quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Santa Ivete de Huy, Viúva, Reclusa - 13 de janeiro

   
     Os séculos XII e XIII foram marcados em Liége por uma rica energia espiritual, pelo envolvimento das religiosas que se dedicavam a Deus em reclusões ou em beguinatos. Entre elas, Ivete (ou Juette) de Huy, Juliana de Liège ou Eva de São Martinho.
     A vida de Santa Ivete chegou até nós através de seu confessor e biógrafo, um cônego chamado Hugo de Floreffe (Floreffe era uma abadia norbertina, na Diocese de Namur), que escreveu a vida de Santa Ivete por volta de 1230 em latim medieval. Ele também escreveu a vida de Santa Ida de Nivelles e de Santa Ida de Leuwe, religiosa da Ordem de Cister no Brabante.
     Ivete nasceu em 1158, em Huy, Bélgica, em uma família de classe média alta, seu pai era administrador dos bens do bispo de Liège, na região de Huy.
     A partir da idade de 12 anos Ivete manifestou o desejo de consagrar-se a Deus. Apesar disso e, de acordo com um costume muito difundido na época, com a idade de 13, incapaz de opor-se, foi dada em casamento a Henry Stenay, filho de um grande cidadão de Huy. Nada preparada para o casamento, Ivete abominava a vida conjugal e odiava o marido. Levou tempo para superar essa crise e voltar a sentimentos mais equilibrados. Ela aceitou a legitimidade das demandas de seu marido, e ainda conseguiu amá-lo. Ivete teve três filhos, dos quais um morreu pouco tempo depois de batizado.
     Após cinco anos, seu marido morreu deixando-a, aos 18 anos, viúva com dois filhos. Era ainda jovem e bonita e seu pai tenta casá-la novamente. Mas desta vez Ivete, adulta, estava bem determinada a seguir o caminho da consagração a Deus. Ela não cedeu. Seu pai, um parente do bispo de Liège, Raoul Zähringen, leva-lhe a viúva teimosa. Ivete, intimidada perante o tribunal do bispo, fica silenciosa. Raoul, em seguida, ouviu-a em uma audiência particular. Ivete pede-lhe apoio a sua causa e seu desejo de ser totalmente entregue a Deus; o bispo lhe dá razão. Seu pai teve que ceder.
     Em seguida, dedicou-se à educação de seu filho e da prática da caridade. Sua generosidade é bem conhecida: pobres, peregrinos e viajantes eram abrigados por ela. Ela anunciou que em breve deixaria o mundo. Ela faz arranjos para garantir o futuro de seus filhos e se retirou para um leprosário malconservado. Na idade de 24, continuando seu caminho espiritual, Ivete se coloca ao serviço dos leprosos em uma colônia de leprosos em Statte, nas colinas da cidade de Huy.
    Durante dez anos ela se dedicou de corpo e alma ao cuidado destes excluídos sem descurar qualquer esforço. Aspirando a ser unida a Cristo, negligencia todas as precauções; ela estava mesmo disposta a ser atingida pela lepra, para uma melhor identificação com Cristo.
     Uma vida tão prodigiosa causa admiração. As pessoas vêm pedir-lhe conselhos, pedindo sua intercessão. Um grupo de fieis e discípulos se reúne em torno dela.
     Por volta de 1191, ela ainda aumentaria mais a penitência: aos 34 anos, Ivete foi fechada em uma cela, em Statte, da qual ela não sairia jamais. Do alto da colina, ela era como um anjo da guarda de Huy. Na véspera da sua entrada no isolamento, ela recebeu uma grande graça: a conversão de seu pai, que até então fizera de tudo para desviá-la de sua extraordinária vocação. Ele foi tocado pela graça e se converteu. Como ele era viúvo, ingressou na abadia cisterciense de Villers-en-Brabant. Ele é recordado como Beato Otto de Villers.
     Os discípulos aumentam e as esmolas também. Ivete não se esqueceu de seus filhos. O primeiro entrou na Abadia de Orval, da qual seria abade. O segundo levava uma vida desregrada. Muitas vezes Ivete o chama para ralhar e fazê-lo voltar aos trilhos. Ele promete se emendar, promessa não cumprida. Ivete finalmente ordenou-lhe deixar a região, porque era motivo de grande escândalo. Ele se converteu mais tarde e também se tornou monge cisterciense na Abadia Trois-Fontaines.
     De acordo com seu biógrafo, Ivete recebeu dons místicos, especialmente o de ler as consciências. O número de seus seguidores foi aumentando, mas também fez com que a suas previsões causassem descontentamentos, porque ela dizia em voz alta o que queriam esconder.

