segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Beata Alix (Alice) Le Clercq, Cofundadora - 9 de janeiro

     
     Uma das grandes obras da Contrarreforma foi ter começado a preocupar-se com a educação das meninas. Em 1535, Santa Ângela de Merici fundou a Congregação das Ursulinas com este fim. Santa Joana de Lestonnac fundou, em 1606, a Congregação das Religiosas de Nossa Senhora. Por sua vez, São Pedro Fourier fundou as Canonisas Regulares de Santo Agostinho da Congregação de Nossa Senhora, obra na qual Alix Le Clercq cooperou como cofundadora.
     Alix nasceu em Remiremont, ducado de Lorena, em 1576. Sua família ocupava uma posição de destaque, mas pouco se sabe da vida de Alix até os dezessete anos. Era então uma jovem alta e bela, loura, de constituição delicada, atraente e inteligente. Outro relato, escrito por ela mesma, nos informa que se distinguia na música e na dança, que era muito popular e que tinha muitos admiradores. Alix deixa entender que se envaidecia com isto, o que é provável. Entretanto, lembremo-nos que os santos tendem a exagerar seus defeitos.  Por outro lado, Alix demonstra que não deixava de ter seriedade: “Em meio a tudo isto, meu coração estava triste”. Pouco a pouco a frivolidade de sua vida se lhe tornou insuportável.
     Aos dezenove anos um primeiro sonho veio mudar sua vida. Ele se viu em uma igreja, próximo do altar, a seu lado se encontrava Nossa Senhora vestida com um hábito religioso desconhecido, que lhe fala: "Vem, minha filha, que eu mesma vou te dar as boas-vindas".
     Pouco tempo depois, a família Le Clercq foi morar em Hymont. Ali a jovem encontrou São Pedro Fourier, que era vigário de uma paroquia de Mattaincourt, nas redondezas. Um dia em que assistia à Missa nessa paroquia, Alix ouviu um ruído de tambor e viu o demônio que fazia os jovens dançar “ébrios de alegria". Nesse instante se deu a conversão de Alix, que nos disse: "Ali mesmo resolvi não me misturar com semelhante companhia".
     Alix trocou seus vestidos finos pelas roupas das camponesas, e pouco saía de sua casa. Sob a prudente direção de São Pedro Fourier, procurou descobrir qual a vontade de Deus a seu respeito, o que lhe causou grandes sofrimentos espirituais. Tanto seu pai como São Pedro Fourier aconselharam que ela entrasse em um convento. Ao que ela não concordou, pois em um sonho lhe fora revelado que não existia nenhuma forma de vida religiosa adaptável à sua vocação.
     Alix confiou a São Pedro Fourier que estava obcecada pela ideia de fundar uma congregação ativa. Este se mostrou cético, mas a aconselhou procurar outras jovens que compartilhassem de suas ideias, coisa muito difícil em um povoado afastado. Alix, porém conseguiu encontrar companheiras.
     Na Missa de Natal de 1597, Alix Le Clercq, Ganthe André, Isabel e Joana de Louvroir se consagraram publicamente a Deus. Quatro semanas depois, São Pedro Fourier convenceu-se de que elas eram chamadas a fundar uma comunidade sob sua direção. Alix recebeu o nome de Irmã Maria Teresa de Jesus Le Clercq.
     Uma solução inesperada: a quatro quilômetros de Mattaincourt havia uma abadia de canonisas seculares. Era uma comunidade de ricas e aristocráticas damas que levavam uma vida conventual. Uma dessas senhoras, Judith d'Apremont, decidiu proteger Alix e suas três companheiras dando-lhes para morar uma casinha em suas propriedades. As jovens se instalaram ali na véspera de Corpus Christi de 1598. Ao terminar um retiro, declararam unanimemente a São Pedro Fourier que se sentiam chamadas a fundar uma nova congregação, já que esta era a vontade de Deus para elas. A finalidade do novo instituto era "ensinar as meninas a ler, a escrever e a costurar, mas sobretudo a amar e servir a Deus". A esta santa ocupação elas deviam se dedicar, sem distinguir entre pobres e ricos, e sem cobrar nem um centavo, "porque isto agrada mais a Deus".
     Em 1601, São Pedro Fourier e a Beata Alix fundaram uma segunda casa em Mihiel, seguida pelas de Nancy, Pont-à-Mousson, Saint-Nicolas du Port, Verdún e Chalons. Esta última, estabelecida em 1613, foi a primeira fundação fora da Lorena.
     Alix e uma das companheiras foram enviadas por São Pedro a um convento das Ursulinas de Paris para que se documentassem sobre a vida monástica e os métodos de ensino.
     Em 1616, duas bulas da Santa Sé concederam afinal a desejada aprovação da congregação. Com base nisto, o Bispo de Toul aprovou as Constituições. Pela primeira vez treze religiosas vestiram o hábito que a Virgem revelara na visão a Alix, e iniciaram o ano de noviciado.
     Como as bulas papais somente mencionassem o convento de Nancy, a Beata Alix teve que renunciar ao cargo de superiora da Congregação a favor da Madre Ganthe André, “sem a qual, explica São Pedro Fourier, nossa congregação não teria podido ser fundada”, apesar de Madre André e de Alix não estarem de acordo sobre a organização.
     Além desta provação, a beata atravessava um período de crise espiritual conhecido por “noite escura da alma”. Atualmente lhe é reconhecido o título de cofundadora das Canonisas de Nossa Senhora, mas isto não acontecia durante sua vida e São Pedro Fourier era o primeiro a negar a ela este título, “para mantê-la em seu lugar”.
     Em 1621, a Beata obteve permissão para renunciar ao cargo de superiora local de Nancy, pois estava doente já há algum tempo. Os médicos a declaram incurável, diagnóstico que desconsolou toda Nancy, desde o duque e a duquesa da Lorena até as alunas e os mendigos.
     São Pedro Fourier foi para Nancy e a ouviu em confissão e a preparou para a morte. Alix se despediu solenemente da comunidade no dia da Epifania, exortando suas religiosas ao amor e a união. O desfecho chegou no dia 9 de janeiro de 1622, depois de uma longa agonia. A Beata não havia feito 46 anos de idade.
     Logo todos a aclamaram como santa e imediatamente se começou a recolher testemunhos para introdução de sua causa, mas a guerra impediu que o processo fosse adiante e ela somente foi beatificada em 1947.
     Em 1666, o convento de Nancy publicou uma vida da Beata Alix Le Clercq, que é na realidade uma coleção de documentos valiosos sobre a beata. O bispo de Saint-Dié introduziu, em 1885, a causa de beatificação, baseando-se em um exemplar dessa biografia que havia caído em mãos do Conde Gandélet. A primeira biografia propriamente dita foi publicada em Nancy em 1773; existe o manuscrito de outra, escrita em 1766; em 1858 veio à luz outra biografia, e a partir de então se multiplicaram os livros sobre a Beata.
     Há ainda a mencionar as vidas de São Pedro Fourier, escritas por Bedel (1645), Dom Vuillemin (1897), e o Pe. Rogie. O autor do prefácio da biografia inglesa da Beata Alix, fala dos excelentes métodos de educação empregados pelas canonisas. São Pedro Fourier ensinava pedagogia a suas religiosas.

     Madre Maria Teresa de Jesus Le Clercq foi beatificada em 1947 por Pio XII.

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