Armando
Gimenez (*)
Das figuras bíblicas mais intimamente
ligadas à tradição religiosa do povo destacam-se os Reis Magos, ou melhor, os
Santos Reis, uma vez que a hagiologia romana considera-os bem-aventurados.
O simbolismo dos Reis Magos é amplo e
emprestam-lhes os exegetas as mais diversas interpretações. Estão ligados
intimamente às festas do Natal e deles nasceu, praticamente, a tradição do Papai
Noel, pois os presentes dados nessa ocasião reproduzem que os magos do Oriente,
depois de cumprida a rota que lhes indicava a estrela de Belém, prestaram a
Jesus na gruta onde ele nascera.
As referências bíblicas são vagas e o
episódio quase passa despercebido dos evangelistas, mas as contribuições da
tradição patriática são muitas e, como elas têm força de fé e verdade, nelas
devemos buscar grande parte das coisas que se contam dos santos Belchior,
Gaspar e Baltazar já referidos pelos profetas do Velho Testamento, que
vaticinavam a homenagem dos Reis ao humilde filho de Davi que deveria nascer em
Belém.
De onde vieram e o que buscavam pouca
gente sabe. Vinham do Oriente e Baltazar, o mago negro talvez viesse de Sabá
(terra misteriosa que seria o sul da Península Arábica ou, como querem os
etíopes, a Abissínia). Simbolizam também as três únicas raças bíblicas, isso é,
os semitas, jafetitas e camitas. Uma homenagem, pois, de todos os homens da
Terra ao Rei dos Reis.
Eram magos, isto é, astrólogos e não
feiticeiros. Naquele tempo a palavra mago tinha esse sentido, confundindo-se
também com os termos sábio e filósofo. Eles perscrutavam o firmamento e
sentiram-se perplexos com a presença de um novo astro e, cada um deles,
deixando suas terras depois de consultar seus pergaminhos e papiros cheios de
palavras e fórmulas secretas, teve a revelação de que havia nascido o novo Rei
de Judá e, que ele, como soberano, deveria, também, prestar seu preito ao
menino que seria o monarca de todos os povos, embora o seu Reino não fosse
deste mundo.
O simbolismo dos presentes
Conta ainda a tradição que, ao chegar a Jerusalém,
indagaram os Magos onde havia nascido o novo Rei de Judá. Essa pergunta
preocupou Herodes, que hoje seria considerado um quisling a serviço dos romanos, e que reinava na Judéia.
Os representantes do Império
preocupavam-se com o aparecimento de um novo líder do povo de Israel. A revolta
dos Macabeus ainda não fora esquecida e o povo oprimido esperava, ansioso, pela
vinda do Messias que iria libertar o Povo de Deus e cumprir a palavra do
salmista: "Disse o Senhor ao meu
Senhor: senta-te à minha direita até que ponho os teus amigos como escabelo aos
teus pés".
Os magos procuram – conforme conselho de
Herodes – o novo Rei para render-lhe homenagem e para informar o representante
romano do lugar onde nascera o Messias a fim de, com falso preito,
sequestrá-lo.
No presépio encontramos apenas os animais
e os pastores e, inspirados pelo Espírito Santo, curvaram-se diante do filho do
carpinteiro de Nazaré e depositaram, ao pé da manjedoura que lhe servia de
berço, os presentes: ouro, incenso e mirra, isto é prendas que simbolizavam a
realeza, a divindade e a imortalidade do novo Rei, e grão de areia que
cresceria e derrubaria o ídolo de pés de barro (símbolo das grandes potências
que se sucederam no domínio do mundo), do sonho de Nabucodonosor decifrado pelo
profeta Daniel.
Símbolos da humildade
Na tradição cristã os três Reis Magos
simbolizavam os poderosos que deveriam curvar-se diante dos humildes na
repetição real do canto da Virgem Maria à sua prima Isabel, o
"Magnificat", pois sua alma rejubilava-se no Senhor, que exaltaria os
pequenos de Israel e humilharia os poderosos.
A igreja cultua os Reis Magos dentro desse
simbolismo. Representam os tronos, os potentados, os senhores da Terra que se
curvaram diante de Cristo, reconhecendo-lhe a divina realeza. É a busca dos
poderosos que veem em Belchior, Gaspar e Baltazar o exemplo de submissão aos desígnios
de Deus e que devem, como os magos, despojar-se de seus bens e depositá-los aos
pés dos demais seres humanos, partilhando sua fortuna como dignos despenseiros
de Deus.
Os presentes de Natal também têm esse
sentido. São as ofertas dos adultos à criança que com a sua pureza representa
Jesus. Alguns, dão a essas festas um sentido mitológico pagão, buscando nas
cerimônias dos druidas, dos germânicos ou saturnais romanas a pompa das festas
natalinas que culminam com a Epifania.
A Bifana
A palavra epifania, usada também como nome
de mulher, deu origem a uma corruptela dialetal do sul da Itália, levada depois
a Portugal e Espanha, a Bifana. A Bifana, segundo a lenda, era uma velha que,
no dia de Reis, saía pelas ruas das cidades a entregar presentes aos meninos
que tivessem sido bons durante o ano que findara. Estava intimamente ligada às
tradições dos povos mediterrâneos e mais próxima do significado litúrgico das
festas natalícias. Os presentes eram somente dados no dia 6 de janeiro e nunca
antes. Tanto assim é, que nós mesmos, no Brasil, na nossa infância, recebíamos
os presentes nesse dia. Depois, com a influência francesa e inglesa em nossas
tradições a Epifania ou Bifana foi substituída pelo Papai Noel, a quem muitos
estudiosos atribuem uma origem pagã e outros, para disfarçar o sentido
comercial da sua presença no dia de Natal, confundem com São Nicolau.
Hoje, os Santos Reis já não são lembrados.
O presépio praticamente não existe e só neles é que podemos ver os Magos de
Oriente apresentados. A árvore de Natal, pinheiro que os druidas enfeitavam
para agradar o terrível deus do inverno Hell, substituiria a representação do
nascimento de Jesus, introduzida no costume dos povos por São Francisco de
Assis. A festa da Epifania, dia de guarda no calendário litúrgico, já não mais
é respeitada e com ela desaparecerem outras tradições da nossa gente, trazidas
da Península Ibérica pelos nossos antepassados, como a folia de Reis, Reisados
e tantos outros autos folclóricos, cultuados em poucas regiões do país.
(*) Gimenez,
Armando. "Reis Magos, santos esquecidos dentro das tradições do
Natal". Diário de São Paulo, São Paulo, 5 de janeiro 1958
Cortesia
do site Jangada Brasil -
www.jangadabrasil.com.br
Especial
de Natal - Ano VI - Edição 61 - Dezembro 2003
Oração
Senhor Jesus, peço-vos dar-me olhos sensíveis aos sinais que falam de vossa presença Redentora, para que, como os Santos Reis Magos, possa adorar-vos sempre pelo mistério de vossa Encarnação gloriosa. Amém.
Senhor Jesus, peço-vos dar-me olhos sensíveis aos sinais que falam de vossa presença Redentora, para que, como os Santos Reis Magos, possa adorar-vos sempre pelo mistério de vossa Encarnação gloriosa. Amém.
Jaculatória: Menino
Jesus, nascido em Belém, rogai por nós.
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