Se é difícil praticar a virtude no auge da glória temporal, também o é em meio às maiores tribulações. Santa Adelaide soube manter, em ambas circunstâncias, uma firmeza na virtude, que faz dela não só uma grande Santa, mas também uma grande Imperatriz.
Aos 16 anos casou-se com Lotário, filho do rei da Itália. Preparou-se para receber o sacramento do matrimônio com orações, esmolas e boas obras. E levou para o novo lar, como seu maior ornamento, sua piedade e virtude.
Adelaide sabia que o bom sucesso de um casamento depende em geral da esposa, que pode influenciar muito o marido. Por isso, procurou adaptar-se ao caráter de Lotário, passando por cima de suas manias e mau gênio, para conviver com ele na mais perfeita harmonia. Uma filha, a que deram o nome de Ema, veio alegrar-lhes o lar.
Santidade na tragédia e no triunfo
Quando tudo parecia sorrir-lhes, eis que a mão do infortúnio bate por vez primeira às suas portas: o marido perde o trono e a vida. O usurpador, Berengário II, de Ivrea, quis forçar Adelaide a casar-se com seu filho, para legitimar a usurpação. Ela recusou-se, e foi por isso aprisionada no castelo de Garda, às margens do lago de mesmo nome. Assim, de um momento para o outro, tendo apenas 19 anos, a rainha perdia marido, Estados, e até a filha, que lhe foi arrebatada por Berengário para forçá-la a ceder.
“Deus me deu, Deus me tirou; bendito seja Ele”, repetia Adelaide em meio à sua dor, beijando a mão divina que a atingia, como outrora o Patriarca Jó. E procurou não perder a serenidade nem a fé na Providência Divina.
Sta. Adelaide e seu esposo Otão I |
Na corte, Adelaide tem a alegria de encontrar-se com a rainha-mãe, Santa Matilde, também modelo de virtude e santidade, que muito a ajudou com sua experiência no trono e na piedade.
Liberalidade para com a Religião e necessitados
À medida que sua fortuna aumentava, Adelaide aumentava também suas liberalidades para com os necessitados. Socorria principalmente as viúvas, os órfãos e os anciãos. O dinheiro que seu marido lhe dava para joias e toalete, empregava-o em pagar dívidas de infelizes, fornecer roupa aos miseráveis e proporcionar-lhes um local digno para viverem. Quanto a si, vestia-se segundo a modéstia cristã, porque temia que, por frivolidade no vestir, pudesse vir a ser causa de pecado ou escândalo para outros.
Retirou de seus aposentos todos os objetos supérfluos, e neles colocou outros religiosos e que incentivassem a virtude.
Esse seu modo de ser, que causava admiração aos bons, foi objeto de calúnia dos maus; diziam que ela queria transformar o palácio em mosteiro, e que melhor seria que se fizesse monja. Adelaide não se importava com o julgamento dos homens.
Elevado modelo de rainha e mãe
Depois de dar à luz dois filhos, que morreram em tenra idade, nasceu-lhe o terceiro, a quem foi dado o nome de Oton, como o pai, e que seria o futuro Oton II. Adelaide levou-o à capela e o ofereceu a Deus, dizendo que, caso ele viesse a ser mais tarde vítima do pecado e da sedução do mundo, ela consentia voluntariamente em sua morte.
Ela mesma foi sua educadora, auxiliada pelo cunhado, São Bruno, Arcebispo de Colônia, e pelo Pe. Gerbert. Eles se esforçavam em incutir no jovem príncipe uma grande submissão à Igreja, como Mãe e Mestra da Verdade, e a sempre defendê-la, se necessário com armas. A Imperatriz frequentemente levava também seu filho, em suas visitas aos pobres e aos doentes, para que ele se tornasse assim sensível às misérias de seus futuros súditos.
Oton I tivera, de sua primeira esposa, um filho e uma filha. O filho, Luidolf, de caráter violento e orgulhoso, logo ficou com ciúmes de seu meio irmão, julgando que poderia tornar-se seu rival no trono. Uniu-se assim aos duques da Baviera e da Lorena para destronar o pai. Este os derrotou e os entregou a um tribunal de guerra para serem julgados por sua felonia. Adelaide tudo fez, inclusive recorreu à intercessão do Bispo de Augsburgo, Santo Ulrico, para obter perdão para o enteado rebelde, enquanto redobrava as orações e boas obras nessa intenção. Enfim, teve a felicidade de ver pai e filho reconciliados.