     Com a esmola recebida, a reclusa de Huy construiu um hospital para leprosos com uma grande igreja. Ela dirigia a construção a partir de sua cela. Várias jovens se agruparam em torno dela e se tornaram suas discípulas.
     Ivete morreu em sua cela no dia 13 de janeiro de 1228 aos 70 anos de idade. Imediatamente grande veneração e um culto a ela se desenvolveu. Devido à grande veneração por ela, muitos fiéis exigiram o reconhecimento da santidade do “anjo da guarda de Huy”. Embora uma aprovação formal nunca tenha existido, ela é venerada ainda hoje como santa.
     Ela é emblemática de um movimento místico feminino que floresceu na Idade Média, que já contava com Maria de Oignies, Hildegarda de Bingen, ou Ida de Nivelles.

Fonte: https://fr.wikipedia.org/wiki/Ivette_de_Huy

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      A lepra foi particularmente temida. Surtos da doença tinham aparecido na Gália, no século IV, transmitida por contatos com o Oriente. Os pacientes viviam separados e inspiravam terror. Eles tinham que sinalar sua passagem por meio de um guizo para que as pessoas se afastassem deles. Eles viviam em leprosários, criados a partir do século VIII, quando a doença se tornou endêmica. Localizados fora das cidades, cabanas ou barracas eram colocadas perto de um rio, porque os banhos eram considerados saudáveis, serviam de habitação para os leprosos que trabalhavam como fazedores de corda, escorchavam animais ou eram coveiros.
    Somente indivíduos com forte inspiração religiosa encontravam nela recursos para tratar daquelas pessoas consideradas afetadas por castigo divino. Assim São Martinho não hesitou em tocá-los, bem como reis como Roberto, o Piedoso e São Luís IX.
     A doença afetou todos os estratos sociais; o leproso era considerado o infeliz por excelência. Por vezes, outras doenças da pele eram assimiladas à lepra.
     São Julião o Hospitaleiro criando leprosários era o exemplo do santo que vinha em auxílio de seu próximo do qual todo mundo se afasta. Cavaleiros afetados pela doença, não hesitam em entrar nas Ordens Hospitaleiras para cuidar dos outros leprosos. Muitas vezes os leprosários (ou lazaretos) eram administrados pelos próprios leprosos. Chamados Irmãos Donatos, porque dados a Deus, eles deviam em princípio viver sujeitos à regra da Ordem. Se ele era casado, o Irmão tinha que deixar o leprosário, e perdia os lucros decorrentes da gestão da propriedade comum.
     A endemia foi particularmente forte no Ocidente nos séculos XI e XII (regresso das Cruzadas), por vezes atingindo dois por mil habitantes. Foi neste momento que a exclusão dos leprosos foi a mais viva e que a hostilidade popular foi mais violenta. A grande peste no século XIII diminuiu a lembrança, no século XIV a lepra diminuiu. Os últimos leprosários desapareceram no final do século XV e na virada do século XVI.

     Santa Alpais, contemporânea de Santa Ivete, cuja vida também foi ligada à lepra pode ser vista em: http://ut-pupillam-oculi.over-blog.com/article-13537351.html

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