sábado, 8 de fevereiro de 2014

Santa Apolônia, Virgem e mártir - 9 de fevereiro


     O martírio de Santa Apolônia é relatado pelo historiador Eusébio de Cesareia (265-340), que na sua Historia Ecclesiastica, escrita no terceiro século, transcreve um trecho da carta do bispo São Dionísio de Alexandria († 264), endereçada a Fábio de Antioquia, na qual ele narra alguns episódios de que fora testemunha.
     O governo de Felipe o Árabe (243-249) foi um período em que praticamente houve uma trégua nas perseguições anticristãs, mas, em 248, eclodiu em Alexandria do Egito uma sublevação popular contra os cristãos instigada por um adivinho alexandrino.
     Muitos seguidores de Nosso Senhor Jesus Cristo foram flagelados e lapidados; nem os mais débeis escaparam do massacre. Os pagãos entravam em suas casas saqueando tudo e devastando a habitação.
     Durante este furor sanguinário dos pagãos, foi aprisionada a virgem Apolônia, já anciã, definida por Eusébio “parthenos presbytès”, mas que na iconografia sagrada, como todas as santas virgens, é apresentada como uma jovem.
     Os perseguidores arrancaram seus dentes com uma tenaz. Depois, levaram-na fora da cidade, acenderam uma fogueira e ameaçaram lançá-la viva nela se não pronunciasse uma palavra de impiedade contra Deus. Apolônia pediu para deixaram-na livre por um momento e, obtido isto, se lançou rapidamente no fogo, sendo reduzida a cinzas.
     O fato ocorreu no fim do ano 248 e início de 249. Na sua carta São Dionísio afirma que sua vida fora digna de toda admiração e, devido sua conduta exemplar e pelo apostolado que desenvolvia, a fúria dos pagãos caíra sobre ela com uma crueldade particular.
     O gesto de Apolônia de lançar-se no fogo a fim de não cometer um pecado grave, suscitou entre os cristãos e os pagãos de então uma grande admiração e nos séculos seguintes foi objeto de considerações doutrinárias.
     Eusébio e Dionísio não acenam com nenhuma reprovação ao seu gesto, que pode ser considerado suicídio, mas de fato a virgem estava condenada de qualquer forma ao fogo se não abjurasse a Fé. Quiçá ela quis livrar-se de torturas posteriores que poderiam quebrantar sua vontade e que isto a fez decidir por se lançar nas chamas.
     Santo Agostinho, na sua De civitate Dei, se põe perguntas sobre o problema se é lícito dar-se voluntariamente a morte para não renegar a Fé e diz: “Não é melhor fazer uma ação vergonhosa da qual é possível se livrar com o arrependimento, do que um delito que não deixa espaço a um arrependimento que salva?” Mas o suicídio voluntário de algumas santas mulheres que em “tempo de perseguição se jogavam em um rio para fugir de quem tentava corromper a sua castidade” o deixava perplexo: e se não fora Deus mesmo que inspirara o gesto? Então não teria sido um erro, mas uma obediência. Santo Agostinho não se decide por uma posição sobre o argumento.
     Seja como for, o culto pela mártir da Alexandria se difundiu primeiro no Oriente e depois no Ocidente. Em várias cidades europeias surgiram igrejas dedicadas a ela; em Roma havia uma, hoje desaparecida, perto de Santa Maria em Trastevere. A sua festa, desde a Antiguidade, é celebrada no dia 9 de fevereiro.
     Na Idade Média era tão grande a devoção a esta santa mártir, protetora dos dentes e das doenças a eles relacionadas, que se multiplicaram os dentes-relíquia milagrosos, o que fez com que o Papa Pio VI (1775-1799), que era muito rígido nestas formas de culto, mandasse recolher todos os dentes que eram venerados na Itália. Este episódio nos ajuda a compreender quanta impressão e admiração o martírio desta santa suscitava no mundo cristão.
 

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