Nos mosteiros belgas do século XI havia o
costume de admitir para o coro as jovens de boas famílias da alta burguesia. As
outras, incultas, entravam somente na qualidade de conversas. Recebiam ajuda de
famílias importantes, como os Brabantes ou Tirlemont. Beatriz nasceu no seio
desta última família.
Nós conhecemos a vida de Beatriz por uma
biografia escrita por um capelão do Mosteiro de Nazaré, no século XIII. Ele não
chegou a conhecê-la, mas para esta biografia se serviu dos escritos dela mesma
em flamengo medieval: o Livro da vida,
que era um diário seu e recolhia os 20 anos anteriores a sua estrada no
Mosteiro de Nazaré; são notas que escreveu sendo já priora e seu tratado
místico chamado Dos sete modos de Amor.
Somente o seu tratado chegou até nós. O anônimo capelão se serviu também, para
escrever a biografia, dos dados comunicados pelas monjas que a conheceram,
fundamentalmente das recordações da irmã de Beatriz, Cristina, a qual lhe
sucedeu como priora.
Beatriz
era a mais nova de seis irmãos e nasceu em Tirlemont, a uns 20 km de Louvaine,
na diocese de Liége, Bélgica, no ano 1200. Seu pai, o Beato Bartolomeu, ao
falecer sua esposa ingressou na Ordem de Cister como leigo cisterciense. Ele
ajudou a construir outros três mosteiros de monjas, como o de Oplinter e o de
Nazaré.
A mãe de Beatriz a instruiu pessoalmente;
com cinco anos ela era capaz de recitar integralmente o saltério de Davi. Aos
sete anos, ao morrer sua mãe, seu pai a enviou à escola das beguinas de Leau
(2) para que estas lhe ensinassem as virtudes e ao mesmo tempo frequentava uma
escola da mesma cidade de Zoutleeuw, onde aprendeu as artes liberais.
Permaneceu nela um ano, mas não chegou a acabar os estudos de artes liberais
que compreendiam gramática, retórica e dialética.
Aos dez anos ingressou como oblata no
mosteiro de Bloemendaal ou Florival, que havia passado a ser cisterciense em
torno do ano 1210 e onde seu pai era o administrador. Ali continuou o trivium e
o quadrivium que consistia em música, aritmética, geometria e astronomia.
Neste período o pai de Beatriz ingressou
como leigo em Bloemendaal e seu irmão Wickbert ingressou também como converso;
suas irmãs Cristina e Sibila entraram na mesma comunidade em 1215. Quando
Bloemendaal fundou Maagdendaal, perto de Tienen, o pai de Beatriz e os irmãos
desta foram enviados para aí em 1221. Neste mosteiro Beatriz realizou sua
profissão solene e foi consagrada virgem pelo Bispo.
Conta-se
que nos primeiros anos ocorreu com Beatriz o que aconteceu com São Bernardo: ao
meditar a Paixão de Cristo, que deu a vida por nós na cruz, entregava-se a
penitências excessivas na ânsia de se imolar por amor dEle. São Bernardo
lamentaria mais tarde tais excessos da juventude, pois teve que lutar toda a
vida para manter-se em pé. Tal se passou com Beatriz, que se entregou a severas
austeridades e mais tarde sentiu o peso daquelas penitências indiscretas.
Logo
após professar, enviaram-na ao mosteiro de La Ramée para se aperfeiçoar na
caligrafia e na confecção de iluminuras de manuscritos, tornando-se uma
excelente mestra na arte de fazer pergaminhos ilustrados. Em La Ramée
encontrou-se com Santa Ida de Nivelles, que lhe serviria de mestra e como mãe
espiritual, graças a sua experiência nas vias de Deus. Beatriz percebeu que
esta religiosa se esmerava em atendê-la e ao lhe perguntar por que dedicava
tanto tempo em ajudá-la espiritualmente, a Santa religiosa respondeu que era
porque via claramente que Deus a havia eleito para grandes coisas. Tais
palavras proféticas se cumpriram inteiramente.
Em 1235, Maagdendaal fez a fundação de
Nazaré. Em 1236, Beatriz se translada para este novo mosteiro e exerceu ali a
função de mestra de noviças durante dois anos; mais tarde, foi eleita priora.
Beatriz
procurou empenhadamente seguir os passos de sua mestra, vivendo uma
espiritualidade centralizada toda no amor entendido como meio pelo qual Deus se
manifesta às criaturas e a quem estas podem corresponder. Como resultado de sua
experiência mística, escreveu uma preciosa obra intitulada Dos sete modos de praticar o amor, a
qual, segundo aqueles que a estudaram a fundo, é um tratado de uma beleza
ímpar.
