Segundo a primeira versão da
legenda de Santa Mustiola contida em uma passio,
que remonta à primeira metade do século VIII, ela teria vindo de Ilíria com seu
primo, o imperador Marcos Aurélio Cláudio, o Gótico, um nativo da Dalmácia
elevado ao trono no ano 268, que reinou apenas dois anos. À sua morte, o Senado
romano declarou imperador Quintilio, irmão de Cláudio, mas o exército,
aclamando imperador Aureliano, fez reinar o novo imperador, que morreu dezessete
dias depois de sua eleição.
Nos vários documentos Mustiola por vezes
aparece como uma matrona rica e benemérita; ou, com mais frequência, ela é
mencionada como uma jovem doce, mas intrépida na fé. Assim ela é imaginada pelos
seus devotos e é representada por pintores.
Chegou um momento em que, sendo uma
testemunha embaraçosa e também, talvez, já cristã, ela ficou numa situação
difícil em Roma. Aqui começa sua jornada para Chiusi. Alguns dizem que ela
deixou Roma perseguida, outros que inspirada por Deus, outros ainda porque não
se sentia bem na corte, queria se retirar na cidade onde aparentemente tinha
propriedades e, passando por Sutri, se encontrou com Irineu, diácono que se
dedicava ao sepultamento dos mártires e à custódia de seus túmulos. De acordo com outras versões,
o acompanhante de Mustiola seria Felix. O que é certo é que em Sutri há um
culto à Santa Mustiola, onde é chamada ‘dulcíssima’.
Quanto tempo durou a viagem é impossível determinar.
Em Cesareto, perto de Panicale, a tradição indica uma pedra sobre a qual a Santa
teria deixado a marca de seu pé indicando sua passagem pelo local.
Na cidade de Chiusi a Santa teria vivido
ajudando os pobres e, sobretudo, visitando os prisioneiros dando-lhes apoio
espiritual e material. De acordo com uma versão tardia da legenda, ela teria
levado para Chiusi um anel de noivado da Virgem Maria, oferecendo-o ao culto da
cidade.
A travessia do Lago
O milagre mais conhecido da Santa é o da
travessia do lago sobre o seu manto. O particular deste milagre é a trilha que
ela deixou na passagem pela água e é dito que ele reaparece na véspera de sua
festa, isto é, na noite do dia 2 de julho. Perseguida por soldados romanos,
Mustiola se viu diante das águas do Lago de Chiusi, que barravam o seu caminho.
A Santa então estendeu seu manto sobre as ondas, se colocou em cima e
facilmente atravessou as águas, escapando da fúria dos perseguidores.
O martírio
Em Chiusi, onde ela fixou morada, ocorreu
o martírio que as passio narram segundo
um ritual que é igual aos mártires na estrutura e diferente em detalhes, como
no caso da tortura. O instrumento do martírio de Mustiola é o flagelo. Neste
suplício a vítima é amarrada a uma estaca e é golpeada até a morte com correias
tendo nas pontas bolas de chumbo (é o mesmo instrumento usado na Paixão de
Nosso Senhor, quando Ele foi flagelado, amarrado à uma coluna, que ainda hoje é
venerada).
Na iconografia, Mustiola traz às vezes
este instrumento de tortura junto de si, como é usado nas representações de
vários mártires incorporarem o objeto de seu martírio. Com este flagelo ela é
representada numa pintura do século XVIII. Em uma pintura sobre tela de 1774, da
igreja de Santa Mustiola de Arezzo, o carrasco atinge a Santa com este
instrumento de tortura aos pés de um Crucifixo.
O culto
A
igreja dedicada a Santa Mustiola ficava em Montepulciano. Em 1794 a paróquia de
Santa Mustiola foi transferida para a Igreja de Santo Agostinho e o antigo
edifício desapareceu. Que Montepulciano teve um culto vivo a Santa Mustiola
também atesta um tríptico feito por Taddeo di Bartolo localizado no altar-mor
da Catedral, onde a santa é representada com o anel.
Outro lugar de culto à Santa está
localizado em Arezzo. O culto à Santa se espalhou ao longo das rotas das
antigas vias romanas. Pesaro teve uma especial devoção à Santa, a cuja
intercessão a cidade deve a sua salvação numa vitória militar. Em 1327 celebrações
foram decretadas em honra da Santa.
