Nascida
em 13 de novembro de 1784, Frances Margaret Allen foi a filha mais velha do
patriota americano Ethan Allen e sua segunda esposa, Frances Montresor Brush
Buchanan Allen. Ela nasceu em uma casa construída por seu pai ao lado do Batten
Kill em Sunderland, Vermont (Estados Unidos).
Seu
pai morreu de repente em 12 de fevereiro de 1789 quando ela contava apenas 4
anos. Após a morte de seu pai, a família mudou-se para Westminster para viver
com sua avó materna. Foi em Westminster que sua mãe se casou com o Dr. Jabez
Penniman em 1793. Penniman cuidou de Fanny (como era chamada) como se fosse sua
própria filha, mostrando um grande interesse em sua educação.
Na
sua adolescência, Fanny teve uma experiência misteriosa que mais tarde seria um
fator importante na sua decisão de entrar na vida religiosa católica. A
história, em suas próprias palavras, é a seguinte:
Quando eu tinha doze anos, estava caminhando
um dia nas margens do rio que não fluía muito longe de nossa casa. A água,
embora muito clara, rolava em torrentes. De repente, percebi que emergia do rio
um animal mais parecido com um monstro que um peixe, pois era de tamanho
extraordinário e forma horrível. Ele estava vindo diretamente para mim e tive
um arrepio de terror. O que agravou o meu perigo foi que eu não podia me
afastar desse monstro. Parecia paralisada e arraigada no chão. Enquanto eu
estava nessa situação torturante, vi avançando para mim um homem com um
semblante venerável e impressionante, vestindo uma capa marrom e carregando um
bastão na mão. Ele segurou meu braço suavemente e me deu forças para me mover
enquanto ele me dizia com bondade: "Minha filha, o que você está fazendo aqui?
Apresse-se". Então corri o mais rápido que pude. Quando eu estava a uma
certa distância, eu me virei para olhar para aquele homem venerável, mas eu não
o vi em nenhum lado.
Ao
voltar para casa, Fanny descreveu a experiência para sua mãe, que enviou um
servo para procurar o homem para agradecer por sua bondade. O homem nunca foi
encontrado.
Fanny foi educada no Middlebury Seminary e
teve interesse em ciência. Ela não foi criada com respeito pela religião, em
sua educação não havia espaço para isto. Seu pai era um cético da religião e
seu padrasto considerava as afeições do povo religioso de seu tempo com
ceticismo.
Em
1801, Penniman foi nomeado Coletor de Alfândega para Vermont, momento em que a
família se mudou para Swanton. Quando tinha 19 anos, Fanny pediu permissão de
seus pais para ir para Montreal (Canadá). Ela afirmou que sua intenção era
continuar sua educação ao estudar francês, mas seu verdadeiro motivo era talvez
uma curiosidade intelectual sobre as crenças e práticas da Igreja Católica,
mesmo que nunca tivesse ouvido nada além de observações depreciativas.
Seus pais concordaram em enviá-la para
Montreal, mas primeiro exigiram que ela fosse batizada pelo Rev. Daniel Barber,
um sacerdote anglicano de Claremont, New Hampshire, que depois se converteu ao
Catolicismo. Fanny que era fortemente irreligiosa na época, opôs-se fortemente,
mas consentiu para agradar a sua mãe. No entanto, ela foi repreendida por
Barber por rir durante toda a cerimônia.
Hotel-Dieu de Montreal onde Fanny professou (em 1826) |
Na festa da Natividade, 9 de setembro de
1807, ela pediu para ser instruída na fé. Fanny recebeu instrução na fé
católica e foi rebatizada pelo Pe. L. Saulnier, um pároco de Montreal, uma vez
que se determinou que seu batismo anterior era inválido devido à falta de
disposição adequada para receber o sacramento. Foi na sua Primeira Comunhão que
ela concebeu a ideia de ingressar na vida religiosa.
Sua
conversão ao catolicismo foi considerada como notável em Vermont, uma área na
qual a Igreja Católica não tinha influência naquela época; foi ainda mais
notável por sua decisão de se tornar freira. Em reação, seus pais imediatamente
retiraram-na do convento e tentaram distraí-la da ideia de vida religiosa com
festas pródigas e pretendentes bonitos. Eles até buscaram a ajuda da Igreja Episcopal
para tentar convencê-la de que era a igreja que melhor combinava para ela.
Fanny
estava tão determinada em sua nova fé quanto antes estava em sua descrença. Ela
rompeu seu noivado com Archibald Hyde. Todas as tentativas de dissuadir Fanny
tiveram pouco efeito, no entanto ela concordou com o pedido de seus pais de
esperar um ano antes de agir, durante o qual ela moraria com eles em Swanton.
Ao fim de um ano, ela voltou para
Montreal, mas não tinha ainda ideia em que congregação religiosa ingressaria.
