Miniatura medieval representando Sta. Pelágia cortejada e S. Nono rezando por ela |
Pelágia, a
penitente (artisticamente
conhecida como Margarida de Antioquia)
era uma belíssima bailarina que encantava os homens com sua dança
e os ornamentos luxuosos que usava, que ostentava sua riqueza e sua vida
promíscua.
Numa ocasião, o
patriarca de Antioquia convocou o Sínodo dos Bispos ante a Basílica de São
Juliano, o mártir, onde costumava a pregar o honorável Bispo de Edessa, São
Nono. Naquela ocasião Pelágia passou pelo pórtico cavalgando um cavalo branco,
rodeada de admiradores, com os braços e ombros descobertos, como se vestiam as
cortesãs daquela época.
São Nono
interrompeu sua pregação, enquanto os outros bispos baixaram discretamente seus
olhos, e fixou seu olhar em Pelágia até que desaparecesse de sua vista.
Perguntou, em seguida, aos outros bispos: “Não
vos parece muito bela esta mulher?” Os bispos, sem saber o que dizer,
permaneceram calados. Nono acrescentou: “A
mim, me pareceu muito bela, e creio que é uma lição de Deus para nós. Esta
mulher faz o impossível para manter sua beleza e aperfeiçoar-se na dança.
Quanto a nós, não realizamos por nossas dioceses e por nossas almas, sequer a
metade do que ela faz”.
Naquela mesma noite
São Nono se viu, em sonho, celebrando a Liturgia, enquanto um grande e estranho
pássaro, sujo e agressivo, tentava impedi-lo. Quando o diácono despediu os catecúmenos,
a criatura partiu com eles, mas pouco tempo depois retornou e São Nono
conseguiu então apanhá-lo e mergulhá-lo na fonte do átrio. A ave saiu da água
branca como a neve, desaparecendo entre as nuvens.
No dia seguinte, um
domingo, todos os bispos que assistiram a Divina Liturgia celebrada por São
Nono, pediram a ele que pregasse. Pelágia, que sequer era catecúmena, sentiu-se
impelida a ir à igreja naquele dia e ouvindo a pregação sentiu suas palavras
caírem fundo em seu coração. Tempos depois, escreveu uma carta a São Nono
rogando-lhe que permitisse falar com ele. São Nono concordou em lhe conceder
uma audiência na condição de que isto acontecesse na presença de outros bispos.
Ao aproximar-se de
São Nono Pelágia caiu de joelhos diante dele e chorando muito disse: “Eu sou Pelágia, um oceano de iniquidade
repleto das ondas dos pecados. Sou o abismo da perdição, a voragem e a
armadilha das almas. Enganei a muitos, e agora tenho muito medo de tudo”.
(*) Então pediu o batismo e suplicou que ele se interpusesse entre ela e seus
pecados para que o espírito do mal não tivesse mais domínio sobre sua alma. São
Nono batizou-a, confirmando-a na fé e lhe dando a comunhão.
Oito dias depois de
seu batismo, Pelágia, que já havia renunciado a todos os seus bens em favor dos
pobres, despojou-se da túnica branca dos batizados e à noite, vestida como um
homem, abandonou Antioquia e seguiu solitária, a pé, para Jerusalém onde se
instalou numa gruta no Monte das Oliveiras.
Logo ficou
conhecida como “Pelágio, o monge sem
barba”. Três ou quatro anos depois, Jacob, um diácono de São Nono, foi
visitá-la acreditando tratar-se de um monge. Durante sua permanência em
Jerusalém Pelágia entregou sua alma a Deus. O diácono voltou à sua cela e
encontrando-a morta foi anunciar o ocorrido ao bispo que congregou o clero para
celebrar as exéquias de tão santo varão. Ao prepará-la para o sepultamento
descobriram que se tratava de uma mulher. Muito admirados, deram graças a Deus
e sepultaram o santo corpo com todas as honras.
Santa Pelágia
faleceu por volta do ano do Senhor de 290.
Etimologia: Pelágia, do latim Pelagius: “do mar, marinho, marítimo, marinheiro”. Do grego pélagos: “mar, pélago”.
(*) Legenda Áurea de Tiago de Voragine. Fontes: http://ecclesia.com.br; www.paulinas.org.br
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