Ainda muito criança sofreu
um acidente que quase a fez perder a vida. Impaciente por sua criada de quarto
não vir logo atendê-la, subiu na grade de seu leito, daí caindo. Embora logo
tratada, essa queda legou-lhe uma deformidade física, e levou-a às portas da
morte. Nessa ocasião, as religiosas do mosteiro fizeram um voto à Virgem pela
saúde da princesa e ela foi curada miraculosamente. Nunca mais esqueceu ao que
devia sua vida, o que a marcou de um modo profundo.
Desde a infância mostrou
inclinação para a vida de piedade, nunca se cansando da extensão do Oficio
Divino. Um dia chorou amargamente porque uma dama que a servia falou-lhe de um
príncipe estrangeiro que seria seu esposo. Entretanto, era orgulhosa de sua
posição. Certa ocasião, julgando-se ofendida por uma de suas damas, disse-lhe
com azedume: "Não sou eu a filha de vosso rei?" "E eu, Madame",
respondeu a senhora, "não sou a filha de vosso Deus?" "Tendes razão",
respondeu a princesa tocada pela resposta, "eu estava errada e peço
perdão".
Extremamente generosa com os
pobres, dava-lhes o dinheiro que recebia para seus gastos, nada reservando para
si. A dama de honra encarregada de suas despesas acostumou-se a entregar aos
pobres o que recebia para Louise Marie, sem mesmo consultá-la.
Dotada de um caráter vivaz,
gostava dos exercícios violentos. Um dia, caçando em Compiègne, seu cavalo
assustou-se e lançou-a a razoável distância. Ela caiu quase sob as rodas de uma
carruagem que vinha em disparada. Salva como por milagre, fizeram com que
regressasse de carro. Rindo-se dos temores gerais, ordenou ao seu escudeiro que
lhe trouxesse o cavalo, montou, dominou o animal nervoso e continuou o passeio.
De volta ao castelo, foi agradecer a Virgem o que chamou a segunda salvação de
sua vida.
Madame Louise viveu até os 33
anos na Corte mais faustosa do mundo, nela haurindo tudo quanto havia de bom e
dando ali exemplo de virtude, sem se deixar contaminar pelos aspectos mundanos
e frívolos que, infelizmente, vinham se introduzindo em tais ambientes a partir
do fim da Idade Média. Seu pai tinha concubinas e ela e a irmã, Clotilde (já beatificada),
serviram de esteio para uma reação dentro da corte,
que conduzia consigo os destinos da moralidade da corte, e consequentemente os
destinos da moralidade do reino.
Desejando ingressar no
convento, ao assistir a tomada de hábito no Carmelo de uma condessa quis
ingressar nessa Ordem. Começou a preparar-se para isso estudando a regra de
Santa Teresa, e abstendo-se lentamente do conforto que a cercava. Afastava-se
do aquecimento do castelo durante períodos de frio horroroso. Ela não suportava
o cheiro de velas e venceu essa repugnância após anos de esforços.
Tendo falecido sua mãe, a piedosa
rainha Maria Leszczynska, conseguiu
o consentimento do rei e a 20 de fevereiro de 1770, entrou para as carmelitas
de Saint-Denis, considerado o mais pobre da França e o de regime mais severo. A
França admirou-se desse exemplo e o papa Clemente XIV escreveu à princesa, para
lhe exprimir a felicidade que sentia em ver seu pontificado assinalado por um
acontecimento tão consolador para a religião.
No convento, lutou
arduamente para que suas companheiras deixassem de distingui-la das outras.
Trabalhou também para vencer sua dificuldade em ficar longo tempo de joelhos,
tendo conseguido essa graça após uma novena feita a São Luís Gonzaga. Recebeu o
hábito a 10 de setembro de 1770, revestida do manto de Santa Teresa que as
carmelitas de Paris possuíam e tomou o nome de Irmã Teresa de Santo Agostinho.
Nomeada mais tarde mestra de
noviças, destacou-se sobremodo nesse trabalho tão difícil, manifestando
constante alegria em meio às dificuldades com que se deparava. Foi eleita
depois, unanimemente, superiora. Quando o visitador geral das carmelitas levou
a notícia ao rei, avisou-lhe que somente um voto fora contra a Irmã Teresa.
"Então", respondeu Luís XV, "entretanto,
houve um voto contra ela?" "Sim,
Senhor", respondeu o prelado, "mas foi o
voto dela mesma".
Como superiora, foi cheia de
caridade para com suas irmãs e extremamente severa consigo própria, procurando
seguir com o máximo de fidelidade o espírito de sua regra. Preocupava-se,
também, em conseguir junto a seu pai e, mais tarde, junto a Luís XVI, todos os
benefícios que pudesse para a religião. Foi a ela que as carmelitas dos Países
Baixos austríacos deveram ser acolhidas em França, quando expulsas de sua terra
por José II.
Irmã Teresa também
contribuiu para a fundação de um mosteiro de estrita observância para os
carmelitas descalços, cuja regra relaxara durante algum tempo. Severamente
interdita de usar de sua influência para tudo aquilo que se referisse a
assuntos mundanos, usou-a, entretanto, o quanto pode, para a salvação das
almas.
Afastada dos problemas do
Estado, interessava-se profundamente por suas necessidades e na oração procurava
solvê-los. Suas orações e penitências pela conversão do pai foram atendidas: em
1774, o rei Luís XV morreu reconciliado com Deus e com a Igreja, depois de 30
anos afastado dos Sacramentos. Rezava pela conservação da fé no
reino, a restauração dos costumes, a salvação dos povos, a paz e a tranquilidade
pública. Deixou
duas obras espirituais, publicadas postumamente: Meditações Eucarísticas e Coletânea dos testamentos
espirituais a suas filhas religiosas carmelitas.
Devotadíssima ao
Papa, tornou-se defensora dos direitos da Santa Sé face aos ataques dos
galicanos e jansenistas, que exerciam grande influência na Corte. Nessa luta,
procurou ajudar os Jesuítas, então especialmente perseguidos.
Tinha pelos
franceses o mesmo amor que seu antepassado São Luís. Tudo que interessava à sua
pátria interessava à sua piedade. Luís XVI a reverenciava como o anjo tutelar
da França. Indiscutivelmente, foi para afastar a influência que ela exercia
sobre Luís XVI que os ímpios decidiram exterminá-la definitivamente. É quase
certo que Marie Louise morreu envenenada.
Em novembro de 1787, seu mal
de estômago agravou-se violentamente com dores agudas (dois anos antes da
Revolução Francesa...). Daí em diante piorando gradativamente, preparou-se para
morrer. Sua morte foi magnífica pela coragem com que a enfrentou. Suas últimas
palavras foram: "Ao Paraiso! Depressa! Já é tempo!". Era o dia 23 de dezembro de 1787, às quatro e meia da manhã.
Em 1793, por ordem dos
revolucionários, lançou-se ácido contra os restos da venerável princesa e
acreditaram tê-los destruído. Mas um grande número de milagres conduziu a
introdução de sua causa, declarando-a Pio IX venerável no dia 1º de junho de
1873.
O
decreto reconhecendo as virtudes heroicas da Venerável Madre Teresa de Santo
Agostinho foi publicado em 18 de dezembro de 1997. Basta apenas um milagre
oficialmente reconhecido e atribuído a ela para que a Igreja a declare Beata. Madame Louise de France deixou por Deus os degraus do trono. Esperemos
que em troca Ele um dia a faça gozar a honra dos nossos altares.
Fontes: Daras, “La
Vie des Saints”; www.catolicismo.com.br
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