“Seu estilo é sóbrio e suas frases elegantes;
sua exposição límpida e clara; a prosa é doce e ágil com lindas rimas muito
naturais. A autora possui uma inteligência excepcional, consegue expressar
magistralmente, no plano da forma e do pensamento, suas experiências místicas
extraordinárias. O tratado é muito sintético, cada palavra tem seu peso e seu
valor... deixando-nos seduzir por sua mensagem através da beleza literária do
texto que, mais do que outra coisa, expressa a beleza de sua alma e é
testemunha de sua busca absoluta do amor”.
Em sua vida espiritual, Beatriz se ocupou
do estudo da Santíssima Trindade e para isso manejava cópias de livros sobre
este tema, e isso nos mostra “a
acessibilidade nos mosteiros cistercienses de obras de conteúdo teológico e
recorda ao mesmo tempo o útil ofício de copista aprendido em la Ramée”. (3)
Dos
sete modos de Amor é o compêndio da vida de Beatriz. Ela lê toda sua vida à
luz do amor de Deus e a reconhece nesta palavra, minne (4). Minne leva em
si a realidade divina e a experiência humana. “O amor de Deus – de quem Beatriz fala – é seu amor por Deus, no qual, paradoxalmente, Deus mesmo se dá a
conhecer. Fazer isto evidente sete vezes é sua finalidade e sua tarefa”.
(5)
No segundo livro de sua Vida, aumentam
estas experiências que vão se centrando na união mística; a mais significativa
foi a ocorrida em Maagdendaal no ano 1232, onde Beatriz vê o Senhor que se
aproxima dela e atravessa sua alma com uma lança ardente. Existe o simbolismo
entre a lança que penetrou o Lado de Cristo em sua Paixão e a lança que penetra
a alma de Beatriz e que lhe anuncia a união amorosa com o Amado, esposa eleita
dos Cânticos.
Em Nazaré, onde por mais de trinta anos
serviria a comunidade como mestra de noviças e segunda superiora, desde o mês
de julho de 1231 até 1268, ano de sua morte, lhe foi concedido o tempo de amar.
Beatriz expressou, de maneira magistral, sua própria síntese, regalando-nos um
admirável canto lírico de amor místico, como belamente definiu o Padre Mikkers
seu pequeno tratado das sete maneiras do santo Amor de Deus.
Ela escreveu ainda outras obras. Suas
leituras preferidas eram as Sagradas Escrituras e os tratados sobre a
Santíssima Trindade.
Beatriz faleceu em 29 de agosto de 1268.
Seus restos mortais tiveram que ser escondidos para que os calvinistas não os
profanassem e se acredita que seu corpo foi transladado por anjos para
Lier.
Etimología: Beatriz
= a que faz feliz, do latim.
Cidade de Lier |
Fontes:
www.santiebeati/it
Ir.
Marina Medina/Mosteiro Cisterciense da Santa Cruz–Espanha
http://caminocisterciense.blogspot.com.br/2011/03/beatriz-de-nazaret.html - traduzido por José Eduardo
Câmara de Barros Carneiro, para a Abadia Nossa Senhora Aparecida, das Monjas
Cistercienses de Campo Grande.
Notas:
(1) Beatriz de Nazaret, Los siete modos de amor. II modo, Barcelona 1999, p. 287.
(2)
As beguinas eram uma associação de mulheres católicas, contemplativas e ativas,
que dedicaram sua vida tanto na defesa dos desamparados, enfermos, mulheres,
crianças e anciãos, como em um brilhante labor intelectual. Organizavam a ajuda
aos pobres e aos enfermos nos hospitais, ou aos leprosos. Trabalhavam para se
manter e eram livres de deixar a associação a qualquer momento para se casar.
(3) V. Cirlot, b. garí, La Mirada interior.
Escritoras místicas y visionarias en la Edad Media, Barcelona 1999, p. 118-119.
(4)
Minne (feminino) é originariamente o pensamento (vivo em alguém) da pessoa
amada.
(5) Liliana Schiano Moriello, Beatriz de Nazaret
(1200-1268). Su persona, su obra, Cistercium 219 (2000) 442.
Linda historia ,
ResponderExcluirVou pintar um quadro de santa beBeatr de Nazare para uma Capela
Será un presente
Preciso de una doto ou alguma pintura de santa Beatriz de Nazare para Ter una ideia e referencia para pintar
Se tiverem como me ajudar , agradeço de coração