Em
nenhum lugar o Natal era comemorado com tanto fervor quanto na corte austríaca.
A véspera de Natal era uma festa dupla, como também era o aniversário de
Elizabeth.
Havia sempre duas árvores de Natal, uma no
dia 23 de dezembro, que a pequena arquiduquesa decorava com as próprias mãos
para uma centena de crianças pobres selecionadas dentre seus protegidos
especiais, e uma no dia 24 para a família imperial. Os grandes abetos brilhando
com nozes de prata e ouro, maçãs de bochechas rosadas, e miríades de pequenas
luzes para iluminar os milhares de brinquedos bonitos, eram coisas para
admirar.
Às quatro horas da tarde do dia 23, a
árvore das crianças pobres era iluminada no Rittersaal, a esplêndida galeria de
teto alto e arqueado, onde havia vitrais, tapeçarias flamengas de valor incalculável,
cortinas de veludo vermelho e grandes escudos de metal esmaltado, cobertos por
finas esculturas. Cada quadro e espelho, cada uma das duas fileiras de sombrias
armaduras que ficavam de cada lado do longo "Saal", eram enfeitados
com visco e azevinho. Guirlandas de rosas de Natal e gotas de neve salpicavam
as grinaldas de hera dispostas graciosamente em todos os cantos disponíveis. No
piso da gigantesca lareira troncos aromáticos queimavam, acrescentando seu
suave brilho às chamas deslumbrantes das velas na árvore de Natal.
Quando os lacaios, em suas librés, abriam
as portas e os pesados pórticos, a tropa de crianças encasacadas, admitidas às
delícias dignas do Paraíso, faziam uma reverência, mas sem timidez - pois
sabiam que eram amadas lá e bem-vindas também - depois se aproximavam em fila:
os meninos à direita e as meninas à esquerda.
A Arquiduquesa Valéria era uma imagem
encantadora de se ver enquanto avançava em direção a eles, um sorriso alegre em
seus lábios e suas pequenas mãos cheias de pacotes enfeitados, como uma pequena
fada pronta para distribuir seus pródigos presentes. Cada criança recebia
roupas quentes, botas, bonés, lenços, lingerie de lã, luvas revestidas de peles
e brinquedos, para não falar das guloseimas, como "Mutzerl", chamados
de bombons de todos os tipos.
As crianças felizes expressavam seu êxtase
por meio de pulos e gritos de alegria, tão desinibidos como se estivessem em
suas próprias casas e não dentro das paredes do palácio imperial. Quando o
ruído diminuía um pouco, a Arquiduquesa invariavelmente pedia, como sua
recompensa, para ouvi-los cantar o "Hino do Kaiser". Por um minuto todos
ficavam quietos, então a grande melodia ondulava sob os tetos altos, as vozes infantis
ressoavam como a canção de cem cotovias excitadas pela mera alegria de viver.
Quando esses alegres sons mais uma vez se silenciavam, as portas do Rittersaal eram
abertas, revelando um grande salão onde uma festa substanciosa fora preparada.
Ah! como todos esses olhos infantis se dilatavam
de surpresa ao ver as longas mesas cobertas de enormes assados, carne de veado,
ótimas ervas, perus trufados e enormes pilhas de sanduíches delicadamente
cortados. Maravilhosos bolos cheios de frutas confeitadas, chuva de bombons em
grandes conchas de prata, pirâmides de uvas e pêssegos, peras, laranjas e
abacaxis, completavam este conjunto esplêndido, por cima do qual flutuavam os
delicados aromas de chá, café, chocolate e caldo de legumes.
Mais tarde, quando as crianças felizes se
despediam, seus pequenos estômagos bem preenchidos e as pequenas mãos
sobrecarregadas de presentes, Valéria tinha um outro dever, igualmente
agradável para ela. O prefeito de Viena, quando o Natal era passado naquela
metrópole austríaca em vez de Gödöllö, como sempre era o caso, era convocado
para Hofburg e recebia um pequeno portfólio contendo a oferta de Natal do casal
imperial para os hospitais da cidade, dez mil florins e uma pedido para frutas,
charutos, papéis ilustrados e revistas, bem como uma quantidade de flores ...
Marguerite
Cunliffe-Owen, The Martyrdom of an Empress (New York: Harper & Brothers,
Publishers, 1902), pp. 86-88.
Short Stories on
Honor, Chivalry, and the World of Nobility—no. 241
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