Não
há uma fonte segura que permita estabelecer o local de nascimento de Felícia
Meda, nem sua família de origem; sabe-se, entretanto, que ela nasceu por volta
de 1378. O erudito Gallucci diz que ela era originária de Meda (não distante de
Novara, Itália), mas o comentário das Acta sanctorum (pp. 752-754)
conclui que Milão era sua cidade natal.
A tradição erudita dos Frades Menores
refere que ela teve um irmão e uma irmã, também ela Clarissa, mas sem documento
comprobatório. Ela era a filha mais velha e quando ficaram órfãos
prematuramente, Felícia se tornou “mãe” dos irmãos menores, cuidando de sua
educação, dedicando a eles sua juventude.
Aos 12 anos fizera voto de castidade, consagrando
seu corpo a Deus. Mas foi somente depois dos 20 anos, por volta de 1398 - 1400,
quando sua tarefa de cuidar dos irmãos terminou, que ela pode ingressar no
convento das Clarissas de Santa Úrsula, em Porta Vercelesse. Antes de deixar o
mundo, entregou seus bens aos irmãos e aos pobres.
Seu exemplo era tão contagiante, que sua
irmã logo a seguiu, entrando também no convento das Clarissas, enquanto que o
irmão se tornava frade franciscano.
O convento de Santa Úrsula surgira no
século anterior como uma fundação agostiniana e foi o primeiro a adotar a Regra
de Santa Clara.
Durante 25 anos de vida religiosa Felícia
praticou com eximia regularidade e admirável rigor as virtudes que a tornaram
apta a exercer o cargo de superiora do convento de Santa Úrsula, para o qual
foi eleita. Sob sua direção o convento se tornou um modelo de virtude e
piedade. A presença de Felícia em Santa Úrsula em 1412 e como abadessa pela
primeira vez em outubro de 1425, cargo que ocupou até 1439, é documentada em
alguns atos notariais.
Foi naquele ano que Batista de
Montefeltro, Duquesa de Pesaro, esposa de Galeazzo Malatesta, Senhor de Pesaro,
quis fundar um novo convento de religiosas Clarissas naquela cidade e se
dirigiu a São Bernardino de Sena, que era então o vigário geral dos
Franciscanos Observantes. Seu pedido era específico: para dirigir a nova
fundação ela não queria uma Clarissa qualquer, por virtuosa que fosse: desejava
que Felícia Meda o dirigisse.
Em carta datada de dezembro de 1438, o
Papa Eugênio IV dirigiu-se ao Bispo de Pesaro (Bullarium, n. 404)
ordenando a fundação de um mosteiro clariano, sujeito ao vigário da Observância
e com o título de Corpus Domini, na casa que os Malatesta haviam designado às
monjas, declarando que isto correspondia a um pedido da Duquesa Malatesta.
São Bernardino de Sena não teve dificuldade
para convencer Felícia a deixar Milão e seguir para Pesaro com outras sete
Irmãs para trabalhar na nova fundação. Ela obedeceu prontamente ao Superior,
ainda que lhe custasse deixar, já anciã, a cidade onde sempre vivera circundada
de um vivíssimo afeto.
Em 24 de julho de 1439, por meio de uma
carta, o Geral dos Frades Menores, Guilherme da Casale, transferiu-a para
Pesaro, onde seria confiado a ela o recém-criado mosteiro das Clarissas,
denominado Corpus Domini ou Corpus Christi (Sensi, p.1187 n. 17).
Quando a Beata chegou com as sete Irmãs à
cidade dos Malatesta, em vão a Duquesa foi ao seu encontro com sua carruagem:
Felícia Meda recusou usá-la e entrou em Pesaro a pé, caminhando até o novo
mosteiro em meio à admiração devota de uma multidão.
A mesma ovação popular se repetiu quatro
anos depois, em 30 de setembro de 1444, quando de sua morte, tendo o povo de
Pesaro aclamado como Santa aquela a quem eram atribuídos numerosos milagres.
Dados sobre o estado do mosteiro durante o
governo da Beata são relatados em Notizie delle cose più essenziale –
Notícias das coisas mais essenciais (fonte dos registros publicados no Bullarium
Franciscanum. Nova serie, Supplementum, pp. 450 n. 525, 463 n. 596).
Após sua morte testemunhas atestaram que
se verificaram milagres junto a sua sepultura. Três anos depois de seu
falecimento, no reconhecimento de seu corpo, se constatou que estava
incorrupto. Por desejo dos duques de Urbino, Guidobaldo II e Vitória Farnese,
os seus despojos foram colocados no coro das monjas, onde permaneceu até sua
definitiva transladação para a Catedral de Pesaro, quando da supressão do
mosteiro em 1810. Naquela ocasião, as relíquias da Beata foram transladadas
junto com as da célebre Beata Serafina Sforza de Pesaro, morta no mesmo
mosteiro em 1478, bem como o crucifixo dado a Beata Felícia Meda por São
Bernardino de Sena.
Em 1921, malfeitores violaram a Capela das
Beatas, levando objetos preciosos deixados por seus devotos. Os habitantes de
Pesaro, entretanto, fizeram questão de oferecer novos presentes às duas insignes
protetoras da cidade e da Diocese de Pesaro, confirmando assim sua grande
devoção e gratidão por elas.
O seu culto como Beata foi aprovado pelo
Papa Pio VII em 2 de maio de 1807.
Etimologia:
Felícia, do latim Felicius: “feliz,
venturoso”.
Retábulo das Beatas Felícia Meda e Serafina Sforza |
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