de Deus, da Santa Cruz, e da Bem-aventurada Virgem Maria”, e que tivesse como adversários e perseguidores “os Santos Confessores Hilário e Martinho, sob a proteção dos quais, após Deus”, a santa declarou ter colocado suas irmãs de hábito.
Ela assim preservava sua obra, e impedia que após sua morte as doações que fizera ao mosteiro suscitassem a cobiça de eclesiásticos ou leigos. Os quatro filhos do primeiro casamento de Clotário, especialmente o rei Sigiberto, favoreceram o mosteiro e enviaram à veneranda rainha o poeta São Venâncio Fortunato para ajudá-la especialmente na atividade epistolar mantida por ela com o Papa, com Bispos e reis do Ocidente e do Oriente.
Por meio de embaixadas junto ao Imperador Bizantino, Justiniano, o rei Sigiberto conseguiu uma relíquia da Santa Cruz. Por ocasião da entronização da relíquia no mosteiro, São Venâncio Fortunato compôs os hinos Vexilla Regis e Pange Língua em honra a Santa Cruz.
Embora tivesse renunciado a todas as riquezas e ao seu título de rainha para melhor se dedicar a Jesus Cristo, do interior do mosteiro Radegundes continuou a influenciar os príncipes herdeiros evitando conflitos, e manteve uma grande autoridade em todo o reino até o fim de sua vida.
No dia 13 de agosto de 587, São Gregório de Tours, que há anos dava assistência religiosa ao mosteiro de Santa Radegundes, assistiu as suas últimas horas.
Em sua “História dos Francos”, o Santo relata muitos fatos da vida de Santa Radegundes, deixando este testemunho, ao ver seu corpo no caixão: “tinha ela uma face de anjo em forma humana; a face refulgia como rosas e lírios e ele estremeceu como se estivesse na própria presença da Santa Mãe do Senhor”.
Ela foi enterrada na Igreja Santa Maria Fora-dos-muros (hoje Santa Radegundes) em Poitiers. Durante as invasões normandas seus despojos foram levados para a Abadia de São Bento de Quincay, depois retornaram a Poitiers em 868. Numerosos milagres lhe são atribuídos, o que atrai muitos peregrinos.
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