Quando visitou o Hôtel-Dieu de Montreal com sua mãe, ela imediatamente foi atraída
por uma pintura que estava pendurada acima do altar da capela. A imagem era uma
representação da Sagrada Família. Atônita, comentou com sua mãe que a imagem de
São José correspondia exatamente à aparência do homem que a salvara da criatura
do rio aos 12 anos. "Ó grande São
José", exclamou ela, "sois
vós mesmo, o pai adotivo de Jesus, o marido de Maria, que veio me salvar
daquele monstro, para me preservar da morte para que eu pudesse conhecer, amar
e servir meu Deus. É aqui mesmo, mãe, é com as Irmãs de São José que desejo
passar o resto da minha vida!”
Ela então ingressou no Hotel-Dieu, no
hospital e no convento fundado pelo Venerável Jerônimo Le Royer, pela Venerável
Marie de la Ferre e por Jeanne Mance cerca de 200 anos antes.
Vida religiosa
Em 29 de setembro de 1808 foi recebida no
noviciado das Religiosas Hospitalares de São José. Seus pais, que imaginavam
que os conventos católicos não eram "melhores
do que muitas prisões", após uma visita na primavera de 1809 ficaram
satisfeitos por ver que Fanny estava feliz no convento e notaram também a
felicidade das freiras ali e a felicitaram por sua escolha de vida. Quando ela
fez sua profissão religiosa em 18 de maio de 1811, a Enciclopédia Católica
relata que "a capela do convento
estava cheia, muitos amigos americanos vieram testemunhar o estranho espetáculo
de a filha de Ethan Allen se tornar uma freira católica". Fanny Allen
tornou-se a primeira freira católica da Nova Inglaterra e um farol para muitos
personagens célebres de Vermont que se converteram ao Catolicismo.
Por onze anos Irmã Fanny Allen cuidou dos
doentes e dos moribundos. Era um modelo de serviço e de oração enquanto cuidava
de soldados feridos em Montreal, servindo de intérprete para os pacientes de
língua inglesa, em meio a uma grande pobreza e ameaça iminente de doença
durante a Guerra de 1812. Naquele período, ela cuidou de soldados britânicos
que tinham sido feridos durante as lutas contra seus compatriotas americanos.
Eles não sabiam que uma famosa americana estava cuidando deles.
Ela
passou o resto de sua vida como enfermeira, trabalhando no boticário do
hospital. De acordo com relatos contemporâneos, Irmã Allen era frequentemente
convocada por americanos que visitavam Montreal, "implorando para ver a linda jovem freira do Hotel-Dieu, que foi a
primeira filha que a Nova Inglaterra deu ao recinto sagrado e que eles
reivindicavam como pertencendo especialmente a eles por sua conexão com seu
herói favorito". Essas interrupções eram aparentemente tão frequentes,
que Irmã Allen pediu a permissão de sua Madre Superiora para recusar todas
essas visitas, exceto as feitas por amigos da juventude.
A
Irmã Frances Margaret (Fanny) Allen das Religiosas Hospitaleiras de São José
morreu em 10 de setembro de 1819 em Montreal no Hotel-Dieu. Tinha 35 anos, e
foi enterrada na cripta abaixo da capela do Hotel-Dieu.
Legado
Ela nunca veria o hospital que leva seu
nome até hoje. O Hospital Fanny Allen em Colchester, Vermont, construído em
1879 e administrado pelas Religiosas Hospitalares de São José, recebeu este
nome em sua homenagem. Este hospital, agora chamado Fletcher Allen, se fundiu
em 1995 com outro hospital e foi reconstruído como o centro de atendimento no
oeste de Vermont. Perto do campus deste hospital ainda existe um cemitério que mantém
o nome de Fanny Allen
Suas coirmãs, as Religiosas Hospitaleiras,
nunca esquecerem de sua amada irmã na fé, e então, quando o bispo D. João
Michaud as convocou para servir os doentes em Vermont, elas se lembraram da
Irmã Fanny e aceitaram a oferta. Quando perceberam que a terra onde o hospital
deveria ser estabelecido tinha pertencido originalmente à família Allen, elas
ficaram mais convencidas a ir a Vermont. Na carta de aceitação ao bispo D.
Michaud, elas lembram a primeira freira americana daquela ordem, dizendo:
"nossa querida Irmã Allen, de
memória doce e piedosa".
Hospital Fanny Allen em 1915 |
(Obs.: A vida do Pe. Victor Barber, SJ, é
digna de nota: ele era casado, com filhos, quando deixou a Igreja Episcopal.
Sua esposa, Jerusha, tornou-se freira da Visitação, ele ingressou na Sociedade
de Jesus e todos os seus filhos ingressaram em ordens religiosas.)
Como todos os convertidos, Fanny Allen teve
que superar muitos obstáculos, incluindo o medo e o ódio quase inato ao
Catolicismo de sua família e de seu Estado. Sua conversão surpreendeu muitos
amigos na época porque achavam que ela era muito inteligente para aceitar o que
eles chamavam “superstição católica”. Mas ela abraçou a verdade quando encontrou
mistérios que não podiam ser explicados somente pelo oráculo da razão.
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