quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Beata Paula Gambara-Costa, Esposa, Mãe de família - 24 de janeiro

     Paula nasceu no dia 3 de março de 1463 em Brescia, norte da Itália, filha de João Paulo Gambara e de Catarina Bevilacqua, nobres e piedosos. Por ocasião de seu nascimento a família repartiu doações entre instituições de caridade e famílias pobres. A jovem recebeu uma boa educação e foi orientada espiritualmente pelo franciscano André de Quinzano.
     Desde a adolescência foi muito admirada por sua beleza e sobretudo pelo equilíbrio e profundidade de suas virtudes cristãs. Apesar de sua tendência para a vida de oração e de recolhimento, seus pais a deram em casamento, sendo muito jovem, ao Conde Luís Antônio Costa, senhor de Bene Vagienna (Cúneo), muito mundano e dado aos prazeres e diversões.
     Depois de umas núpcias principescas e de uma entrada faustosa no Piemonte, pois em Turim foram acolhidos pelo próprio chefe do estado, o Duque Carlos I de Saboia, se estabeleceram nos domínios do esposo. Tiveram um filho a quem chamaram João Francisco.
     Paula continuou levando o estilo de vida espiritual e piedoso do ambiente de sua casa natal, embora num novo contexto de luxo e dissipação. Porém, pouco a pouco, tendo que participar da vida de sociedade, foi se deixando conquistar pelo fausto e ostentação dos usos e costumes do mundo que a envolvia. Jovem e inexperiente, Paula se deixou arrastar por seu esposo a uma vida similar, esfriando nela a vida de piedade que havia levado antes de seu matrimônio.
     A Providência, entretanto, velava por ela e não tardou em reconduzi-la ao bom caminho, dispondo que passasse por Brescia o Beato Ângelo Carletti de Chiavasso, sacerdote franciscano piemontês, figura eminente de sua Ordem e pregador afamado, a quem ouviu pregar e a quem confiou a direção de sua alma. Com sua pregação e exemplo de vida franciscana o Beato arrastava muitas almas a um teor de vida mais de acordo com a condição católica.
     Paula, sob sua direção espiritual, ingressou na Ordem Terceira franciscana e realizava os exercícios de devoção e caridade próprios dela, e se entregava com grande fervor a oração, a mortificação e as obras de misericórdia, socorrendo os pobres nas suas casas e visitando os hospitais, consolando os tristes e ajudando os mais necessitados.
     Abandonando os usos e costumes mundanos que havia adotado depois de seu casamento, voltou à vida interior e devota de sua adolescência. Mas, ao invés de fugir do mundo para fazer penitência, se comprometeu a viver sua conversão permanecendo no mundo, no lugar que a Providência a havia levado e no meio das pessoas de sua classe e condição. Ali, segundo seu diretor espiritual, tinha que demonstrar que é possível viver de maneira coerente com a Fé e o Evangelho em qualquer ambiente e circunstâncias.
     Um dos documentos autênticos que nos falam sobre a Beata é o plano de vida que submeteu à aprovação do Beato Ângelo. Paula tinha que se levantar todos os dias ao amanhecer para rezar e recitar o Rosário. Depois ia para a igreja dos franciscanos da localidade onde ouvia duas Missas. À tarde, recitava o Oficio de Nossa Senhora e, antes de deitar-se, rezava outro Rosário e suas orações da noite. Dedicava também algum tempo à leitura espiritual. Jejuava nas vésperas das festas da Santíssima Virgem e de algumas outras festas, e se confessava cada quinze dias. A regra mais reveladora de seu plano de vida é a seguinte: "Sempre obedecerei meu esposo, não levarei a mal seus defeitos e farei quanto possa para que ninguém se dê conta deles”.
     Entre os anos 1493-1503 houve uma grande falta de alimentos, o que deu ensejo de Paula exercitar a generosidade com os muitos indigentes que acudiam a sua porta.
     A primeira coisa que aborreceu seu esposo foi seu hábito inveterado de dar grandes somas de dinheiro aos pobres. A coisa não teria maior importância nas épocas de bonança, porém naqueles tempos a fome constituía uma ameaça constante, os mendigos abundavam e os ricos armazenavam zelosamente tudo que podiam para os momentos de escassez. Os biógrafos da Beata asseguram que as sementes, o azeite e o vinho se multiplicavam milagrosamente à medida que Paula os repartia, de sorte que sua caridade mais a enriquecia que a empobrecia.
     Seu marido não compreendia nem participava dos novos sentimentos da esposa. Mantinha Paula prisioneira, e não poucas vezes o conde a maltratava com golpes, bofetadas; tornou-se cruel com ela e a humilhava até o extremo, fazendo com que até os serviçais não tivessem respeito algum a sua senhora. Ela tudo sofria em silêncio e oferecia a Deus o seu calvário.
     Luís tinha uma amante que acabou acolhendo em sua própria casa por mais de dez anos, à vista de sua mulher, dos domésticos e das pessoas conhecidas. Aconselhada pelo Beato Ângelo, Paula não explodiu nem simplesmente se resignou; reagiu, sim, porém não como inimiga ou vítima, mas como esposa preocupada em salvar seu marido das redes passionais que o aprisionavam e o levavam à perdição. Em 1504 a amante do conde adoeceu gravemente e todos a abandonaram. Somente Paula cuidou dela e a preparou para morrer reconciliada com Deus.
     Finalmente, o sacrifício e o comportamento de Paula deram seu fruto: o exemplo de paciência e de humildade calou no ânimo de seu esposo, que se uniu ao seu estilo de vida, permitindo inclusive que ela vestisse o hábito franciscano na rua.
     Em santa harmonia passaram uns anos até que o Senhor chamou a si o Conde Luís. Paula se entregou então por completo a meditação, levando uma vida exemplar que edificava a todos da região onde vivia.
     No dia 24 de janeiro de 1515, a Beata morreu em Bene Vagienna (Cúneo), onde havia vivido depois de casada. Imediatamente o povo passou a venerá-la, apreciando nela sobretudo o seu modo de viver o matrimônio com tal marido. Em sua terra natal subsiste o dito: «Foi provada como a Beata Paula». Seu culto imemorial foi confirmado pelo Papa Gregário XVI em 14 de agosto de 1845.
 
Fontes: Ferrini-Ramírez, Santos franciscanos para cada día; R. Bollano, Vita della B. Paola Gambara-Costa (1765); Léon, Auréole Séraphique, vol. I, pp. 534-536. 

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