Ana Maria Gallo nasceu no dia 25
de março de 1714, em Nápoles, e morreu nessa cidade no dia 6 de outubro de
1791. Francisco Gallo, seu pai, pertencia à classe média, era tecelão, homem
severo, avarento, de temperamento apaixonado, muito fez sofrer a filha. Bárbara
Basinsin, sua mãe, entretanto, era uma mulher muito piedosa que suportou
pacientemente a conduta brutal do esposo.
Ana Maria nasceu e cresceu nos famosos
"quarteirões espanhóis" de Nápoles. Esses quarteirões tiveram sua
origem nos anos 1600, quando tropas espanholas ali se alojaram a poucos passos
do Palácio Real, prontos para intervir à primeira chamada. Após a ocupação
espanhola, as construções permaneceram e se estenderam; a população aumentou e
ao mesmo tempo a promiscuidade e a violência propagaram-se naqueles
"quarteirões".
Na época desta Santa, não só aqueles
perigos aumentavam: o fervor de obras religiosas, com conventos e igrejas, se
estabelecia também ali, a fim de dar ajuda espiritual e material aos fiéis.
Ana Maria era muito pequenina quando foi
obrigada pelo pai a trabalhar em sua tecelagem. A mãe, por outro lado,
aproveitava todo momento livre para ler livros piedosos para ela e a levava à
igreja para rezar. Admirado com a piedade da criança, e vendo que ela sabia de
cor o catecismo, o pároco permitiu que ela fizesse a Primeira Comunhão aos oito
anos, e no ano seguinte a encarregou de preparar várias crianças.
As operárias de seu pai comentavam que Ana
Maria trabalhava as mesmas horas que elas e, entretanto, fazia o dobro que
elas. "Será que ela recebe ajuda de
seu Anjo da Guarda?", se perguntavam. E logo correu a notícia que ela
recebia ajuda especial do céu.
Um domingo à tarde, quando preparava as
crianças para a Primeira Comunhão, de repente ficou calada, com o olhar
distante, e disse: "José, Zezinho,
corre para tua casa, pois tua mãe está precisando de ti. Vá para lá agora!"
O menino saiu correndo e encontrou sua mãe desmaiada. Ao cair, ela entornara
uma lamparina acesa sobre umas roupas e um incêndio se iniciara. O menino
conseguiu apagar as chamas e salvar a vida da mãe. O fato logo se propagou pelo
bairro e as pessoas começaram a comentar que Deus enviava mensagens
extraordinárias para aquela jovenzinha.
Ana Maria frequentava a igreja do Convento
de São Pedro Alcântara e ali conheceu e se fez dirigir pelo futuro São João
José da Cruz.
Uma senhora convidou-a certa vez para visitar
um doente, porém a levou a uma casa onde estava acontecendo um baile imoral.
Maria Francisca fugiu imediatamente, livrando-se da corrupção.
Francisco Gallo conseguiu um noivo de boa
situação financeira para Ana Maria. Ela, porém, lhe disse que já havia
prometido a Deus que se conservaria solteira, para dedicar-se a vida espiritual
e para rezar pela salvação das almas. Seu pai se encolerizou e a açoitou
violentamente. Fechou-a em um quarto a pão e água por vários dias. A jovem
aproveitou para jejuar e dedicar-se a oração e a meditação. A mãe conseguiu que
um frade menor, Padre Teófilo, viesse a sua casa e convencesse o pai a deixá-la
em liberdade para seguir sua vocação.
Assim, aos dezesseis anos, no dia 8 de
setembro de 1731, Ana Maria recebeu o hábito da Ordem da Reforma de São Pedro
de Alcântara, formulando os votos prescritos e mudando o nome de batismo para o
de Maria Francisca das Cinco Chagas, pois era muito devota da Paixão e Morte de
Jesus, de Maria Santíssima e de São Francisco de Assis.
Seu diretor espiritual era o Padre João
Pessiri, que a colocou em contato com uma Terceira Professa Alcantarina, Maria
Felícia. Ambas passaram a viver numa casa do piedoso Padre Pessiri; Maria
Francisca ali permaneceu por 38 anos, até a sua morte. Ela viveu no mundo
secular, comportando-se como religiosa.
O edifício logo tomou o nome de convento
por ser a casa das Irmãs Terceiras, mas a moradia não tinha sido construída com
esta finalidade, e ainda hoje mantém a característica de uma cômoda habitação
de três andares para uma família, alguns dos quais foram modificados em Capela
e obras anexas. Aquela casa tornou-se meta continua de fiéis, entre os quais
São Francisco Xavier Bianchi, de quem ela predisse a santidade.
Dons sobrenaturais
Maria Francisca tinha frequentes êxtases
quando estava em oração. A Santíssima Virgem lhe aparecia e lhe trazia
mensagens. O demônio também se apresentava em forma de um cão raivoso que a
aterrorizava. Ela descobriu que ao fazer o Sinal da Cruz e ao pronunciar os
nomes de Jesus, Maria e José o demônio fugia. Este foi o conselho que ouviu um
dia de um crucifixo: "Quando os
ataques do inimigo das almas te assaltarem, faça o Sinal da Cruz e, além de
invocar as três Pessoas Divinas da Santíssima Trindade, deves dizer várias
vezes: 'Jesus, José e Maria'".
Um dia em que varria a sacristia, ouviu
uma voz que lhe dizia: "Maria
Francisca, fuja, saia rápido daqui!" Ela saiu correndo e minutos
depois o teto da sacristia desabou!...
