O martírio de Santa Apolônia é relatado pelo historiador Eusébio de
Cesareia (265-340), que na sua Historia
Ecclesiastica, escrita no terceiro século, transcreve um trecho da carta do
bispo São Dionísio de Alexandria († 264), endereçada a Fábio de Antioquia, na
qual ele narra alguns episódios de que fora testemunha.
O governo de Felipe o Árabe (243-249) foi um período em que praticamente
houve uma trégua nas perseguições anticristãs, mas, em 248, eclodiu em
Alexandria do Egito uma sublevação popular contra os cristãos instigada por um
adivinho alexandrino.
Muitos seguidores de Nosso Senhor Jesus Cristo foram flagelados e
lapidados; nem os mais débeis escaparam do massacre. Os pagãos entravam em suas
casas saqueando tudo e devastando a habitação.
Durante este furor sanguinário dos pagãos, foi aprisionada a virgem
Apolônia, já anciã, definida por Eusébio “parthenos presbytès”, mas que na
iconografia sagrada, como todas as santas virgens, é apresentada como uma
jovem.
Os perseguidores arrancaram seus dentes com uma tenaz. Depois,
levaram-na fora da cidade, acenderam uma fogueira e ameaçaram lançá-la viva nela
se não pronunciasse uma palavra de impiedade contra Deus. Apolônia pediu para
deixaram-na livre por um momento e, obtido isto, se lançou rapidamente no fogo,
sendo reduzida a cinzas.
O fato ocorreu no fim do ano 248 e início de 249. Na sua carta São
Dionísio afirma que sua vida fora digna de toda admiração e, devido sua conduta
exemplar e pelo apostolado que desenvolvia, a fúria dos pagãos caíra sobre ela
com uma crueldade particular.
O gesto de Apolônia de lançar-se no fogo a fim de não cometer um pecado
grave, suscitou entre os cristãos e os pagãos de então uma grande admiração e
nos séculos seguintes foi objeto de considerações doutrinárias.
Eusébio e Dionísio não acenam com nenhuma reprovação ao seu gesto, que
pode ser considerado suicídio, mas de fato a virgem estava condenada de
qualquer forma ao fogo se não abjurasse a Fé. Quiçá ela quis livrar-se de
torturas posteriores que poderiam quebrantar sua vontade e que isto a fez
decidir por se lançar nas chamas.
Santo Agostinho, na sua De
civitate Dei, se põe perguntas sobre o problema se é lícito dar-se
voluntariamente a morte para não renegar a Fé e diz: “Não é melhor fazer uma ação vergonhosa da qual é possível se livrar
com o arrependimento, do que um delito que não deixa espaço a um arrependimento
que salva?” Mas o suicídio voluntário de algumas santas mulheres que em “tempo de perseguição se jogavam em um rio
para fugir de quem tentava corromper a sua castidade” o deixava perplexo: e
se não fora Deus mesmo que inspirara o gesto? Então não teria sido um erro, mas
uma obediência. Santo Agostinho não se decide por uma posição sobre o
argumento.
Seja como for, o culto pela mártir da Alexandria se difundiu primeiro no Oriente e depois no Ocidente. Em várias cidades europeias surgiram igrejas dedicadas a ela; em Roma havia uma, hoje desaparecida, perto de Santa Maria em Trastevere. A sua festa, desde a Antiguidade, é celebrada no dia 9 de fevereiro.
Seja como for, o culto pela mártir da Alexandria se difundiu primeiro no Oriente e depois no Ocidente. Em várias cidades europeias surgiram igrejas dedicadas a ela; em Roma havia uma, hoje desaparecida, perto de Santa Maria em Trastevere. A sua festa, desde a Antiguidade, é celebrada no dia 9 de fevereiro.
Na Idade Média era tão grande a devoção a esta santa mártir, protetora
dos dentes e das doenças a eles relacionadas, que se multiplicaram os dentes-relíquia
milagrosos, o que fez com que o Papa Pio VI (1775-1799), que era muito rígido
nestas formas de culto, mandasse recolher todos os dentes que eram venerados na
Itália. Este episódio nos ajuda a compreender quanta impressão e admiração o
martírio desta santa suscitava no mundo cristão.
Fonte: www.santiebeati.it
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