Em Siena existia a associação de
sapateiros, próximo do antigo Mosteiro dos Camaldulenses, que a partir de 1692
estão localizados na Academia dos Fisiocráticos dos Museus, tendo Santa
Mustiola como patrona. Em outros lugares existem, de acordo com diferentes
tradições, anéis preservados como Anel da Virgem.
As Catacumbas
Na colina onde está localizada a Catacumba de Santa Mustiola, que hoje pode ser visitada, foi construída uma basílica entre os séculos IV e V, mais tarde restaurada por Gregório, duque lombardo de Chiusi. Caindo em desuso, no final de 1700 foi demolida completamente e as pedras foram usadas como material de construção para outros edifícios.
Na colina onde está localizada a Catacumba de Santa Mustiola, que hoje pode ser visitada, foi construída uma basílica entre os séculos IV e V, mais tarde restaurada por Gregório, duque lombardo de Chiusi. Caindo em desuso, no final de 1700 foi demolida completamente e as pedras foram usadas como material de construção para outros edifícios.
A Santa foi provavelmente enterrada ali no
ano 274 e os túneis serviram como cemitério de cristãos, talvez para
protegê-los das invasões bárbaras.
Além da Catacumba de Santa Mustiola há em
Chiusi a Catacumba de Santa Catarina da Alexandria. As catacumbas foram
devastadas e delas se perdeu a memória até que ao cavar um poço, em 1634, foram
encontradas. Negligenciadas por um longo tempo, foram restauradas e preservadas,
oferecendo-se ao interesse e religiosidade dos visitantes.
A cripta é talvez a parte mais antiga: um
túmulo primitivo de origem etrusca foi utilizado para os primeiros enterros e dali
expandiu-se em um complexo de vastas galerias.
O anel da Virgem
Como mencionado, Mustiola trouxe de Roma
um anel precioso que ela ofereceu para o culto dos cristãos na cidade de
Chiusi. Tratava-se do anel que São José havia oferecido a Maria Ssma. por ocasião
de seu noivado.
Sobre este anel a discussão foi muito acesa:
alguns diziam que o anel teria chegado a Chiusi no tempo de Oto III, em 989, e
venerado na Basílica de Santa Mustiola (cerca de 2 k de Chiusi) até 1350,
quando foi transferido para a Catedral de São Secondiano.
Como a custódia da relíquia era alvo de contínuos
litígios entre os Cônegos de Santa Mustiola e os da Catedral, em 1420, ela foi
transferida pelo Bispo Pietro Paolo Bertini da Catedral para a Igreja de São
Francisco dos Frades Menores Conventuais. Entretanto, não permaneceu muito
tempo ali: em 1473 o Frade Vinterio de Moguncia retirou-o da urna onde estava mantido
e levou-o para Perugia, criando um longo conflito e uma disputa entre esta
cidade e a cidade de Chiusi, que nunca mais o recuperou. Ainda hoje o Anel
Santo está na Catedral de São Lourenço, em Perugia.
Não parece que o anel fizesse parte do
casamento judaico do tempo e, portanto, estamos falando de um símbolo, não de
um achado arqueológico. Trata-se de um anel de ônix, a parte superior tem uma
forma de modo a receber uma gema de preço mais elevado, ou perdeu algum tipo de
ornamento. O anel não era algo a ser usado todos os dias, dado o tamanho, a
fragilidade, o peso.
A história desta subtração é outra
história obscura e fascinante, muito importante para a disputa dos Cônegos de
Chiusi, porque há uma estreita ligação entre Mustiola e o anel.
O fato é que Mustiola e o anel formam um
nó simbólico, tão obscuro quanto evocativo, que responde a uma razão profunda da
religiosidade, não muito diferente da forma como estão unidos Longino e a lança
que perfurou o lado de Cristo, Santo André e o Santo Cinto da Virgem, Verônica
e seu véu, e outros, em torno dos quais se adensa uma forma de venerar, de
rezar, de tocar o inefável. O anel remete ao casamento místico de Mustiola com
Cristo, como o de Santa Catarina de Alexandria, e é um sinal de ligação entre o
tempo e a eternidade, o material e o transcendente, capaz de devolver a visão
espiritual para aqueles que a perderam, como os olhos de Santa Lúcia.
O culto do Santo Anel é praticado em
muitos outros lugares, que não estão sempre conectados a Santa Mustiola,
enquanto venerada em Chiusi, onde muitas vezes se faz menção ao Anel.
Fonte:http://www.toscanaoggi.it/Cultura-Societa/Mustiola-la-santa-che-cammino-sulle-acque#sthash.IUNrw1aD.dpuf
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