Ao rezar a Via Sacra, ela sofria algumas
dores parecidas com as que Jesus sofreu no Horto das Oliveiras, na Flagelação,
na Coroação de Espinhos, ao levar a Cruz e ao ser crucificado. A cada
Sexta-feira Santa entrava em agonia como se estivesse morrendo na Cruz. Tudo
isto Maria Francisca oferecia pela conversão dos pecadores e pelo descanso das
almas do Purgatório. As pessoas diziam: "Maria Francisca livra sozinha mais almas do Purgatório com seus
sofrimentos que todos nós com nossas orações".
Um dos fenômenos mais extraordinários desta
Santa acontecia durante a Comunhão. Três vezes a Santa Hóstia voou e pousou em
seus lábios! Uma vez, quando o sacerdote disse "este é o Cordeiro de Deus", a Hóstia que ele tinha nas mãos
saiu voando e foi colocar-se na boca da Santa. Outra vez, voou do Cálice, e uma
terceira vez, quando o sacerdote partia a Hóstia grande, um pedaço dela voou
até a fervorosa Santa, que aguardava ajoelhada o momento de comungar.
No Natal de 1741, o Menino Jesus lhe
falou: "Quero que sejamos amigos
para sempre". Foi tão grande a emoção dela ao ouvir Nosso Senhor, que
ficou cega por 24 horas. Recobrou a visão e dedicou-se a amar a Jesus e a
fazê-Lo amar pelos outros.
As Cinco Chagas de Jesus apareceram em seu
corpo, mas, a seu pedido, Deus as tornou invisíveis, mantendo as dores que
causavam. Sua saúde era frágil e as doenças a faziam sofrer enormemente. Quando
seu pai estava moribundo, ela pediu que Deus passasse para ela as dores que o
pobre homem padecia, o que aconteceu. Com estes sofrimentos ela alcançou a conversão
de seu pai e de muitos pecadores. Em sonhos ela via várias almas do Purgatório
que lhe suplicavam que oferecesse seus sofrimentos por elas e a Santa assim
fazia.
Sacerdotes, pessoas religiosas e piedosas
procuravam-na em busca de conselho. Sua caridade e compaixão, sobretudo com os
aflitos e miseráveis, não teve limites. Como São Francisco de Assis, Santa
Maria Francisca tinha uma terna devoção ao Menino Jesus, a Santa Eucaristia e a
Virgem Maria.
Muitas pessoas a tratavam mal e ela
oferecia com paciência estes maus tratos rezando por aqueles que a ofendiam e
tratando bem aqueles que a tratavam mal. As pessoas murmuravam contra ela, que,
porém, calava para assemelhar-se a Jesus que calou em Sua Paixão. A Santa
sofreu muita incompreensão por parte do pai, das irmãs e, inclusive seus
confessores a fizeram sofrer, pois, para provar sua santidade a tratavam com
severidade na direção espiritual.
Maria Francisca disse um dia ao seu
confessor: "Sofri em minha vida tudo
o que uma pessoa pode sofrer. Porém, tudo foi por amor de Deus". E
acrescentou: "Padre, sejam muito
bondosos com as pessoas que vêm vos consultar. Não sejam duros com ninguém".
Anunciou que em breve viriam sofrimentos
terríveis para a Igreja Católica. E realmente as ferozes perseguições da
Revolução Francesa em breve ceifariam milhares de vidas de católicos. Ela pediu
a Deus que não permitisse que ela presenciasse aqueles desastres. E ela morreu
santamente quando eles estavam começando, no dia 6 de outubro de 1791.
Uma grande multidão participou de seu
funeral e seu corpo repousa no Santuário - Casa da Santa, em Vico Tre Re. Foi
beatificada em 12 de novembro de 1843 por Gregório XVI e canonizada em 29 de
junho de 1867 pelo Beato Pio IX. Foi a primeira Santa napolitana. Sua festa é
observada pelos Frades Menores e pelos Capuchinhos.
Há dois séculos o povo acorre pedindo-lhe
graças, como atestam duas lápides no exterior da capela. A segunda diz respeito
à 2ª Guerra Mundial, durante a qual Nápoles foi bombardeada 105 vezes, mas os
"quarteirões" e sua densa população foram poupados. Na capela há
ainda uma cadeira usada pela Santa, procurada pelas senhoras, especialmente
aquelas que devotamente desejam um filho, que nela sentam-se pedindo graças
(*).
Fontes:
Ferdinand Heckmann,
http://ec.aciprensa.com/m/mariafrances.htm; Antonio
Borrelli, www.santiebeati.it;
Ciclo Santoral, ar.geocities.com/misa_tridentina.
(*)
05 de dezembro, 2007 - 12h23 GMT
(10h23 Brasília)
Cadeira na Itália 'ajuda mulheres
a ter filhos'; assista.
Uma cadeira que pertenceu a Santa Maria
Francisca está atraindo mulheres de todo o mundo para a cidade italiana de
Nápoles.
As fiéis acreditam que o objeto é capaz do
milagre de ajudá-las a ter filhos.
Em um ritual, elas se sentam na cadeira e
são tocadas na barriga por uma freira com um objeto que carrega uma costela e
um cacho de cabelo da santa. A freira, Madre Giuliana, diz que é a fé que dá às
mulheres a capacidade de conceber um bebê.
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