O episódio do massacre das Ursulinas de Valenciennes
faz parte da época do Terror na Diocese de Cambrai (norte da França), durante a
Revolução Francesa.
No dia 30 de setembro de 1790 os comissários
da municipalidade de Valenciennes, de acordo com o decreto da Constituinte, se
apresentaram no convento das Ursulinas para inventariar os bens da comunidade e
para questionar se as irmãs tinham a intenção de perseverar na sua vocação.
Havia então 32 irmãs no convento e a superiora era Madre Clotilde Paillot, que
tinha sido eleita no dia 13 de fevereiro do mesmo ano. A resposta das irmãs foi
unânime: pretendiam continuar Ursulinas, devotadas à educação das jovenzinhas
da cidade.
Em 13 de setembro de 1792, Valenciennes
foi assediada pelas tropas inimigas e no dia 17, tendo sido solicitado seu
convento para os defensores da cidade, as Ursulinas foram obrigadas a procurar
hospedagem junto às coirmãs de Mons, Bélgica. No dia 6 de novembro as tropas
francesas, tendo vencido a batalha de Jammapes, ocuparam Mons, resultando que
as Ursulinas, algumas semanas depois, tiveram que se mudar novamente.
Mas a ocupação francesa em Mons durou
pouco. Derrotadas na batalha de Neerwinden, as tropas francesas a evacuaram em
21 de março de 1793. As Ursulinas de Valenciennes podiam pensar em retornar à
sua cidade, já que os austríacos, possuidores da cidade, encorajavam a
reconstituição da comunidade.
Quando as religiosas chegaram à sua casa,
iniciaram logo os trabalhos de restauração, já que fora saqueada. As irmãs não
tardaram em retomar com toda intensidade suas atividades, tanto que em 29 de
abril de 1794 uma profissão e uma vestição aconteceram em seu convento.
Em 26 de julho as tropas francesas conseguiram
uma grande vitória em Freurus e em 26 de agosto os austríacos se retiraram de
Valenciennes. Algumas irmãs permaneceram no convento com Madre Clotilde e foram
aprisionadas em 1º de setembro e mantidas encarceradas em suas próprias celas.
As outras foram procuradas e aprisionadas com numerosos outros suspeitos.
O representante da Convenção era então um
certo João Batista Lacoste, um dos personagens mais repugnantes daquela época.
A sua grande ânsia era poder dispor de uma guilhotina, o que se tornara para
ele uma verdadeira obsessão. Ele recebeu uma somente no dia 13 de outubro.
Naquela data, o golpe de Estado do 9
termidor (27 de julho de 1794) já ocorrera, mas ele não levou isto em conta e
mandou instalar a máquina sinistra, e naquele mesmo dia cinco condenados foram guilhotinados.
No dia 15 de outubro, às nove horas da
noite, 116 suspeitos foram reunidos no município e colocados à disposição do
tribunal constituído ilegalmente por Lacoste. Eram particularmente numerosos os
padres e as religiosas. A razão para condená-los era ocultada sob a acusação de
traição e emigração. Os prisioneiros se encontravam em condições higiênicas
incríveis e em grande promiscuidade, mas muitas irmãs puderam aproveitar para
confessar-se e comungar.
As primeiras Ursulinas a comparecerem
diante do tribunal no dia 17 de outubro, juntamente com os padres refratários,
foram:
Irmã Maria Natália José de S. Luís (Maria
Luísa José Vanot);
Irmã Maria Lorenzina José Regina de
S. Estanislau (Joana Regina Prin);
Irmã Maria Úrsula José de S.
Bernardino (Agostinha Gabriela Bourla) e Irmã Maria Luísa José de S. Francisco
(Maria Genoveva Ducrez);
A última era Maria Madalena José
Déjardin, professa como Ir. Maria Agostinha José do S. Coração de Jesus.
Foram guilhotinadas naquele mesmo dia.
O segundo grupo de religiosas foi
martirizado no dia 23 de outubro de 1794:
Madre Maria Clotilde José de S.
Francisco de Borja foi a primeira a ser guilhotinada;
Irmã Maria Escolástica José de S.
Tiago (Laura Margarida José Leroux), aprisionada no mesmo tempo que sua irmã
Ana Josefa, chamada Josefina, professa nas Clarissas de Nuns, que fora obrigada
a deixar a clausura por causa das leis emanadas durante a Revolução e se
retirara entre as Ursulinas, junto à irmã;
Duas brigidinas: Maria Lívia Lacroix
e Maria Agostinha Erraux;
A última, uma conversa, Irmã Maria
Cordola José de S. Domingos (Joana Luísa Barré)
É preciso salientar o aspecto do testemunho
dado pelas 11 religiosas por ocasião do processo que as mandou para a morte. A
priora, Madre Clotilde Paillot, deu aos juízes respostas dignas dos mártires da
Igreja primitiva e manifestamente inspiradas pelo Espírito Santo.
Condenadas, as irmãs cortaram, elas mesmas,
seus cabelos e desguarnecerem seus hábitos em volta do pescoço para facilitar a
obra da guilhotina! Ansiosas por dar a conhecer o perdão aos seus
perseguidores, apressaram-se em beijar as mãos de seus algozes. Tal era o ardor
destas religiosas pelo martírio, que a Irmã Déjardin procurou em vão tomar
precedência às outras nos degraus do patíbulo.
As 11 religiosas guilhotinadas em
Valenciennes foram beatificadas por Bento XV em 13 de junho de 1920, junto com
4 Filhas da Caridade de Arras.
Sua festa foi fixada no dia 17 de outubro.
Elas aguardam agora sua canonização.
Obs.: As religiosas guilhotinadas no dia 23 de outubro têm sua festa litúrgica naquele dia.
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