Aléssia, filha do primeiro casamento de Oton, foi também causa de tristeza e apreensão para o pai. Levando vida dissipada, fugiu de casa, indo para a Itália. Mas caiu em si, arrependendo-se de seus erros. Temendo a justa ira do pai, fez chegar à Imperatriz, cuja bondade era proverbial, uma súplica para ser sua defensora junto a Oton. “Adelaide acompanhou essa missão com tanta demonstração de amor e pôs tanta candura em seu pedido, que desarmou a ira do Imperador, obtendo que Aléssia fosse chamada de volta; teve a felicidade de vê-la expiar, com lágrimas de sincero arrependimento, suas tão funestas faltas”3.
Regente do Império, novas perseguições
Oton confiou à sua esposa uma parte da administração e trabalhos do Império e a deixou como regente durante uma campanha na Itália. Adelaide aproveitou para fundar muitos mosteiros e ajudar outros existentes. Escolheu como seu diretor de consciência Santo Adalberto, Arcebispo de Magdeburgo, e sob sua direção fez muitos progressos na virtude. Ela vivia em boa inteligência com seu marido, sempre a ele submissa, nada empreendendo sem seu consentimento. Por suas atenções e amabilidade, ela sabia aligeirar o fardo que ele tinha que carregar.
Por isso o falecimento do Imperador, em 973, provocou em sua esposa profunda dor.
Oton II quis que sua mãe, que não contava senão 42 anos, o auxiliasse na regência do Império. Mas aos poucos foi sendo influenciado por sua esposa Teofania, ciumenta e ambiciosa, que não queria compartilhar com a sogra a influência sobre o marido. Este foi se tornando cada vez mais frio com sua mãe, até o ponto de não tolerar mais seus avisos e conselhos. A Imperatriz-mãe caiu em desgraça, pois logo os cortesãos aduladores tomaram o partido do filho contra a mãe. Adelaide resolveu partir e ir viver com seu irmão Conrado, Rei da Borgonha, que a recebeu com as honras devidas à sua alta posição.
As pazes foram feitas entre mãe e filho, por mediação de São Maiolo, abade de Cluny. Oton, entretanto, faleceu repentinamente aos 29 anos, e Adelaide foi chamada novamente para exercer a regência em favor de seu neto, Oton III. Contudo, Teofania continuou suas perseguições à sogra, que só terminaram quando a morte, vista por muitos como punição divina, a levou deste mundo.
Caridade autêntica e zelo apostólico
Adelaide era muito amada por seus súditos, e lembrava a eles a grandeza do tempo de Oton I. Ela aproveitava essa popularidade para ir ao encontro dos necessitados e para fundar conventos e mosteiros, que via como fontes de sabedoria e santidade. Nos seus tempos livres, confeccionava paramentos sacerdotais e alfaias para os altares das igrejas pobres.
Dedicou-se também à conversão dos povos ainda pagãos, despendendo grandes quantias para enviar missionários que levassem a luz de Jesus Cristo àqueles que estavam ainda longe da verdadeira Fé.
Assim foi até que seu neto Oton III, chegando à maioridade, também se mostrou ingrato para com ela, levando-a a afastar-se novamente da corte. Visitou a abadia de Cluny, cujo abade Santo Odilon ficou tão impressionado com suas virtudes, que se tornaria depois seu biógrafo.
Pacificadora de famílias
Sua filha Ema, tornada rainha da França, foi ao seu encontro com seu esposo, pedindo-lhe que se fixasse em Paris. Mas ela queria primeiro fazer algumas peregrinações, e sobretudo reconciliar seus sobrinhos, que disputavam o reino da Borgonha.
Sua saúde, entretanto, estava muito abalada pelos contínuos sofrimentos. E faleceu junto à Abadia de Seltz, assistida pelos monges beneditinos, em 16 ou 17 de dezembro de 999, na idade de 68 anos4.
1.Pe. José Leite, S.J., “Santos de Cada Dia”, Editorial A.O., Braga, 1987, vol. III, p. 452.
— Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, vol. IV, pp. 523-529.
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