Devido à sua beleza e inteligência, Iria
cedo congregou a afeição das religiosas e das pessoas da terra. A menina vivia
retirada do mundo em companhia de Casta e Júlia, irmãs de seu pai. Uma só vez
por ano, no dia de São Pedro, elas costumavam visitar a igreja dedicada a este
Apóstolo, que se erguia junto ao palácio de Castinaldo, governador daquelas
terras.
Castinaldo tinha um único filho, Britaldo,
que tinha por hábito compor trovas junto da igreja de São Pedro. Um dia,
Britaldo viu Iria e ficou enamorado dela. Ficou doente e, em estado febril e
desesperado, reclamava a presença da jovem. Iria decidiu ir visitá-lo para
dizer que a doença não era mortal e que Deus lhe restituiria a saúde se ele
afastasse o mau afeto a que os olhos o tinham inclinado. Alentado pelas
exortações da Santa o doente tranquilizou-se. Iria prometeu que não se casaria
com outro. Britaldo em breve se restabeleceu e seus pais ficaram a ter maior
devoção ao mosteiro aonde Iria estava recolhida, dando-lhe muitas esmolas e
privilégios.
Algum tempo depois, o monge Remígio, ao
qual a beleza da donzela também não passara despercebida, inspirado pelo
demônio, concebeu um amor impuro pela discípula. Como a Santa recusasse as suas
solicitações e o repreendesse, o monge ministrou-lhe uma tisana que deu ao seu corpo
opulência própria da gravidez. Por causa disso Iria foi expulsa do convento,
recolhendo-se junto do Rio Nabão, que passava próximo ao convento, para orar.
Aí, no dia 20 de outubro de 653, foi
assassinada à traição por um servo de Britaldo, ou pelo próprio, a quem tinham
chegado os rumores destes eventos e julgava que ela faltara à promessa.
Atirado ao Rio Nabão, cujas águas correm
para o Rio Zêzere, o corpo da mártir chegou a este rio e a partir deste ficou
depositado nas areias do Rio Tejo, aí permanecendo, incorruptível. Para
conservar a sua memória e milagre, a povoação de Scallabis construiu-lhe um sepulcro de mármore.
Séculos depois, as águas do Tejo se abriram para revelar o túmulo à rainha Da.
Isabel, que mandou colocar o padrão que ainda hoje se encontra.
O seu culto foi tão popular durante a
dominação visigótica, que a velha Scallabis romana passou a ser chamada de Santa Iria e daí derivou a
moderna Santarém, através de Sancta Irene. O culto foi perpetuado
através do rito moçárabe, mantendo-se ainda hoje como padroeira de algumas
igrejas portuguesas, muito embora não seja considerada uma santa canônica pela
Igreja Católica.
Concluindo a sua biografia, a edição portuguesa das Vidas dos Santos,
1955, apresenta esta nota: “Retocamos a lenda apresentada pelo Autor, de
harmonia com as lições ‘próprias’ de Lisboa. O caso é atribuído ao ano de 653 e
anda contado de modo diverso num conhecido romance popular”. Nabância, diz o
Ano Cristão, vol. X, p. 270, é o nome antigo de Tomar.
Santa Iria é representada habitualmente
segurando a palma do martírio.
Em homenagem à Padroeira, realiza-se em
outubro a Feira de Santa Iria, que integra a Feira das Passas, com o seu dia
mais importante a 20 de outubro, data que se celebra Iria. Esta Feira foi
criada por Carta Real de Filipe II de 3 de outubro de 1626. Nela comparecem
inúmeros artesãos e comerciantes, tradição que ainda hoje se mantém.
Fontes:
Santos de cada dia, Pe. José Leite, S.J.
Etimologia: Iria, forma portuguesa popular de Irene. Irene, do grego Eiréne: “paz, deusa da paz; a pacífica”.
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